Romances de desesperação
ROMANCES DE DESESPERAÇÃO
Miguel Carqueija
Resenha do romance “Manon Lescaut”, do Abade Prévost. W.M. Jackson Inc. Editores, São Paulo-SP, 1963. Grandes Romances Universais volume 2 (com “Os sofrimentos de Werther, de Goethe).
Livros que a gente ouviu falar a vida inteira mas nunca leu.
Assim era para mim “Manon Lescaut”, do Abade Prévost, eclesiástico francês que assinava romances. Segundo a nota biográfica que acompanha esta edição, “Manon Lescaut”, que saiu em 1731, representava uma novidade na época: “a pintura de uma grande paixão, uma paixão enlouquecedora que absorve e desgraça dois entes.” Com o tempo, porém, essas histórias de paixões irracionais e personagens que se desconstroem e se auto-destroem tornou-se lugar-comum e não é à toa que “Manon Lescaut” é citado várias vezes em “A dama das camélias”, de Dumas Filho.
Os dois romances ostentam o mesmo defeito: apresentam o fim da história antes do seu início, prejudicando amplamente o interesse. Além disso confesso que não tenho muita paciência com personagens totalmente desprovidos de noção, como este Monsieur des Grieux, que ao longo da história não demonstra a mínima prudência e racionalidade em seus atos e só se arrepende tardiamente; e apesar da dureza dos costumes da época percebe-se que ele e a inconstante Manon, apesar de tudo, poderiam ter-se casado e seu destino seria outro; afinal esse fôra o plano original quando da fuga do jovem casal, cujos pais, dele e dela, destinavam à vida religiosa. Ao fugirem, diz ele, “sairíamos da hospedaria, dirigindo-nos diretamente a Paris, onde nos casaríamos tão depressa lá chegássemos.” Adiante porém ele admite: “Nossos projetos de casamento foram esquecidos em Saint Denis; violamos os direitos da Igreja e achamo-nos esposos sem a menor reflexão.” Isso e a estroinice dos dois estabeleceu a rota de desgraças que é o romance.
É de fato um livro escrito com habilidade, mas que se destina a quem aprecia narrações depressivas.
Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2017.
ROMANCES DE DESESPERAÇÃO
Miguel Carqueija
Resenha do romance “Manon Lescaut”, do Abade Prévost. W.M. Jackson Inc. Editores, São Paulo-SP, 1963. Grandes Romances Universais volume 2 (com “Os sofrimentos de Werther, de Goethe).
Livros que a gente ouviu falar a vida inteira mas nunca leu.
Assim era para mim “Manon Lescaut”, do Abade Prévost, eclesiástico francês que assinava romances. Segundo a nota biográfica que acompanha esta edição, “Manon Lescaut”, que saiu em 1731, representava uma novidade na época: “a pintura de uma grande paixão, uma paixão enlouquecedora que absorve e desgraça dois entes.” Com o tempo, porém, essas histórias de paixões irracionais e personagens que se desconstroem e se auto-destroem tornou-se lugar-comum e não é à toa que “Manon Lescaut” é citado várias vezes em “A dama das camélias”, de Dumas Filho.
Os dois romances ostentam o mesmo defeito: apresentam o fim da história antes do seu início, prejudicando amplamente o interesse. Além disso confesso que não tenho muita paciência com personagens totalmente desprovidos de noção, como este Monsieur des Grieux, que ao longo da história não demonstra a mínima prudência e racionalidade em seus atos e só se arrepende tardiamente; e apesar da dureza dos costumes da época percebe-se que ele e a inconstante Manon, apesar de tudo, poderiam ter-se casado e seu destino seria outro; afinal esse fôra o plano original quando da fuga do jovem casal, cujos pais, dele e dela, destinavam à vida religiosa. Ao fugirem, diz ele, “sairíamos da hospedaria, dirigindo-nos diretamente a Paris, onde nos casaríamos tão depressa lá chegássemos.” Adiante porém ele admite: “Nossos projetos de casamento foram esquecidos em Saint Denis; violamos os direitos da Igreja e achamo-nos esposos sem a menor reflexão.” Isso e a estroinice dos dois estabeleceu a rota de desgraças que é o romance.
É de fato um livro escrito com habilidade, mas que se destina a quem aprecia narrações depressivas.
Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2017.