O anjo decepcionante
O ANJO DECEPCIONANTE
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Memórias da rosa”, de Consuelo de Saint-Exupèry. Editora Bom Texto, Rio de Janeiro-RJ, 2000. Tradução de Luiz Cavalcante de M. Guerra. Prefácio de Alain Viacordelet. Título original: “Mémoires de la rose”, Librairie Plon, Paris, França, 2000. Capa e projeto gráfico: Glenda Rubinstein. Orelhas: Hélio de Almeida Fernandes.
(Nota: este livro fala de fatos intimos da vida de um casal famoso, pela narração da viúva. É bem escrito e não é agressivo ou escandaloso, mas ficamos sem saber a versão do escritor.)
A confiança que se tem nos homens não deve ser ilimitada. Musas e ídolos podem decepcionar se conhecidos em sua intimidade.
A esposa e viúva do célebre aviador e ensaísta francês, que foi piloto de guerra pela libertação da França e desapareceu com seu avião em junho de 1944, conta um relato chocante em torno de um homem que sabia ter o seu encanto e cujos textos eram sublimes, mas que se revela um marido ausente, omisso, prepotente e alheado. Um homem que, durante o noivado, perdia um tempo enorme tentando fazer a cabeça de parentes provincianos que não aceitavam o seu casamento com uma centro-americana (salvadorenha). E nesses encontros de família Consuelo era excluída, julgada a distância.
Nos anos que se seguiram, ainda que o casamento se realizasse, Consuelo carregou uma pesada cruz. Infidelidade, períodos de separação, e quando estavam juntos as constantes festas e visitas destruíam o sossego, a privacidade e as finanças do casal. Saint-Exupèry não sabia lidar com dinheiro, não sabia tratar a esposa com igualdade e no entanto carecia dela. Consuelo o amou até o fim e sofreu até o fim. Para completar, Saint-Exupèry em seus vôos por diversas vezes se acidentou, ao ponto mesmo de ficar com os órgãos fora do lugar e sobreviver por milagre.
Consuelo fala pouco sobre os livros do marido, quase nada esclarece a respeito. Pouco fala nas datas e menos ainda nas circunstâncias do desaparecimento do autor de “O Pequeno Príncipe”, “Cidadela” e “Correio Sul”. Revela porém que Antoine, arrependido por não lhe haver dedicado “O Pequeno Príncipe”, planejava uma continuação (afinal frustrada pela tragédia) onde o principezinho ficaria afinal com a sua rosa... pois a rosa que fica abandonada no asteroide B-612, enquanto o Príncipe circulava pelo Cosmos, era na verdade Consuelo...
Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2017.
O ANJO DECEPCIONANTE
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Memórias da rosa”, de Consuelo de Saint-Exupèry. Editora Bom Texto, Rio de Janeiro-RJ, 2000. Tradução de Luiz Cavalcante de M. Guerra. Prefácio de Alain Viacordelet. Título original: “Mémoires de la rose”, Librairie Plon, Paris, França, 2000. Capa e projeto gráfico: Glenda Rubinstein. Orelhas: Hélio de Almeida Fernandes.
(Nota: este livro fala de fatos intimos da vida de um casal famoso, pela narração da viúva. É bem escrito e não é agressivo ou escandaloso, mas ficamos sem saber a versão do escritor.)
A confiança que se tem nos homens não deve ser ilimitada. Musas e ídolos podem decepcionar se conhecidos em sua intimidade.
A esposa e viúva do célebre aviador e ensaísta francês, que foi piloto de guerra pela libertação da França e desapareceu com seu avião em junho de 1944, conta um relato chocante em torno de um homem que sabia ter o seu encanto e cujos textos eram sublimes, mas que se revela um marido ausente, omisso, prepotente e alheado. Um homem que, durante o noivado, perdia um tempo enorme tentando fazer a cabeça de parentes provincianos que não aceitavam o seu casamento com uma centro-americana (salvadorenha). E nesses encontros de família Consuelo era excluída, julgada a distância.
Nos anos que se seguiram, ainda que o casamento se realizasse, Consuelo carregou uma pesada cruz. Infidelidade, períodos de separação, e quando estavam juntos as constantes festas e visitas destruíam o sossego, a privacidade e as finanças do casal. Saint-Exupèry não sabia lidar com dinheiro, não sabia tratar a esposa com igualdade e no entanto carecia dela. Consuelo o amou até o fim e sofreu até o fim. Para completar, Saint-Exupèry em seus vôos por diversas vezes se acidentou, ao ponto mesmo de ficar com os órgãos fora do lugar e sobreviver por milagre.
Consuelo fala pouco sobre os livros do marido, quase nada esclarece a respeito. Pouco fala nas datas e menos ainda nas circunstâncias do desaparecimento do autor de “O Pequeno Príncipe”, “Cidadela” e “Correio Sul”. Revela porém que Antoine, arrependido por não lhe haver dedicado “O Pequeno Príncipe”, planejava uma continuação (afinal frustrada pela tragédia) onde o principezinho ficaria afinal com a sua rosa... pois a rosa que fica abandonada no asteroide B-612, enquanto o Príncipe circulava pelo Cosmos, era na verdade Consuelo...
Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2017.