Pregação Cristocêntrica

Resenha

Chapell, Bryan. Pregação Cristocêntrica / Bryan Chapell; tradução de Oadi Salum. São Paulo: Cultura Cristã, 3ª ed., 2016.

Este é o primeiro livro que leio de Bryan Chapell, e entre os textos que já tive contato sobre o assunto este se sobressai devido a forma como o autor consegue abordar um assunto tão relevante de maneira tão clara. Pregação Cristocêntrica, um guia prático e teológico para a pregação expositiva foi originalmente publicado em inglês em 1994 com o título “Christ-Centered Preaching”. Em português a primeira edição foi publicada em 2002 pela editora Cultura Cristã, e posteriormente mais duas edições, em 2007, e 2016. O livro é dividido em três partes principais com várias subdivisões que norteiam bem a leitura, somando um total de onze capítulos.

O autor começa cada capitulo com um esboço apresentando o conteúdo abordado no mesmo e encerra com algumas perguntas para revisão e discussão, além de alguns exercícios, o que dá ao livro um caráter bem pedagógico. Contudo não é somente isso que lhe caracteriza como tal, pois há no decorrer dos capítulos várias figuras e quadros que ilustram bem o que está sendo dito. Além disso o livro traz alguns apêndices que visam a orientações, desde a oratória, vestuário e estilo, até a mensagens específicas como nupciais, fúnebres e evangelísticas, e termina apresentando uma considerável bibliografia e um índice remissivo.

Bryan Chapell começa com uma importante declaração no prefácio dizendo que “redenção e autoridade” são palavras que contém o todo do trabalho, pois conforme ele diz: “o primeiro inimigo comprovado do evangelho é a erosão da autoridade” [p.9]. Diante dessa declaração o autor reivindica que “chegou o tempo de restaurar o sermão expositivo” como solução a esse problema. A primeira parte do livro trata dos princípios para a pregação expositiva, e logo no primeiro capitulo o autor declara que seu objetivo aqui é “Comunicar quão importante é a pregação e o que é verdadeiramente importante na pregação” [p.16]. Para isso ele aborda duas questões fundamentais, que são, “Palavra e testemunho”, sendo que a primeira é o poder de Deus inerente à Palavra. O poder da palavra é ainda exemplificado na encarnação do Divino logos, pois para Chapell, Deus revela que a mensagem do Filho e a pessoa do Filho são inseparáveis [p.19]. Sobre o testemunho o autor nos chama a atenção para a responsabilidade do pregador baseado na distinção clássica da retórica de Aristóteles que são três elementos, isto é, “Logos, Phatos e Ethos” [p.26]. Contudo a ênfase nos aspectos humanos sem a graça Divina seria inútil como afirma o autor, pois “Palavra e testemunho estão profundamente ligados na pregação do evangelho de Cristo” [30].

No segundo capitulo Bryan Chapell nos chama a atenção para as obrigações do sermão e propõe como objetivo, “Identificar as obrigações que um pregador tem para desenvolver um sermão” [p.36] entre as quais destaca de antemão a unidade no sermão. “Os ouvintes precisam de foco” diz o autor, e a “unidade se empenha em comunicar a verdade bíblica, e não apenas descobri-la e afirma-la” [p.42]. Além disso o sermão também deve ser determinado pelo propósito do texto, onde o autor destaca-o como o FCD, isto é, o foco da condição decaída. Descobrir isso no texto é fundamental, principalmente porque em seguida vem a aplicação, sem a qual tudo se torna em “informação textual”, onde Chapell cita um velho adágio que diz: “informação sem aplicação gera frustração” [p.51].

Já no terceiro, capítulo Bryan Chapell destaca a prioridade do texto, pois “a primeira tarefe expositiva do pregador é escolher a porção bíblica a qual vai pregar” [p.55]. É nesse sentido que vai tecendo algumas considerações pontuadas sobre a escolha do texto para a preparação do sermão, sempre levando em conta, a pesar dos detalhes técnicos como os interesses da congregação, métodos como lectio continua, as próprias habilidades pessoais, que “nenhum catalizador para a escolha de um texto é mais importante que a sensibilidade da direção do Espirito de Deus” [p.67]. Junto a isso Chapell chama a atenção para alguns recursos como comentários bíblicos, concordâncias, bíblias de estudo e aponta para o uso do método histórico gramatical como ferramenta essencial que culmina em uma interpretação que determina o contexto redentor do texto.

O quarto capítulo encerra a primeira parte do livro e tem como destaque “identificar os componentes históricos homiléticos e de atitudes das mensagens” [p.82]. Chapell menciona alguns textos que corroboram a perspectiva de que a pregação expositiva segue um padrão como identificado em por exemplo Neemias 8.5-8 na ocasião da volta do exílio, e entre os componentes destaca que “até que as pessoas vejam como as verdades do texto podem operar na vida delas, a exposição permanece incompleta” [p.89]. O autor ainda nos chama a atenção para o fato da autoridade das escrituras, dizendo que não precisamos de nos impor a ela para que seja eficaz, e conclui nos alertando que “estamos sob a autoridade de outrem” [p.101], portanto devemos prestar um serviço com humilde.

