É sério? Philomena Borges

É SÉRIO? PHILOMENA BORGES
Miguel Carqueija


Resenha do romance “Philomena Borges”, de Aluísio Azevedo. Livraria Martins Editora, São Paulo-SP, em convênio com o Instituto Nacional do Livro-MEC, 1973. Introdução: Antonio Candido. Capa: Luís Diaz.

Aluísio Azevedo é um autor bastante trágico do romanceiro nacional, por isso causa bastante surpresa este romance que mais parece uma pantomina, uma comédia, com muitas cenas ridículas, apesar de um fundo geral bastante triste e um desfecho inevitavelmente desastroso.
Com efeito a história gira em torno de um carioca de Paquetá, João Borges, empreiteiro ou mestre de obras, homem rico e de coração bondoso, além de fisicamente muito forte e apelidado “João Touro”. Solteirão até depois dos quarenta anos afinal se enamora e se casa com certa Philomena, bem mais jovem que ele. João está entusiasmadíssimo com sua paixão mas um de seus amigos, o Barroso, tenta alertá-lo para a entalada em que vai se meter:
“Enlouqueceste, homem de Deus?! Não vês que aquilo não é mulher que te convenha?! Não desconfias pedaço d’asno, que aquele sirigaita e mais a raposa da mãe estão a farejar-te os cobres?! Não compreendem que elas te querem, porque tens para mais de quinhentos mil contos?!”
Fora essa curiosidade do sinal de interrogação seguido pelo de exclamação, notamos que Barroso estava certo. Toda a história é uma grotesca comédia de erros regada a frases vulgares e onde o pobre João Touro, incapaz de se revoltar contra uma esposa frívola, gastadora e autoritária, irá de humilhação em humilhação, no país e no exterior, vivenciando situações ridículas onde terá até mesmo de bancar o silvícola, mudar de hábitos, usar “pastinhas” no cabelo (no meu tempo de criança chamavam isso de “gumex”) e por aí afora, além de dissipar sua fortuna e cair na miséria.
O romance escrito em tom de comédia acaba sendo uma tragédia e tanto, encaminhando-se para o desastre final.
Não está entre os meus romances favoritos.

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2017.