Suicídio, uma abordagem literária e outros discursos: "Dois Corpos Que Caem" - João Silvério Trevisan: comentário

* Resenha do conto “Dois corpos que caem” por João Silvério Trevisan.

* Trevisan, João Silvério. Troços e Destroços. Rio-São Paulo, Record, 1997.

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A cultura nos engendra em valores e a identidade é construção de egos.

Ainda nos é difícil entender ou ponderar sobre questões tão polêmicas como o suicídio. A cada 45 minutos, uma pessoa se mata! Por quê?

http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/05/25/a-cada-45-minutos-uma-pessoa-se-suicida-no-brasil-dizem-especialistas-na-cas

O conto de Trevisan nos propõe uma reflexão axiológica em tons talvez de ironia e em câmera lenta o breve diálogo sobre dois suicidas.

http://resenhast5.blogspot.com.br/2015/11/dois-corpos-que-caem-joao-silverio.html

A questão gira em torno do sentido da vivência do amor e da homossexualidade.

E a cor dos olhos, pretexto ou não, cromatiza aspectos da vida ligando o início e o fim do conto.

Sendo conto, serve esse gênero ao escopo de que a traição nos precipita em uma crise sem precedência.

A referencialidade é a cor azul dos olhos - uma talvez eurocentricidade? - talvez a nossa dificuldade de autoaceitação na sociedade de alguns modos de ser e viver ainda vistos à margem - que devem ser abortados, daí talvez a imagem do suicídio.

Por muito tempo, ainda hoje, o fenômeno suicídio nos instiga a questões neurocientíficas, filosóficas, teológicas, das ciências da religião, da medicina, da psiquiatria e da sociologia.

Durkeim - Tratado sobre o suicídio - ficou como marco remoto da questão desde o início da sociologia, dentro da filosofia do Positivismo, hoje super criticado. Embora o suicídio exista estatisticamente, implica temáticas da consciência e do inconsciente ou questões de saúde mental e quimicamente mental, com tendencias e contextos subjetivos e objetivamentes em abertos e em estudos.

http://www.scielosp.org/pdf/icse/v6n11/20.pdf

Freud e outros aventaram o inconsciente e o conflito interior da psique e sua relação com Thanatus; daí a tanatologia, ciência sobre os clinicamente próximos à morte e precisam de acompanhamento.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tanatologia

"Freud amplia seus recursos teóricos identificando a melancolia com a autodestruição." http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/9703

Eros e Psique é mito da Grécia e atual ainda hoje.

http://www.infoescola.com/mitologia-grega/eros-e-psique/

Deus não nos condena como querem alguns. Deus não é rigidez, conhecedor da alma e dos corpos, não pode condenar simplesmente, porque é amor imensamente incondicional, acima das lógicas das religiões e culturas, ritos e preceitos e preconceitos.

A depressão e outros motivos são agravantes da natureza suicida.

Não se trata aqui de esgotarmos essa análise por aí. Não conhecemos toda a verdade e [Eclesiastes 1, 8] "Toda explicação fica pela metade, pois o homem não consegue terminá-la."

Por muito, tempo havia no cemitério um canto para os suicidas ou eram não recepcionados ali.

A palavra foi até evitadas, vergonha para a família. Suicidio: matar a si mesmo(a). Do Latim SUI, “a si mesmo”, mais -CIDIUM, forma combinante de CAEDERE, “bater, golpear, matar”.

http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/suicidio/

Ora, mesmo mediante ao tratamento, melhor com tratamento e acompanhamento da família, há riscos do suicídio. A medicina evolui com medicação para ajudar pessoas que enfrentam esse problema e a família que precisa de ajuda.

O próprio Padre Marcelo Rossi soube conviver com a depressão.

"Em julho de 2013 Padre Marcelo Rossi passou por uma profunda depressão e contou tudo que enfrentou neste momento durante uma conversa com Gilberto Barros no Sábado Total. " https://videos.bol.uol.com.br/video/padre-marcelo-rossi-fala-sobre-motivo-que-o-levou-a-depressao-0402CD9A3760C4995326

Augusto Cury escreveu recentemente obra sobre a ansiedade: o mal do século XX.

http://www.saraiva.com.br/ansiedade-como-enfrentar-o-mal-do-seculo-a-sindrome-do-pensamento-acelerado-6278664.html

No conto, parece ter uma ironia e um paradoxo que se interagem. O amor parece fenecer por motivos aparentemente superficiais. Mas, quando se fala dos sentidos de amor e sentido da vida, ruptura com a própria vida. O discurso fica seríssimo!

