DOS TRÊS PRIMEIROS CAPÍTULOS DE "COMPREENDER A IGREJA HOJE" DE J. RATZINGER
RESUMO DOS TRES PRIMEIROS CAPÍTULOS DO LIVRO “COMPREENDER A IGREJA HOJE: VOCAÇÃO PARA A COMUNHÃO” DE J. RATZINGER (PAPA BENTO XVI)
REFERÊNCIA
RATZINGER, Cardeal Joseph. Compreender a Igreja Hoje: vocação para a comunhão. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2006, pp.9-58.
I – ORIGEM E NATUREZA DA IGREJA
1 Considerações metodológicas preliminares
Atualmente as questões teológicas especulativas sobre a Igreja são de natureza prática, como a questão sobre Jesus e a Igreja; da forma da Igreja nos primórdios no Novo Testamento; é envolvida por variadas teorias exegéticas. A exegese liberal, conforme seu ideal, vê Jesus como um grande individualista libertador da instituição e do culto, um ser ético.
Com a Primeira Guerra Mundial e o desmoronamento do liberalismo, houve o ressurgir do desejo de reintegração da Comunidade Viva e religiosa; inclusive, no âmbito protestante, valorizando-se a instituição Igreja. No âmbito alemão, chegou-se a compreensão que não pode se separar o Messias do seu povo, valorizando seu Sacramento e reconhecendo o significado da Última Ceia como o momento da fundação da nova comunidade e origem permanente da Igreja, abrindo-se para uma eclesiologia eucarística. Depois da segunda guerra mundial, com a Guerra Fria, surgiu no ocidente capitalista uma variante da antiga teologia liberal com a interpretação escatológica da mensagem de Jesus, tomando-se os sacerdotes, o culto, a instituição e o direito, novamente, como negativos que devem ser superados; tal forma liberal estava em vias de transformar-se em uma interpretação marxista da teologia, concebendo o Reino de Deus como o ideal de uma sociedade comunista, opondo Igreja oficial e Igreja popular.
Disto se pode concluir que cada situação histórica da humanidade revela uma determinada facetas da espiritualidade humana, abrindo novos caminhos de compreensão da realidade. A partir disso, também a Igreja pode adentrar cada vez mais nos fundamentos da sua verdade descobrimento de novas dimensões a partir dessas experiências, sem trair a Revelação e sua memória objetiva.
2 O testemunho do Novo Testamento sobre a origem e a natureza da Igreja
Quanto a mensagem de Jesus sobre o Reino dos céus, uma leitura histórica dos textos evangélicos, mostram que não pode haver contraposição entre o Reino anunciado e a Igreja. Inclusive, para Joaquim Jeremias o sentido da obra de Jesus consiste em congregar o povo escatológico para Deus, quando Jesus disse que o Reino de Deus está próximo, ele é o próprio Reino; Jesus veio para congregar o povo que estava disperso: é o dinamismo da unidade; Cristo une e constitui a família de Deus; Deus é o Pai da família; Jesus é o dono da casa. Um segundo ponto importante é que Jesus ensina uma oração comum para os seus discípulos: a oração do Pai Nosso que configura a célula inicial da Igreja, disto decorre duas consequências: a comunidade dos discípulos não é grupo sem forma pois no seu centro encontra-se o grupo dos 12 seguido pelo ciclo dos 72 discípulos; os 72 discípulos significam que Jesus reivindica para si toda a humanidade constituindo O povo da Nova Aliança; com as palavras da instituição da Eucaristia que apontam para a sua Páscoa, realizando a sacramentalmente. Outra questão é da palavra de Jesus sobre o templo do seu corpo retificado após o terceiro dia. Jesus incorpora na sua pregação o tema da Aliança do Antigo Testamento que ele renova na sua Páscoa congregando o seu povo no templo que é o seu corpo; esse povo só recebe o título de povo de Deus a partir da comunhão com Cristo, abrindo-se na relação para com Deus que não é produzida pelos homens.
