G. K. Chesterton - O defensor/Tipos variados (Trechos)

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Pela concepção moderna atual, o lugar do herói é em uma tragédia, e a única espécie de poder que lhe é sistematicamente negado é o poder de ter êxito.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 143)

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Não há nada a que um homem deva se entregar com mais fé e abandono do que ao riso genuíno [...]. A comédia deve ser tão oca quanto uma máscara sorridente. É um refúgio do mundo e não, propriamente falando, parte dele. Seu humor é uma fina e brilhante camada de gelo sobre as águas eternas da amargura.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 144)

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A alegria é uma das flores naturais do mundo, e não uma das exóticas.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 145)

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Não é a canção que é estreita ou artificial, é a conversa que é um tentativa débil e vacilante de cantar [...]. A essência da tragédia é um colapso ou declínio espiritual, e na grande peça francesa o sentimento espiritual eleva-se incessantemente até a última fala.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 146)

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Primeira qualidade essencial a um grande homem: a de não ser compreendido por seus oponentes [...]. Outra qualidade essencial – a de não ser compreendido por seus admiradores.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 155)

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É estranho que os homens consigam ver sublimes inspirações nas ruínas de uma velha igreja, e nenhuma nas ruínas de um homem.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 156)

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Toda paisagem ou pedaço de cenário tem uma alma: e aquela alma é uma história [...]. As ideias são os verdadeiros incidentes – nossas imaginações são nossas aventuras.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 159)

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A aristocracia usa o forte a serviço do fraco; a escravidão usa o fraco a serviço do forte.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 167)

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O universo é como todas as suas partes; temos de olhá-lo repetida e habitualmente antes de conseguirmos vê-lo. Apenas quando o vimos pela centésima vez é que o vemos pela primeira. Quanto mais consistentemente as coisas são contempladas, mais tendem a unificar-se e, portanto, a simplificar-se. A simplificação de qualquer coisa é sempre sensacional. Assim, o monoteísmo é a mais sensacional das coisas: é como se olhássemos por muito tempo para um desenho cheio de objetos desconexos e, subitamente, com assombroso estremecimento, eles se juntassem em um enorme rosto que nos encarasse.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 170)

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Todos os grandes escritores do nosso tempo representam, de uma forma ou de outra, essa tentativa de restabelecer a comunicação com o elementar, ou, como se diz às vezes de forma mais grosseira e falaciosa, de retornar à natureza. [...] Imaginar que podemos ver a natureza, especialmente a nossa própria natureza, face a face, é uma tolice; é mesmo uma blasfêmia. [...] A grandiosidade da natureza é que ela é onipotente e invisível, que talvez esteja nos conduzindo mais intensamente quando pensamos que menos nos nota.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. pp. 170-171)

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A verdadeira diferença entre a ética da grande arte e a ética da arte manufaturada e didática reside no simples fato de que a má fábula tem uma moral, ao passo que a boa fábula é uma moral.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. pp. 172-173)

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O cristianismo de Tolstoi é, quando o analisamos, um dos mais emocionantes e dramáticos incidentes de nossa civilização moderna. Representa um tributo mais sensacional à religião cristã do que as quebras de selos ou a queda das estrelas. [...] A negação de nossa própria época é, na realidade, uma ruptura do cosmos teológico, um Armageddon, um Ragnarok, um crepúsculo dos deuses. [...] Uma nova raça de céticos encontrou algo infinitamente mais interessante para fazer do que pregar as tampas de um milhão de caixões e o corpo sobre uma única cruz. Colocaram em disputa não apenas as crenças elementares, mas até mesmo as leis elementares da humanidade: a propriedade, o patriotismo e a obediência civil. Acusaram a civilização tão abertamente quanto os materialistas acusaram a teologia; condenaram todos os filósofos ainda mais do que condenaram os santos. Milhares de homens modernos movem-se discreta e convencionalmente entre seus semelhantes, enquanto sustentam visões sobre limitação nacional ou sobre posse de terras que teriam feito Voltaire estremecer como uma freira ouvindo blasfêmias. E a última e mais desvairada fase desta saturnália de ceticismo, a escola que vai mais longe dentre milhares que vão tão longe, a escola que nega a validade moral daqueles ideais de coragem ou obediência que são reconhecidos até mesmo ente piratas, esta escola se baseia nas palavras literais de Cristo.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. pp. 175-177)

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Defrontamo-nos com o fenômeno de que um grupo de revolucionários, cujo desprezo por todos os ideais de família e nação provocariam horror em um antro de ladrões, e seriam capazes de se livrar daqueles instintos elementares do homem e do cavalheiro que permeiam nossa civilização até os ossos, não conseguem se livrar da influência de duas ou três remotas anedotas orientais escritas em uma corruptela de grego. O fato, quando nos damos conta, tem qualquer coisa de espantoso e hipnótico. O racionalismo mais convicto é, em sua presença, subitamente atingido por uma estranha e antiga visão, enxerga as imensas cosmogonias céticas desta época como se fossem sonhos seguindo o caminho de mil heresias esquecidas, e acredita por um momento que as obscuras afirmações transmitidas através de dezoito séculos podem, de fato, conter em seu interior as revoluções com as quais apenas começamos a sonhar.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 177)

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Temos de protestar contra o hábito de citar e parafrasear ao mesmo tempo. Quando um homem está discutindo sobre o que Jesus queria dizer, que cite em primeiro lugar o que Ele realmente disse, e não o que pensa que Ele teria dito se Se tivesse expressado com mais clareza. [...] Cristo não amava a humanidade; Ele nunca disse que amava a humanidade; amava os homens. Nem Ele nem ninguém pode amar a humanidade; seria como amar uma centopeia gigante.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. pp. 178-179)

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O único pacificador possível é um homem morto, desde o momento em que, pela sublime história religiosa, um homem morto era o único que poderia reconciliar o Céu e a Terra. De certa forma sempre sentimos as eras passadas como humanas, e nossa própria época como estranha e até incompreensivelmente desumanizada. Em nossa própria época os detalhes nos sobrepujam; os distintivos e botões dos homens parecem crescer cada vez mais como em um sonho horrível. Estudar a humanidade no presente é como estudar uma montanha com uma lente de aumento; estudá-la no passado é como estudar a montanha através de um telescópio.

(Chesterton, G. K. O defensor/Tipos variados. 1ed. São Paulo: Ecclesiae, 2015. p. 207)

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Chesterton
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 27/11/2017
Reeditado em 31/03/2020
Código do texto: T6183550
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