O amor não mata! Estranho admitir a tese do conto: o amor não; mas a paixão ("pathos", no grego, doença, desiquilíbrio, patologia.) pode levar a morte, ao suicídio. João admite a traição de seu parceiro: tinha olhos azuis.

No fim do conto, Antônio pergunta a João quanto a seu gostar de olhos azuis. Ambos, já estavam mortos, sem a resposta.

O suicídio é um assunto em aberto, ainda não nos tem resposta definitiva e assertiva verdadeira e convincente. Morrem os suicidas e as cartas, indícios não parecem nos convencer de sua verdade verdadeira.

Por que escolheram tais e tais caminhos estranhos? A depressão, os remédios, as dificuldades cruéis, o medo de viver, a incerteza da vida e da morte permanecem diante das mentes...

As contradições continuam discursiva e ética, moral, filosofia e teologiamente. Cientificamente!

Paradoxo do conto, Esborracham ao chão... A vida se esvai!

Querem ver sem poderem ver: João (Deus é amor, aqui João se sente não amado.) e Antônio é a negação etimológica de si - Não consegue ser: "O nome Antônio tem origem Grega, e significa INESTIMÁVEL. Está sempre pronto a se aventurar é uma pessoa cheia de energia, possui uma personalidade ativa e decidida, sabe o que quer da vida. Não vê graça numa vida sem desafios, gosta de aventuras." https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/antonio/

"Tem olhos, mas não veem!" O conto entra no campo da especulação, da conjecturação!

Não se aguenta viver sem a paixão, se não consegue viver o amor...

A vida pertence ao mistério, uma aventura a cada dia pela busca de um sentido ou dos sentidos para dar sentido ao que nos parece sem sentido...

A difícil possibilidade de viver a própria vida, a solidão, a desilusão, o medo, a rejeição, a traição...

Diante da dor da vida é escolhido viver sem dor... Nem que seja apelar para dar fim ao sofrer e à dor... A lógica é radicalista e perigosamente perversa: se vivo com dor, como viver sem dor: morrer é a única solução? Então, morro em nome da solução de morrer... Talvez, estranho pensar o desatino, o desespero do suicida.

Tudo é ainda para nós, que achamos ser normais, essa estratégia fatal.

A depressão é que pode matar se não houver a medicação e cuidados da família e encaminhamentos.

Não se pode alimentar preconceitos e condenações aos suicidas como no passado; como fôssemos donos da verdade e mandássemos ou seríamos Deus?

A vida é bom; não se pode dar simplesmente fim na vida.

O desafio é dar continuidade e sentido ao viver seja lá qual for a sua encruzilhada e paradoxo.

Buscamos luz, a luz está em nós e fora de nós... Difícil é enxergar, não importa a cor dos olhos, azuis ou castanhos, ou pretos ou cinzas... verdes ou não...

Não sejamos traídos por nós mesmos. O equilíbrio é um processo e não um produto mercadológico de felicidade capitalista, socialista, idealizada ou esparsa na utopia. Creio que não se pode viver sem utopias - mesmo quando a ideologia a queira descartar da gente.

Gente acredita em gente. Gente salva gente!

Gente cuida de gente. Deixemos a condenação de lado; Deus é do amor e não se encaixa na lógica dos que condenam...

É preciso continuar a estudar, verificar, ponderar e acreditar que vamos e convenhamos poder vencer os extremos da vida e da morte.

O suicídio é uma busca de luz no fundo escuro...

Contudo, não se banaliza e nem temeriza a vida pela via da morte, quando a vida ainda pulsa...

Ágape em luz com Eros. Thanatus tem seu momento...

Mas pode ser adiado!

"Ninguém trata mal a sua própria carne" (Efésios 5,29), não é?

J B Pereira e http://resenhast5.blogspot.com.br/2015/11/dois-corpos-que-caem-joao-silverio.html
Enviado por J B Pereira em 29/05/2017
Reeditado em 29/05/2017
Código do texto: T6013103
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