A Igreja dá a si mesma o título de Ekklesia no Novo Testamento a expressão povo de Deus apenas designa o povo de Israel não a Igreja. Para esta, usa-se o vocábulo Ekklesia, o termo grego utilizado na septuaginta é referido no Antigo Testamento com base na raiz Gahal que é Assembleia do Povo Santo de Deus reunida para o culto, escutando a palavra de Deus e aceitando-a. Em Cristo morto e ressuscitado, pela ação do Espírito Santo, que se realiza esta Assembleia a Ekklesia no Novo Testamento como novidade do Mistério da história da salvação na Aliança de Deus, baseada na lei da Justiça, transformada em nova lei do amor concretizado em Cristo por sua cruz e ressurreição; é sempre o Senhor que congrega seu povo único no seu único sacrifício; povos de todos os lugares, através da solidariedade de Cristo com os seres humanos podem ser integrados Nele e tornarem-se participantes das promessas realizadas a partir dele com a meta Suprema da União Total com Ele.
A doutrina Paulina da Igreja como corpo de Cristo não é novidade, mas uma fórmula singular que expressa aquilo que caracterizou desde o princípio o surgimento da Igreja; isto já foi utilizado como alegoria no estoicismo para falar do Estado, mas a ideia Paulina não se esgota em parâmetros sociológicos e Morais filosóficos; também Platão já utilizou a imagem para falar do universo como um corpo vivo o precedente semítico utilizava a personalidade corporativa como Adão representando todos seres humanos esta fórmula Paulina nasce do âmbito litúrgico sacramental do batismo e da Eucaristia onde a partir da dimensão cristológica, abre-se para a dimensão Divina trinitária no Espírito de Cristo, clamamos o seu Senhorio e chamamos a Deus de Pai; outra raiz é a própria Eucaristia: tomamos todos do mesmo pão que é o corpo de Cristo, o corpo é a personalidade do sujeito humano e, a comunhão é o processo da congregação no qual o Senhor nos aproxima como irmãos. Outra raiz paulina é a ideia dos esponsais que aparece na filosofia bíblica do Amor e está inseparavel da teologia eucarística: o homem deixa seu pai e sua mãe e unir-se-á a sua mulher formando uma só carne. Um novo aspecto importante que surge, é que a Igreja é o corpo de Cristo da mesma maneira que a mulher e o marido são um só corpo e uma só carne. A Igreja continua a ser serva que Cristo em seu amor eleva a condição de esposa que busca seu rosto neste final dos tempos manifestando o caráter dinâmico da realidade sacramental que acontece de maneira pessoal, a um caráter relacional e pneumatológico de ambos os conceitos de corpo de Cristo, de esposa de Cristo, porque a Igreja está sempre a caminho de se tornar uma só coisa com Cristo o que inclui a sua própria unidade interior.
3 A visão da Igreja nos Atos dos Apóstolos
O critério primeiro foi identificar o que o próprio Jesus Cristo diz para sua Igreja a partir da Páscoa a comunidade que provém de Jesus se chamava Ekklesia os Atos dos Apóstolos mostram neste sentido uma eclesiologia narrativa, começando com o quadro da reunião dos discípulos na sala do Pentecostes, congregados os apóstolos, Maria e a pequena comunidade: o autêntico Gahal: Assembleia da Aliança que reúne o número das nações; também aparece a catolicidade da Igreja na escolha de Matias, mostra-se a obediência dos Apóstolos ao Senhor que os constituiu como 12. Também é importante a função testemunhal dos sucessores dos Apóstolos, perseverando a comunidade na Eucaristia e nas orações. A cena de Pentecostes é um grande quadro pintado por Lucas sobre a fundação da Igreja no Espírito Santo em meio a teofania, contra a vontade humana de poder representada pela Babilônia, o Espírito no amor induz ao reconhecimento e cria unidade na diferença; o Espírito Santo abre aos confins da terra. Primeiro existe a Igreja Uma, porém, que fala em todas as línguas porque é universal, gerando Igrejas nos mais diversos lugares; todas as Igrejas particulares são a realização da única Igreja católica. Como é o compêndio das Nações que ocupa uma posição teológica de destaque no Livro dos Atos dos Apóstolos, por isso ela é a meta aonde chega a Igreja Missionária.
