RESUMO DOS CAPÍTULOS 3 E 4 DO LIVRO “PENITÊNCIA E UNÇÃO DOS ENFERMOS” DE GONZALO FLÓREZ
REFERÊNCIA
FLÓREZ, Gonzalo. Penitência e Unção dos Enfermos. São Paulo: Paulinas, 2007.
• CONVERSÃO E RECONCILIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
A conversão é sempre uma experiência religiosa; mesmo que movida por alguns recursos íntimos que levem o ser humano a corrigir-se. As referências bíblicas para este tema giram em torno de dois eixos: a realidade do pecado e, o perdão que Deus oferece a quem se arrepende. Deus está sempre reestabelecendo a Aliança com o seu povo, perdoando-o.
Na bíblia, a conversão aparece como um chamado de Deus ao seu povo, convidando-o a entrar num estado de comunhão com Ele. Para tanto, o Deus criador emprega uma linguagem antropomorfizada para falar ao Seu Povo através dos profetas, para chegar ao coração e a vontade do homem; particularmente as imagens do amor humano, dos laços familiares, do Pai que oferece aos seus filhos, a paz e a reconciliação.
O pecado é categoria religiosa que explica os males humanos, tanto físicos, como morais e até sociais. Os profetas o denunciam como faltas de infidelidade a Aliança com Deus. Para o judeu fiel, o pecado é a realidade que pode desarmar os projetos divinos para o bem de Israel. A etimologia de pecado, no hebraico do Antigo Testamento, está associada aos termos: injustiça (resha); rebelião (pesha); extravio (awon); transgressão (hatta) e; dívida (hoba), pois o pecado gera uma dívida do homem para com Deus que só Ele pode perdoar.
O Antigo Testamento, além de denunciar o pecado, propõe a piedade como meio de obter o perdão divino. Nisto tem relevo os sacrifícios expiatórios para restabelecer a reconciliação e purificação sobre os pecados pessoais ou os do povo. Dentre eles, destaca-se o Grande Dia da Expiação (Yom Kippur).
Os temas da Confissão, Arrependimento e Reconciliação, encontra reflexos em passagens do Antigo Testamento:
• 2 Sm 12, 13; Sl 51: Do rei Davi após o adultério com a mulher de Urias e o seu homicídio;
• Nm 9: A longa formula levítica de confissão do povo;
• Sl 6; 32; 38; 51; 102; 130; 143: Salmos Penitenciais;
• Pv 28, 13; Eclo 4, 26; 21, 1: Os livros sapienciais exortam o filho sensato ao arrependimento e a busca da reconciliação;
• Is 49, 6-8; 52, 7; Jr 23, 6; Zc 9,9; Ez 36, 9: os profetas, em nome de Deus, chamam o povo a reconciliação com Deus e à conversão.
A conversão, na Bíblia, é sempre uma iniciativa da misericórdia de Deus; ao mesmo tempo, é um caminho de retorno; o “caminho da vida” de volta a Deus, alude a uma mudança de direção ou de rota. Trata-se da “Conversão do coração” significada pelo termo hebraico “teshubah” (Cf. Jr 21, 8).
Em última análise, a conversão é um chamado e uma advertência, de Deus ao ser humano, para que este encontre o caminho da felicidade e salvação na Aliança com Deus.
• CONVERSÃO À FÉ EM JESUS E RECONCILIAÇÃO CRISTÃ
Na Bíblia hebraica, a conversão aparece como chamado a crer em Deus, confiando nas Suas promessas e seguindo Seus Mandamentos. No entanto o povo ansiava pela concretização das Promessas divinas.
No tempo de Jesus havia dois panoramas da esperança messiânica: esperança na assunção política de Israel contra os romanos, restaurando o reino e; a espera no enviado de Deus que iria reestabelecer a paz e a justiça no mundo
A figura do João Batista precede a o ministério público de Jesus, com o chamado à conversão e à penitência e conferindo um batismo de conversão. O próprio Jesus, entra na fila dos arrependidos, e se faz batizar pelo Batista. É nesta ocasião que João Batista em seu ministério profético de encerramento do Antigo Testamento aponta para Jesus e o apresenta como “o cordeiro / servo de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
No seu ministério, Jesus retoma o chamado a conversão, nos termos “Cumpriu-se os tempos e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). O Reino anunciado pelos profetas começa a se concretizar nas obras e palavras de Jesus.
A primeira mensagem de Jesus é revelar Deus, como Pai misericordioso que ama o ser humano. As parábolas de Lucas 15, ilustram essa pregação de Jesus.
A fé na paternidade de Deus, aliada as obras e pregação de Jesus, dão ao ser humano, as bases para ter uma confiança filial em Deus. Jesus se distancia do juízo condenatório centrado na observância da letra da Lei e assume uma atitude misericordiosa para com os pecadores que demonstram arrependimento e amor.
O perdão dos pecados é sinal da presença de Jesus e de Sua ação salvadora. Aparece no início dos Evangelhos como sinal essencial da misericórdia divina, realizando as promessas da salvação. Isto é refletido no domínio de Jesus sobre o pecado e as forças do mal, perdoando os pecados, expulsando os demônios e curando os doentes. Tais atitudes apontam para a identidade de Jesus, O Filho de Deus: “Quem é este, que até perdoa pecados? ” (Lc 5, 21). O acréscimo de Mateus, sobre o poder que Deus deu aos seres humanos, deixa entrever, que tal poder de Deus exercido pelo Filho, continua sendo exercido em Seu nome na Igreja (Cf. Mt 9, 5-8).
No Novo Testamento, o perdão aos pecadores, faz parte da missão redentora de Jesus, pois a salvação está intimamente vinculada a pessoa de Jesus Cristo (Cf. Jo 3, 17). Pois na própria pessoa de Jesus, está a salvação do mundo.
No ministério da Igreja, o perdão dos pecados chega pela acolhida da fé em Jesus pela pregação querigmática dos apóstolos e discípulos e pela recepção do Batismo, em nome de Jesus. (Cf. At 9, 18; 22, 16).
Na teologia paulina, através do Batismo, o cristão morreu para o pecado e nasceu para uma vida nova “para Deus em Jesus Cristo” (Rm 3, 6-11). São Paulo também ressalta a intima relação entre a páscoa de Cristo e a Eucaristia (Cf. 1 Cor 11), sinal e realização da comunhão dos discípulos com Jesus Cristo e entre si. Na ótica joanina, a comunhão com o corpo e o sangue de Cristo, é fruto de uma purificação que porta em si a destruição de todo o pecado; assim a união dos cristãos com Cristo e com a Igreja pelo seu corpo eucarístico, é expressão da Santidade eclesial (Cf. 1 Jo 1, 7; Jo 6, 49 -59).