TRINDADE E COMUNICAÇÃO

REFERENCIA:

DÌEZ, Felicísimo Martínez. Trindade e comunicação. In: _______. Teologia da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1997, pp. 113-146.

1 Como falar da Trindade?

Para a Comunidade Cristã, a Santíssima Trindade é modelo e protótipo de toda a comunicação que está no centro de sua fé e perpassa a sua práxis. Perante o mistério Santíssimo de Deus cabe o silêncio e a adoração, pois o homem se dá conta que é incapaz de compreender todo o mistério que é o centro da fé cristã; mesmo Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, Gênios teológicos, aproximaram-se deste mistério não ousando a pretensão de compreendê-lo no todo. O silêncio sempre constitui a atitude mais saudável para o teólogo perante o mistério de Deus, porém é preciso falar de Deus; o fiel deve falar Dele como questão mais importantes, a partir da Revelação e da história em Jesus Cristo. Nele, Deus se tornou condescendente com a história humana, tornando possível uma modesta e cautelosa linguagem sobre Ele mesmo e seu mistério. Esta é a única via de acesso ao mistério da Trindade: a revelação histórica. Assim, a linguagem mais apropriada para nomear Deus se torna então a narrativa. Em Jesus Cristo, Deus se revela como Pai e Filho e Espírito Santo: a Trindade não é apenas um mistério lógico pois ela tem a ver com a vida de cada pessoa, Ela é bastante concreta: a Trindade é sobretudo mistério de comunhão. A nossa fé é prática, não deve ser reduzida a meras explicações teológicas é preciso concentrar a nossa experiência e práxis cristã baseada na fé na Santíssima Trindade. Deus uno e trino é a fonte e o modelo da vida cristã em todas as suas dimensões, faz-nos viver a comunhão pessoal.

2 Politeísmo, monoteísmo, Trindade

A partir do discurso de São Paulo Apóstolo no Areópago se faz uma exposição correta da importância e o do desejo da busca de Deus na história humana; busca-se o Deus Criador, como tarefa fundamental como desejo profundo do coração dos homens. Mas, é só na revelação de Deus em Jesus Cristo, que o Divino vem mais diretamente o nosso encontro pessoal, e nós temos essa segurança da resposta dialogal para com Ele, pois entramos em relação com a sua face misericordiosa. A história religiosa das culturas está repleta de imagem sobre Deus, as sementes do verbo, imagens que se projetam na experiência humana, em projetos históricos da humanidade e nos modelos de convivência da sociedade. Não raramente se constrói um deus à imagem e semelhança do homem; assim, as representações da divindade têm uma força de legitimação do status quo na história dos povos, do politeísmo ao monoteísmo. Também na reta confissão da Santíssima Trindade Cristã. Diversos modelos de religião sustenta o legítimo modelo de sociedade e de convivência e comunicação refletindo o modelo de religião e a concepção de Deus, que legitimem uma forma humana de convivência e comunicação. Ao final do século XX, viu-se o politeismo com certa benevolência democrática, porém deve-se considerar que em povos politeístas também se fazia guerra; não se pode atribuir ao politeísmo um certo irenismo que nunca houve, pois traz no seu bojo guerreiro uma certa tendência para afirmar-se como uma verdade sobre os demais, há uma tendência inconsciente que o leva para o monoteísmo, pois a guerra é para auto-afirmação sobre os demais povos; está aí a sua forte carga de competição e de conflito aspiração de domínio exterminando os Deuses dos demais povos. Por seu turno, a inclinação ao monoteísmo é substancial: a Confissão de Fé afirma o único Deus verdadeiro, nisto não há estranheza sobre guerra e conflito para a afirmação do único Deus pois é sua única verdade; ademais, deve-se refletir sobre esse modelo de religião que talvez estejam mais próxima da reta concepção de Deus, podemos chamar essa classe de monoteísmo de “monoteísmo atrnitário” que, na verdade, constituiu-se uma crítica de Karl Rahner aos manuais da teologia do século XVI até o século XX que relegava o mistério da Trindade apenas ao âmbito lógico, distante da vida concreta de cada cristão, de modo que, para o simples Cristão se tirasse excluísse o dogma da Trindade, afirmando-se apenas Jesus Cristo como Deus, pouquíssima coisa mudaria na vida da Igreja e dos cristãos aquela época. Para os povos, o sentido social e político do monoteísmo estrito, está na recusa a democracia de convivência e propicia formas autoritárias e totalitárias, comprometendo uma reta e legítima comunicação que engrandece o ser humano, porém, deve-se reconhecer que o monoteísmo é conquista judaico-cristã e, a ação política do povo de Israel por muitas vezes se inspirou nessa imagem de Deus: a monarquia. Leonardo Boff considerando a Trindade e a figura de Deus na sociologia mostra que sempre, está figura legítima o modo de vida e o modo político que se estabelece sobre determinado povo marcado por esta determinada figura de Deus monoteísmo rígido, por exemplo segue o modelo de relações sociais que enfraquece a possibilidade de uma verdadeira comunicação entre as pessoas, porém no cristianismo, sendo Deus comunhão de pessoas, abre-se mais para o diálogo a partir de uma semelhante dignidade entre as pessoas entre as pessoas porque Deus é acreditado e experimentado como comunhão de amor; assim, a Trindade fundamenta teologicamente o mistério da comunhão e da comunicação humana. Este é o traço mais característico da fé cristã: o Deus Uno e Trino harmonizando a unidade, a pluralidade, a identidade e a alteridade pessoal, tornando possível o diálogo e a comunicação. Apenas a partir da fé trinitária se possibilita uma fundamentação teológica da comunicação.

SOUSA DA SILVA Jonas Matheus
Enviado por SOUSA DA SILVA Jonas Matheus em 25/08/2017
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