A língua em foco

No livro Estudos de língua portuguesa; uma visão crítica, recém-lançado pela Zás Editora, Romero Pais dos Santos reúne um pouco de sua experiência, haurida em mais de três décadas de exercício do magistério.

Quem procurar na obra informações sobre o novo Acordo Ortográfico encontrará de forma bem didática as normas, que estão vigorando desde 2009. Preocupado, entretanto, com a fase de transição entre as ortografias, o autor não se furta, também, a apresentar as regras antigas, de sorte que o leitor poderá fazer a comparação entre os dois sistemas gráficos.

Quem pretender caminhar por vários tópicos de gramática descritiva encontrará nas páginas do livro uma boa parceria. Sem a preocupação de escrever uma gramática, Pais do Santos viaja pelos temas da concordância, da regência, da colocação, das classes de palavras, priorizando, em cada um deles, o que de fato é mais relevante à prática cotidiana da língua escrita de padrão culto.

Quem, por sua vez, se desencanta com certas recomendações dos gramáticos por julgá-las distantes da realidade concreta da comunicação linguística terá, certamente, uma interação proveitosa com alguns tópicos do livro.

Ancorado em renomados gramáticos, filólogos e linguistas, Pais dos Santos vem sancionar algumas construções proscritas mesmo em trabalhos mais recentes. Assim, por exemplo, após descrever que o verbo “namorar” não rege preposição, abre o autor espaço para Antenor Nascentes e J. Leite de Vasconcelos, que abonam o “namorar com”, essa construção tão simpática aos brasileiros, quer na língua falada, quer na língua escrita.

E vamos lendo e vamos aprendendo que “namorar com” já é gramatical, que o pronome “cujo” está morrendo, que “aluga-se casas” não está errado, que “eu custo aceitar” é correto, que “prefiro mais” não é o fim!...

Aos não especialistas, aos quais Romero dirige a obra, ficará também a educativa lição de que o padrão linguístico recomendado se sujeita às pressões do uso, sendo, portanto, mutável. Não deixa de ser alentador saber que nossos “erros” de hoje serão os “acertos” de amanhã...

Aos especialistas, por outro lado, a obra revela-se também muito útil, por propiciar a revisão sempre necessária dos assuntos em pauta e instigar a leitura dos autores citados ao longo do texto.

Texto publicado no jornal JF Hoje, em 15/07/2010