O "Discurso do método" de Descartes

O “DISCURSO DO MÉTODO” DE DESCARTES
Miguel Carqueija

Resenha do livro “Discurso do método”, por René Descartes. Título original: “Discours de la méthode”. Tecnoprinti Gráfica, Rio de Janeiro-RJ, sem data. Tradução, prefácio e notas: João Cruz Costa.

Este célebre ensaio do conhecido filósofo francês do século XVII surpreende pela simplicidade do raciocínio que até, de certa forma, decepciona. A preocupação do autor parece estar centrada na explicação do seu método de raciocínio e apuração da verdade sobre o mundo ao redor. Descartes estudou muito mas também — o que parece dissonante — serviu ao exército do Príncipe de Nassau, holandês. Apesar dessa experiência militar percebe-se tratar-se de um homem do pensamento.
De certa forma o volume trata das memórias de Descartes, pelo menos as memórias de sua vida intelectual e das escolhas que fez nesse mister. “Estudava muito a Eloquência e tinha paixão pela Poesia, mas julgava que tanto uma como a outra eram mais dons do espírito que fruto do estudo. (...) Agradavam-me principalmente as Matemáticas, por causa da certeza e da evidência de suas razões; entretanto, ainda não reparara na sua verdadeira utilidade, e, pensando que elas só serviam às artes mecânicas, admirava-me de que, sendo seus fundamentos tão firmes e sólidos, nada sobre eles se tivesse construído de mais importante.” (pg. 65-66)
O autor discorre, de fato, sobre amplos setores do pensamento humano, da Teologia e Filosofia até a Medicina. Seu livro é a busca de um método para chegar à certeza da verdade. Por isso até dos sonhos ele fala, e dá algum espaço à Cosmologia.
Descartes estabeleceu quatro regras em seu método, que ele chama “preceitos”. Diz ele: “O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que não conhecesse como evidente, isto é, devia evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; e nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente no meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião de o por em dúvida.”
O segundo preceito consistia em dividir o problema examinado em suas várias partes reconhecíveis. O terceiro, começar o raciocínio pelos detalhes mais simples e ir subindo até os mais complexos. E conclui:
“E o último — fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ficasse certo de nada omitir.”
Como se vê são regras de Hermenèutica, ou a arte de não se deixar enganar.
A linguagem é simples e o livro é fácil e rápido de ler, sendo uma leitura importante de efetuar.

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2016.