II – O PRIMADO DE PEDRO E A UNIDADE DA IGREJA
A questão da primazia do apóstolo Pedro, da continuidade nos seus sucessores que são os bispos de Roma, tornou-se o ponto mais crucial das questões ecumênicas; disputas que já estava presente na Idade Média com as querelas entre o império e o papado, passando pelas questões das investiduras, pela época moderna e tendências de separação de Roma no século 19 até os atual protestos contra a função diretiva do Papa e sua execução; deve-se distinguir dois problemas fundamentais: primeiro sobre o primado de Pedro e se é possível justificar uma sucessão de Pedro com base no Novo Testamento e, se Roma pode reivindicar de ser a sede de Pedro.
1 A posição de Pedro no Novo Testamento
No Novo Testamento a questão de Pedro tem um significado Universal, como expressa a antiga profissão de fé que o Apóstolo Paulo nos transmite em I Cor 15, 3-7: Kéfas é a primeira testemunha da Ressurreição de Jesus Cristo o apostolado é constituído fundamentalmente pelo testemunho da Ressurreição do Senhor e Pedro foi o primeiro que pode ver o Senhor e foi incluído na Confissão de Fé Pascal; circunstância na qual recebeu uma investidura dada pelo Senhor ressuscitado, na ocasião da sua aparição. Na carta aos Gálatas o apóstolo Paulo ao falar do conflito com Pedro, defendendo a sua própria vocação apostólica, indiretamente manifesta a importância de Pedro na comunidade primitiva; quando Paulo sobe a Jerusalém, a finalidade da sua visita é encontrar-se com Pedro, Tiago e João, pois existe apenas um Evangelho comum assegurado por Pedro e seus companheiros Tiago e João, que são as três colunas da Igreja Primitiva. Tudo indica que o apóstolo Tiago exerceu um certo primado na Igreja Primitiva sobre os judeus cristãos com sede em Jerusalém, porém, nunca para Igreja Universal como quer Oscar Culliman. A primazia singela de Pedro nunca foi atingida pelas funções próprias das três colunas. Nos escritos de João há uma forte presença do tema de Pedro em contraponto ao discípulo amado. Rudolf Bultmann declarou expressamente que em João 21,15-19, o próprio Pedro foi encarregado da suprema direção da Igreja; para ele, essa passagem remonta a uma tradição mais antiga que a de Mateus 16, que se referem as chaves do céu dada a Pedro, para Bultmann a Igreja tem consciência própria da posição de destaque de Pedro, conferida pelo Senhor.
Relativamente ao ciclo dos 12 apóstolos, Pedro sempre é apresentado em uma posição de maior destaque e o grupo de 3 formados com Pedro, Tiago e João sobressai sobre os 12, porém, Pedro sobressai sobre os três. Em Lucas 5, 1-11 a vocação de Pedro é apresentada como protótipo da vocação apostólica; nas listas dos apóstolos, Pedro geralmente têm o primeiro lugar.
Sobre o nome de Pedro, “Rocha”, dado pelo próprio Jesus ao Apóstolo, Joaquim Jeremias mostrou que por detrás dessa designação exprimindo a rocha Sagrada, referencia-se um texto rabínico sobre Abraão pai na fé do Povo de Deus, essa função de Rochedo contra o Mundo Ateu, agora é assumida, na Nova Aliança, por Pedro conduzindo a Igreja.
