O clichê da criança-monstro
O CLICHÊ DA CRIANÇA-MONSTRO
Miguel Carqueija
“Mutação” (Mutation), romance de Robin Cook. Editora Record, Rio de Janeiro/São Paulo, sétima edição, 2010. Direitos reservados em 1989 por Robin Cook (EUA). Tradução: Ruy Jungmann.
Especialista em romances de assunto médico — porém, de suspense — Cook aborda, neste livro, um casal que gera um filho por inseminação artificial, usando um útero de aluguel (lembro que, nesta técnica, sacrificam-se embriões humanos, o que contraria a bioética). Ambos são cientistas, sendo Victor Frank um médico e Marsha, psicóloga. Não tendo conseguido gerar pelas vias normais, após o primeiro filho, também não tiveram a generosidade de adotar uma criança órfã. Porém o Dr. Victor (cujo nome remete obviamente ao Victor Frankenstein de Mary Shelley) foi mais além, provocando uma mutação na criança que estava sendo gerada. Assim nasceu Victor Júnior (VJ), dono de uma inteligência absolutamente prodigiosa para um garoto — mas em compensação desprovido de sentimentos humanos. Herdando a desenfreada ambição científica do pai, VJ torna-se um monstro que eliminará, sem piedade, quem vier a se colocar em seu caminho.
O romance é bem escrito e prende a atenção; entretanto é preciso praticar em alto grau a “suspensão de incredulidade”. A Chimera — empresa laboratorial do Dr. Frank — é dominada de forma subterrânea por VJ, de apenas dez anos, que consegue formar uma milícia de segurança que obedece a ele, mais do que ao pai. Este, em certas ocasiões, revela-se um verdadeiro idiota. Quando uma série de fatos estranhos o leva a investigar os segredos do filho, acaba descobrindo o laboratório secreto. E quando VJ lhe fala das espantosas descobertas que está fazendo, e cujo crédito dará ao pai, o Dr. Victor, carregado de vaidade científica, fica simplesmente deslumbrado. Mais centrada, Marsha percebe que seu filho é um monstro e que possivelmente matou o irmão mais velho.
Do resultado final podemos dizer que ficaram pontas soltas. Que aconteceu com o colombiano Jorge, ou com o retardado mental Philip?
Entretanto, apesar dos pontos fracos, o livro provoca, sim, a vontade de ler outros romances do mesmo autor.
(Rio de Janeiro, 17 de maio de 2014 — 23 de janeiro de 2017)
comentários: Jurubiara Zeloso
O CLICHÊ DA CRIANÇA-MONSTRO
Miguel Carqueija
“Mutação” (Mutation), romance de Robin Cook. Editora Record, Rio de Janeiro/São Paulo, sétima edição, 2010. Direitos reservados em 1989 por Robin Cook (EUA). Tradução: Ruy Jungmann.
Especialista em romances de assunto médico — porém, de suspense — Cook aborda, neste livro, um casal que gera um filho por inseminação artificial, usando um útero de aluguel (lembro que, nesta técnica, sacrificam-se embriões humanos, o que contraria a bioética). Ambos são cientistas, sendo Victor Frank um médico e Marsha, psicóloga. Não tendo conseguido gerar pelas vias normais, após o primeiro filho, também não tiveram a generosidade de adotar uma criança órfã. Porém o Dr. Victor (cujo nome remete obviamente ao Victor Frankenstein de Mary Shelley) foi mais além, provocando uma mutação na criança que estava sendo gerada. Assim nasceu Victor Júnior (VJ), dono de uma inteligência absolutamente prodigiosa para um garoto — mas em compensação desprovido de sentimentos humanos. Herdando a desenfreada ambição científica do pai, VJ torna-se um monstro que eliminará, sem piedade, quem vier a se colocar em seu caminho.
O romance é bem escrito e prende a atenção; entretanto é preciso praticar em alto grau a “suspensão de incredulidade”. A Chimera — empresa laboratorial do Dr. Frank — é dominada de forma subterrânea por VJ, de apenas dez anos, que consegue formar uma milícia de segurança que obedece a ele, mais do que ao pai. Este, em certas ocasiões, revela-se um verdadeiro idiota. Quando uma série de fatos estranhos o leva a investigar os segredos do filho, acaba descobrindo o laboratório secreto. E quando VJ lhe fala das espantosas descobertas que está fazendo, e cujo crédito dará ao pai, o Dr. Victor, carregado de vaidade científica, fica simplesmente deslumbrado. Mais centrada, Marsha percebe que seu filho é um monstro e que possivelmente matou o irmão mais velho.
Do resultado final podemos dizer que ficaram pontas soltas. Que aconteceu com o colombiano Jorge, ou com o retardado mental Philip?
Entretanto, apesar dos pontos fracos, o livro provoca, sim, a vontade de ler outros romances do mesmo autor.
(Rio de Janeiro, 17 de maio de 2014 — 23 de janeiro de 2017)
comentários: Jurubiara Zeloso