Resenha de "Robinson Crusoé"

RESENHA DE “ROBINSON CRUSOÉ”
Miguel Carqueija

Resenha do romance “Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe. Editora Iluminuras, São Paulo-SP. 2004. Tradução: Celso M. Paciomik.

Há quem considere o inglês Daniel Defoe (1660-1731) o precursor da ficção moderna. Seu livro mais conhecido, este “Robinson Crusoé”, entrou para o imaginário da humanidade, a ponto de paródias aparecerem em histórias em quadrinhos — lembro-me de uma com o Patolino — e de a gente em geral ouvir referências desde a infância. Não faltam versões cinematográficas, é claro. Mas o fato é que só agora eu pude ler o livro.
Algo que ocorre muito: clássicos literários que a gente ouviu falar a vida inteira, quando finalmente lemos não é bem o que esperávamos. Por exemplo, além do protagonista e do Sexta-Feira acabam surgindo muitos outros personagens. A forma narrativa é moderna até certo ponto, detalhista, mas ressente-se da falta de diálogos. Estes são substituídos por extensos parágrafos onde se diz o que o protagonista falou ou escutou dos outros. Além disso muitas vezes os nomes dos personagens são omitidos. Defoe atribui a existência de tigres na África e ursos na América do Sul. Na verdade o único urso sul-americano, o ucumári ou urso de óculos, é pequeno e, ao que consta, inofensivo. A não ser, é claro, que nos séculos XVII e XVIII ainda houvessem outros.
Detalhe em geral não lembrado, e que julgo positivo, é que o livro valoriza a religião cristã. Robinson reconhece ter agido mal com os pais, aos quais abandonou para sempre, e ter vivido sem pensar em Deus até se ver na terrível situação de náufrago numa ilha desabitada.
É interessante a descrição dos esforços de Robinson para sobreviver com o que pôde trazer do navio sinistrado, seu trabalho com as ferramentas e com sua plantação particular, sua criação de cabras. Mais para o fim do livro, porém, começam a ocorrer umas peripécias com canibais do continente e marujos amotinados, numa sequência não de todo coerente.
No cômputo geral uma obra que vale a pena ler.

Rio de Janeiro, 6 de maio de 2017.