O texto da investidura encontrada em Mateus 16, 17-19 está no âmbito dos textos da palavra do Senhor sobre o poder de ligar e desligar conferido ao Colégio apostólico, a teologia protestante Liberal encontrou motivos de constatar que é de Jesus a origem destas palavras, posteriormente as duas grandes guerras, procura-se situações para enquadrar as palavras e, Bultmann pensa que são oriundas da primitiva comunidade da Palestina e Jerusalém ou Antioquia; Mas, é claro que tais palavras provêm do próprio Jesus em última instância, porque a Bíblia é de inspiração Divina pelo Espírito Santo e, é válida porque é válida a Sagrada Escritura apresentada pelo Espírito como palavra de Jesus.
Os liberais colocaram forte objeção. Identificaram o vocábulo Igreja que só aparece a mais na passagem de Mateus 18,17; porém a forma literária do texto se torna mais importante pois a palavra provem do próprio Jesus; a função de Pedro para com o Novo Povo de Deus tem um significado Universal e escatológico em Mateus 16; ao mesmo tempo, percebemos que Pedro pelo Poder de Deus pode ser o fundamento da fé: a rocha firme de Cristo e, ao mesmo tempo, pode ser uma pedra de escândalo pela fraqueza humana, assim o sucessor de Pedro sempre está neste dilema, Ele deve cumprir sua vocação de ser Rocha, porém a história da humanidade mostrou muitas vezes como pedra de tropeço a humanidade dos Papas, porém o papado permanece o fundamento da Igreja, pois segue de uma força que vem de Deus para congregar o Novo povo de Deus que transcende o tempo, neste sentido Pedro é um administrador fiel da mensagem de Jesus abrindo as portas do Reino dos Céus como Guardião que decide quem entra e quem não pode entrar: o poder de tomar decisões doutrinais, disciplinares, o direito de impor e levantar excomunhão, no fundo, o poder de desligar /ligar se refere ao Ministério de perdoar os pecados, neste sentido a Igreja é por sua própria natureza lugar de perdão, banindo todo o caos de seu interior, mantendo-se coesa pelo perdão, do qual Pedro sempre será o sinal, por isso a Igreja está onde o homem encontra sua própria verdade de que é necessitado da Graça de Deus, que vem pela morte e ressurreição de Jesus; Ele venceu toda a morte, destruindo o poder do inferno e espiando toda culpa e desta vem toda a Força do Perdão.
2 A questão da sucessão de Pedro
Quanto ao princípio da sucessão petrina, em geral o Novo Testamento em todas as suas tradições conhece o primado de Pedro. Tal faculdade é a justificativa da sucessão petrina, porque no Novo Testamento não encontramos uma afirmação expressa; é importante notar que ao final do primeiro século o evangelho de João considerou a sucessão petrina como algo presente na Igreja se tomarmos João 21, Pedro foi martirizado em 64, de fato as tradições do Novo Testamento nunca revelam simples interesse por curiosidades históricas pois não pretendem diluir o caráter original da primitiva Igreja.
Oscar Culliman se colocou contra a ideia da sucessão petrina, pois pensa que Pedro foi substituído por Tiago. Rudolf Bultmann, por sua vez, acredita que Pedro foi substituído pelas três colunas: Pedro, Tiago e João; essas hipóteses possuem fundamentação fraca; nos Atos dos Apóstolos e nas cartas pastorais o princípio da sucessão assumiu uma forma concreta pelo testemunho do Espírito Santo que, pelo Sacramento designa três realidades: Palavra-testemunha, o Espírito Santo e, Cristo. Sobre a sucessão Romana de Pedro, Irineu de Lião combatendo o Gnosticismo e é Eusébio de Cesaréia já afirmaram o primado da Igreja romana sobre as demais Igrejas, a partir do século segundo, pois em Roma, Pedro e Paulo receberam o martírio; Roma é reconhecida como critério da autêntica Fé Apostólica, tal constatação fundamental é mais antiga inclusive, mais que o Cânon do novo testamento da Escritura: trata-se do poder originante, que, por excelência, deriva da cátedra romana por isso é claro que o princípio da tradição de forma sacramental na sucessão Apostólica, elemento constitutivo para a existência e continuidade da Igreja lugar do martírio de Pedro e Paulo está como detentor principal dos poderes do apóstolo Pedro e de seus sucessores, com papel culminante na formação da tradição eclesial e também na fixação do cânon do Novo Testamento.
