DISCWORLD (vol. 11): O SENHOR DA FOICE, de Terry Pratchett
Se você procura um livro que te faça dar gargalhadas, ou refletir sobre questões profundas da existência humana, ou que mostre uma estória bastante original, achará as três coisas em O Senhor da Foice, do inglês Terry Pratchett. O livro faz parte da mundialmente famosa série Discworld, que já vendeu 40 milhões de exemplares e foi traduzida para 33 idiomas. É o melhor e mais inteligente humor britânico. A premissa principal de Discworld é satirizar os mitos e as lendas, o que o autor consegue com maestria. Imagine o Morte pensando no sentido de sua existência. Ou um vampiro que tem medo de altura. Ou magos que nos momentos cruciais passam a discutir detalhes insignificantes ao invés de agir. Tudo isso e muito mais aparece no universo criado por Pratchett.
Todos os volumes da série são inter-dependentes, isto é, se passam no mesmo cenário (o fantástico mundo do Discoworld), podem trazer personagens recorrentes (como o Morte), mas sempre em estórias distintas (com exceção do vol. 2 que é a continuação do vol. 1). Portanto, se você não leu nenhum dos volumes anteriores, fique tranqüilo que não se sentirá perdido. As referências às estórias anteriores são tão sutis quanto àquelas feitas a outros autores. Como ocorre nos livros que possuem muitas referências externas, conhecer mais sobre quem o autor está parafraseando tornará a sua leitura mais rica e interessante. Como no caso em que perguntam para o Morte se alguém já conseguira fugir dele, e a resposta é não, no máximo conseguiram atrasar um pouco a hora em um jogo de xadrez (o que acontece em O Sétimo Selo, filme de 1956 dirigido por Ingmar Bergman). Mas não conhecer as referências não lhe prejudicará em nada a diversão.
Outro aspecto interessante em Discworld é a descrição e interpretação de alguns aspectos da vida moderna pela ótica dos seres mitológicos. Você jamais verá um carrinho de supermercado e um shopping center da mesma maneira depois de ler este livro.
A estória gira em torno de dois personagens principais, e que praticamente não se encontram no livro: o Morte, o esqueleto da foice e do manto negro, e Windle Poons, um mago de 130 anos. Enquanto o primeiro é demitido e passa a trabalhar na colheita em uma fazenda interagindo mais com os seres humanos, o segundo morre, mas por não ter ninguém para levá-lo para uma outra existência, vira um morto-vivo, um zumbi. As reflexões profundas e divertidas sobre os aspectos da morte aparecem a todo momento na trama de ambos personagens e nos levam a pensar um pouco mais sobre este mistério de maneira bem suave. Se não existisse a morte, como seriam as coisas? Porque alguns esperam viver suas "verdadeiras vidas" somente depois de morrerem e esquecem-se de aproveitar a única vida que têm certeza de existir? Como se deve encarar a morte? São perguntas feitas por muitos - ou todos - e em O Senhor da Foice você achará mais uma resposta, talvez não a melhor, mas pelo menos a mais divertida.