A FLORESTA DEVASSADA – O OURO DA AMAZÔNIA É A SUA BIODIVERSIDADE

Resenha

por Enzo Carlo Barrocco

O Livro de Ouro da Amazônia: Mitos e Verdades Sobre a Região Mais Cobiçada do Planeta (Ediouro, 2004, 397 páginas) não é um lançamento novo, como visto, no entanto é de boa nota fazer uma resenha a respeito deste belíssimo livro. João Meirelles Filho, embora paulista de nascimento, veio morar em Belém para melhor sentir e entender esta importante região do Brasil. Como a maioria das pessoas conhece pouquíssimo a respeito da Amazônia, este livro mostra de maneira muito clara a floresta em seus vários aspectos: geográfico, histórico, político, ambiental, demográfico. João Meirelles Filho, além de mostrar todas as mazelas por quais a Amazônia vem passando ao longo desses anos todos, com intensificação nos últimos 50 anos, reparte com o leitor soluções para alguns dos problemas que afligem esta região. Meirelles também fala das lendas e crendices que fazem parte do universo amazônico. Destaque para o Capítulo IV – Vida Amazônica – A Biodiversidade, no qual o autor fala de árvores e bichos - a fauna e a flora partes fundamentais no intrincado ecossistema da região. O livro reúne também um glossário das espécies vegetais e animais apresentados com seus nomes científicos, medidas,

abreveaturas e siglas. A bibliografia apresentada no livro é excelente e inclui a recomendação de filmes relacionados ao tema. Todos os capítulos são ilustrados com belas imagens em preto e branco de diversos fotógrafos, entre os quais o próprio Meirelles e do excelente profissional Araquém Alcântara (Florianópolis 1951) que também é jornalista. Aliás, Araquém assina um excelente ensaio fotográfico no livro. Portanto, o Livro de Ouro da Amazônia é uma raríssima oportunidade para se conhecer essa região tão cobiçada e, por isso, tão devastada pela ganância e pela irresponsabilidade dos espertalhões de plantão.

Trecho do Livro de Ouro da Amazônia: Mitos e Verdades Sobre a Região Mais Cobiçada do Planeta

(...)

A Amazônia tem um significado muito maior para seus habitantes, para os países que a colheram para a humanidade. Na ânsia de conquistar, domar, esquecemo-nos do principal – para quem é importante a Amazônia? Para que substituir a floresta complexa pelo pasto para bife se há tantas opções para gerar matérias-primas, renda, emprego, e principalmente, qualidade de vida e felicidade?

As Nações Unidas definem desenvolvimento sustentável como “satisfazer as necessidades das atuais gerações sem comprometer a habilidade de futuras gerações em atender às suas próprias necessidades”. Em vez de lançarmos os nossos “astronautas”, os melhores médicos, ambientalistas, cientistas, empresários, etc. para se dedicar à Amazônia, preferimos enviar os menos instruídos, mais afoitos, mais desavisados e mais gananciosos.

A Amazônia deverá ter um futuro adequado quando a floresta em pé valer mais do que um caminhão de bois ou de tábuas para o canteiro de obras na periferia de São Paulo. Será brasileira, venezuelana ou boliviana, no momento em que viajar para a região for mais excitante do que comer pipocas num parque temático na Flórida. E, principalmente, na ocasião em que a vida humana tiver mais valor do que um naco de ouro ou um pedaço de terra, em que pararmos algumas horas conhecer e venerar uma das belas mitologias indígenas.

A vocação florestal

A importância de Amazônia para a humanidade depende da máxima manutenção dos ambientes em seu estado conservado. Como a maior parte é coberta por florestas, trata-se de uma vocação nitidamente florestal.

Segundo Norman Myers, as florestas tropicais, apesar de conterem 70% das espécies vegetais do planeta, contribuem muito pouco como fontes de matérias-primas florestais. A razão está no pequeno conhecimento que temos da floresta e na pouca difusão do que sabemos e de suas possibilidades de uso. Das 90 mil espécies de plantas da América do Sul, pouco mais de 1% foram devidamente testadas para os diferentes usos apresentados neste capítulo. Menos de 10% das espécies testadas são utilizadas em escala comercial representativa. Isso significa, segundo o cientista, que estamos na pré-história do aproveitamento das florestas tropicais.

Para Herbert Shubart, “a vocação de terras firmes da Amazônia, no que toca à produção econômica, é nitidamente florestal”. O cientista, assim como grande parte dos especialistas, recomenda o regime consorciado, “a associação no espaço e no tempo de culturas alimentícias de ciclo curto com culturas arbóreas de ciclo longo, tanto de produtos comercializáveis, como a borracha, o cacau, o dendê e outros, como de essências madeireiras” (...) “Essa lição da floresta sugere claramente que os projetos em pequena escala, intensivamente manejados, diversificados, têm maiores possibilidades de ser bem-sucedidos do que os grandes projetos agroindustriais baseados na monocultura”.

As doze vocações

Se há onze ameaças, besta do apocalipse, que comem a Amazônia, há um exército celestial de 12 vocações, 12 talentos, 12 competências, fortes razões para que o amazônida, o brasileiro, o peruano, o boliviano, o cidadão do mundo diga: “Eu tenho orgulho de que a Amazônia preste esses serviços à humanidade”:

1. Os serviços ambientais

2. A água

3. Os minerais

4. A produção de solo

5. A energia das plantas

6. A farmácia da floresta

7. A vocação madeireira

8. Os produtos florestais não madeireiras

9. Os produtos alimentares vegetais

10. O artesanato

11. A aqüicultura, a pesca de subsistência e a pesca esportiva

12. O ecoturismo e os estudos do meio

(...)

(Págs:. 253 a 255)

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 09/08/2007
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