Considerações finais
O Novo Testamento nos revela o primado petrino e as tradições dos primeiros séculos. Unidas por Irineu de Lião e Eusébio, os testemunhos sobre a primazia da sucessão petrina em Roma como garante da tradição anterior e a fixação do cânon do Novo Testamento; por isso, o primado romano não é invenção de papas, mas constitui elemento fundamental da unidade eclesial. lembramos a tensão do papel e da figura humana do Papa chamado a ser Rocha da Fé, por outro lado, na sua fragilidade humana, pode tornar-se uma pedra de tropeço. Significa que é Deus quem está verdadeiramente presente e quem age neste ministério que é um Carisma dado à Igreja; o centro do primado de Pedro na Igreja constitui dom do Perdão que é sinal da natureza do poder divino que brota da Cruz e da Ressurreição do Senhor; se hoje se pode mencionar com Realismo os pecados dos Papas durante a história, sua desproporção humana com a grandeza Divina da missão, deve-se ser realista ao perceber que Pedro sempre foi a rocha contra ideologias que dissolvem e que reduzem a Palavra com sistemas de pensamentos de determinada época, sujeitos aos poderes temporais; não são a carne e o sangue que salvam, mas o Senhor, através daqueles homens chamados a este ministério; quem nega isto não tem fé e não tem humildade, nem reconhece a vontade de Deus.
III IGREJA UNIVERSAL E IGREJA PARTICULAR: A missão do bispo
A questão fundamental é o modo da Igreja viver e como deve responder à vontade do Senhor. A Igreja é formada pela Eucaristia, pois aí está sacramentalmente a entrega de Jesus na cruz, sob o pão e o vinho, a Igreja faz isso para celebrar a memória do Senhor; a Igreja dá sua resposta a esta ordem do Senhor. Pode-se afirmar que a Igreja é eucaristia, pois brota da morte e ressurreição de Jesus Cristo; é o Espírito do Senhor, morto e ressuscitado, quem dá a vida, por isso do nome Ecclesia sobressai a Igreja, assembleia, como purificação dos seres humanos oriundos de todos os povos, para que sejam de Deus. É um processo dinâmico de unificação para com Deus e para com os irmãos unindo o homem ao amor trinitário de Deus, integrando o ser humano consigo e com todos os membros da humanidade outrora destroçada, por isso que os padres afirmaram que Eucaristia e a assembleia mostram a Igreja como comunhão.
1 Eclesiologia eucarística e ministério episcopal
É certo que a Igreja se realiza na celebração eucarística, presencialização da palavra anunciada, esta celebração sempre se dá num local concreto com as pessoas que ali habitam, iniciando o processo da unificação do Povo chamado por Deus na assembleia litúrgica. A Igreja sempre que ser pública como o é o próprio Estado; ela é o Novo povo de Deus para o qual todos são chamados, independentemente de posição social e demais diferenças nacionais ou ontológicas, todos são chamados à assembleia eucarística do lugar à qual pertence. Santo Inácio de Antioquia insistiu na unicidade do ministério episcopal de determinado lugar pertencer a Igreja, sobre estar em comunhão com o Bispo e que a Eucaristia só é válida sob autoridade deste Bispo ou seu delegado, presidente da celebração. Um só Bispo para um só lugar, diz que a Igreja é una e única para todos, pois há um só Deus para todos, inclusive reunindo na mesma assembleia pessoas que outrora eram inimigas. Cristo derrubou o muro de separação, a inimizade construindo a paz pelo seu próprio sangue, conforme a carta aos Efésios; por isso, uma Igreja eucarística é uma Igreja episcopal, a partir disso, deu-se mais importância a Igreja local.