Na segunda parte do livro Bryan Chapell trabalha a preparação dos sermões expositivos dedica o quinto capitulo a traçar o caminho percorrido pela explicação sugerindo seis perguntas básicas para a orientação na preparação do sermão as quais dizem respeito a pesquisa e a forma de narrar o significado do texto. Entre essas perguntas destaca-se a quarta, que busca o que de comum temos com os personagens da Escritura. O autor ainda nos chama a atenção para o dever do pregador em “determinar com precisão o que o texto quer dizer; e mostrar como sabe disso” [p.113]. Além de discorrer sobre vários aspectos como, o pano de fundo, a organização, o destaque e esclarecimento de textos e palavras, Chapell prima pela simplicidade ao dizer que “sejam quais forem os argumentos que tenhamos escolhido, devemos nos determinar a apresenta-los de maneira mais interessante e simples o possível” [p.132].

O sexto capítulo começa com a seguinte pergunta: “por que razões sermões bíblicos sobre as mesmas passagens, frequentemente, parecem tão diferentes? [p.137], o autor salienta que a variedade de ferramentas e os objetivos de cada pregador determinam a forma do sermão, e continua desenvolvendo os aspectos que compõem o esboço do sermão como a unidade, brevidade, harmonia, simetria entre outros que na sequência Chapell aponta como características especificas do esboço. O capítulo traz alguns modelos de esboços, mas o autor é cuidadoso em dizer que os modelos são o ponto de partida, não de chegada” [p.171], permitindo assim outras possibilidades a partir do que é discutido.

No sétimo capitulo Chapell se dedica a questão da ilustração na pregação expositiva, onde “explicar por que e como ilustrar sermões expositivos” é o objetivo. Para isso o autor começa dizendo que “o relato não tem que ser real ou atual, mas o pregador precisa narrá-lo de tal forma que os ouvintes se identifiquem com a experiência” [p.178]. O fato é que, como bem descreve o autor há crises na pregação, e as tendências de uma cultura visual deve levar os pregadores a se sensibilizarem com a atual realidade. Porém também adverte que “O pregador que prepara sermões para servir à ilustração e não apresentar uma sólida exposição bíblica, inevitavelmente desvia-se do púlpito para o palco, de ser pastor, para torna-se apresentador de espetáculos” [p.206].

Bryan Chapell se dedica a pratica da aplicação no oitavo capítulo, onde então busca “demonstrar como aplicar as verdades dos sermões expositivos com relevância, realismo e autoridade”. O autor deixa claro que “A exposição das Escrituras continua incompleta até que o pregador explique o que Deus reclama do homem. O dever que Deus requer do homem numa passagem é o “e daí” da pregação expositiva que determina a aplicação” [p.218]. Contudo é cuidadoso em alertar-nos dos perigos do legalismo e de abstrações na aplicação, deixando as pessoas sem meios para cumprir o “como”, que vem na sequência de “o que, onde, e por quê”.

Terminando a segunda parte do livro, no capitulo nove Chapell aborda os princípios para a elaboração de introdução, conclusão e transições, partes significativas na construção de sermões que não podem ser evitadas, pois em relação a introdução, ele diz que “Bom começo, meio caminho andado. Só a conclusão se equipara à introdução, ao determinar se os ouvintes vão ou não digerir o alimento do sermão” [p.249]. Bryan Chapell é cuidadoso em pontuar cada um desses aspectos e suas características que devem ser observadas pelos pregadores, porém declara que “Os sermões alcançam sucesso quando o Espirito Santo trabalha além da perícia humana para cumprir seus propósitos” [p.280], uma excelente conclusão sobre a parte de preparação e conclusão de sermões expositivos.

A terceira e última parte do livro abrange apenas dois capítulos que abordam de maneira geral “Uma Teologia De Mensagens Cristocêntricas”, visando com isso o preparo de sermões observando o que já foi ensinado nos capítulos anteriores. Para o autor “A mensagem expositiva não facultará ao pregador acrescentar material ao texto afim de derivar um enfoque redentor” [p.296], isso ele diz em contraste às abordagens tópicas e textuais, nos levando ao entendimento de que a revelação no contexto das escrituras sempre nos direciona à Cristo, “pois os desafios à santidade precisam ser acompanhados por um enfoque em Cristo” [p.309].

No capítulo onze, finalizando o livro, Bryan Chapell “Esclarece como elaborar sermões expositivos que reflitam o conteúdo redentor de cada texto bíblico”, e para tal sugere haver um fluxo redentor nas escrituras, contudo não nega a dificuldade em identificar como se pregar quando o texto não faz menção direta a obra de Jesus Cristo como a cruz, a ressureição ou expiação. Chapell volta mais uma vez na identificação da condição decaída dizendo que “Criaturas decaídas não podem reparar a verdadeira decadência por um ato da vontade” [p.316]. Essa compreensão é demasiadamente importante dado ao fato de que a exposição deve apresentar Cristo como a razão da obediência as normas de Deus para nossas vidas, pois “As aplicações da verdade bíblica não se completam até que o pregador explique como se ligar ao poder que Deus proporciona” [p.335].

Pregação Cristocêntrica é um excelente livro. Apesar de ter muitos subtópicos que tornaria a leitura fragmentada, o autor consegui amarrar bem todas as abordagens de maneira eficiente, de forma que a leitura se desenvolveu progressivamente até culminar no ponto alto de cada capitulo e parte do livro. Recomendo o livro não somente para quem está envolvido no meio acadêmico se preparando para o ministério da pregação, mas a todos e todas que amam a palavra de Deus e que zelam pela sã doutrina, de forma que nesta obra terão subsídios para o desenvolvimento da pregação expositiva e para ministração de estudos bíblicos que tenham como foco mostrar como Cristo está relacionado em cada parte das Sagradas escrituras.

Marcelo Sonhador.

Marcelo Junio Silva
Enviado por Marcelo Junio Silva em 19/11/2017
Código do texto: T6176443
Classificação de conteúdo: seguro