Atualmente a Igreja Ortodoxa, em prol da Igreja local, opõe-se ao primado Romano do papa, como é praticado no Ocidente, pois, para os ortodoxos, no mistério eucarístico está todo o mistério da Igreja, por isso ela é completa na Igreja local, sob o Bispo.
Neste tempo, com a fusão de elementos católicos, ortodoxos e protestantes na teologia surgem variações desta ideia ortodoxa questionando o ministério petrino. Os protestantes acreditam que por si só, reunir-se em nome de Jesus gera a Igreja independentemente de qualquer instituição, tornando esta assembleia sujeito de todos os poderes da Igreja, inclusive o de celebrar a Eucaristia; nascendo a Igreja da parte de baixo, das bases, esta colocação põe a perder o caráter público e o caráter reconciliador universal, expresso no princípio episcopal e derivado da essência eucarística da Igreja. O sínodo dos bispos de 1985 chamou a atenção para a Comunhão como chave para compreensão da Igreja, exigindo aprofundamento de eclesiologia eucarística na qual os diversos encargos do Papa, dos Bispos, dos sacerdotes, dos leigos são observados da perspectiva correta como conjunto a partir do Sacramento do corpo e sangue do Senhor, por isso a Igreja é Eucaristia, a Igreja comunhão exatamente com todo o corpo de Cristo e, se a Igreja não for católica, ela não existe.
2 As estruturas da Igreja Universal na eclesiologia eucarística
A questão sobre a expressão concreta disto, leva-nos a Igreja Primitiva. Nela estão múltiplas formas da catolicidade ligadas a figura do próprio apóstolo; este não se reduz ao princípio da Igreja local, o apóstolo não é bispo, mas missionário de toda a Igreja; os bispos são seus sucessores, pois no Apóstolo, em sua pessoa, expressa-se a Igreja universal ele não pertence a nenhuma Igreja local mas a Igreja toda; é o que testemunha Paulo, por suas cartas às diversas comunidades; para ele, ser cristão significa estar vinculado a uma única assembleia de Deus que está se formando e que se encontra em todos os lugares com única e a mesma.
Na época Apostólica era patente que a Igreja toda era universal, católica. A partir disso se compreende que os bispos são sucessores dos Apóstolos; a Igreja deve permanecer apostólica pois o seu dinamismo de unidade permanece marcado profundamente por essa estrutura do bispo como sucessor dos Apóstolos; este sentido se eleva contra o reducionismo de se compreender o bispo como apenas pertencente à Igreja local, mas ele deve ser solicito pela Igreja universal, no colégio episcopal, mostrando consciência quanto a unidade da única Igreja presente em todos os lugares contra toda a tendência ao isolamento; para Santo Agostinho “se estou na Igreja, cujos membros são todas aquelas Igrejas das quais sabemos realmente pela Escritura Sagrada terem surgido, crescido, graças às atividades dos Apóstolos, não renunciarei a sua comunhão em nenhum lugar, com ajuda da Graça divina”, e Santo Irineu, já dizia que “a Igreja espalhada pelo mundo inteiro guarda zelosamente esta pregação da fé, porque habita como que numa única casa e, em sua fé, assemelha-se aqueles que tem como uma só alma, um só coração, prega, ensina e transmite a doutrina em uníssono como se tivesse apenas uma boca”; é neste sentido que as cartas de comunicação com o símbolo assinados pelo bispo, dava ao cristão peregrino, uma credencial para ser acolhido por outra igreja local. O bispo aparece como um elo concreto de união da catolicidade, mantendo a comunhão com outros bispos, vivenciando o elemento apostólico e católico; a fé sempre exige ir para os outros e, o receber dos outros, pois provém do próprio Senhor e, o bispo é consagrado no mínimo por um grupo de três bispos; a Igreja não pode reduzir-se a submissão ao conciliarismo como o seu modo estrutural pois essa ideia faz desaparecer a responsabilidade universal por toda a Igreja, inerente ao apóstolo e aos seus sucessores, é neste sentido que a sucessão do bispo em Alexandria só era efetivada para o patriarcado a partir da resposta positiva a carta e a profissão do símbolo do novo Patriarca perante o Papa de Roma, isto era critério da unidade da pentarquia patriarcal ao longo da história antiga. A Igreja sempre é chamada a estar vigilante para que as estruturas institucionais não obscureçam o seu centro espiritual propriamente dito.
3 Consequências para o ministério e a missão do bispo
O Bispo encarna a unidade e o caráter público da Igreja particular a partir do Sacramento e da Palavra, tornando-se, ele, o elo de união na comunhão entre as Igrejas locais mediando a unidade da sua Igreja local com a Igreja universal e vice-versa; por isso, o caráter católico-apostólico está a serviço da unidade que se faz na santidade e no amor operado por Jesus Cristo na purificação do que é pessoal pela fusão no Amor universal de Cristo, que provém do Deus Uno e Trino.
Um pressuposto basilar do ministério Episcopal é a comunhão interior com Cristo, o estar com ele, pois o bispo é testemunha da Ressurreição sempre em contato com o ressuscitado, há uma contemporaneidade interior com Jesus Cristo vivo; o bispo é, sobretudo testemunha para ser sucessor dos Apóstolos e, isso exige interiorização, produzindo participação dinâmica da missão do ofício episcopal que pertence à vida ativa, porém sua atividade se pauta pela sua inserção na dinâmica da missão do Senhor, estando com Deus por meio de Cristo e, por meio de Cristo, a partir de Cristo, levar Deus aos homens, transformando-os em assembleia santa de Deus; por isso é sucessor dos Apóstolos, unido ao bispo de Roma, que é sucessor do Apóstolo Pedro. Isto significa, ser-com os demais sucessores dos apóstolos, estar nos nós dos sucessores, este nós tem valor, não apenas sincrônico, mas diacrônico; não há geração isolada da Igreja e, no corpo místico de Cristo não vale o limite da morte, pois nele se conjugam todos os tempos; a maioria genuína da Igreja é diacrônica apenas prestando ouvidos a esta maioria total é que se permanece no nós apostólico, por isso a Igreja não se reduz a democracia, a vontade do povo de uma época isolada apenas limitando-se a questão geográfica de uma época, neste sentido o Bispo representa a Igreja universal em Face da Igreja local.
Na relação do sucessor de Pedro com os bispos, além dos direitos sagrados provenientes do Sacramento, o Papa só impõe os elementos do direito humano que são realmente necessários, procedendo do mesmo modo, o sínodo e a Conferência Episcopal nos seus hábitos particulares. Resguardando-se de todo uniformismo pastoral, o apóstolo é sempre enviado até os confins da terra; a missão do bispo nunca pode se esgotar nos limites internos da Igreja, pois o Evangelho sempre tende a ser válido para todos e, os apóstolos e seus sucessores são responsáveis de levá-lo até os confins do mundo, pregando a fé constantemente, àqueles que até o momento não reconheceram o Cristo como salvador. Esta é uma responsabilidade em relação as coisas públicas do mundo; também o Estado goza de autonomia perante a Igreja e, o bispo reconhece tal garantia do Estado e do seu direito próprio, evitando a confusão entre fé e política; o bispo se põe a serviço da liberdade de todos e não permite a identificação da fé com determinada forma política, respeitando a maturidade dos leigos para exercer nela o seu papel, por isso o bispo deve ter o discernimento para distinguir entre positivo e negativo, pois a autonomia das coisas terrenas não é absoluta, resguardando-se os direitos de Deus e da Fé os quais não podem ser contraditos pelas leis humanas, a Igreja deve sempre se apresentar como defensora da criação, contra todo rumo e ameaça do mundo, inclusive o Bispo deve estar, porque associado a paixão do Senhor, pronto para sofrer e dar seu testemunho; isto faz parte do seu caminho, o ser bispo não é tanto uma honraria, um posto influente, mas a sua essência está ligada a cruz do Senhor, fonte da alegria da Ressurreição.