RESENHA - SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA

Se eu fechar os olhos agora, foi o livro de estreia na ficção do repórter da Rede Globo, Edney Silvestre.

O livro ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 2010, mas perdeu o troféu geral para Leite Derramado, de Chico Buarque, segundo colocado da categoria. A decisão motivou a Editora Record a boicotar a premiação este ano. A Câmara Brasileira do Livro, organizadora da premiação, decidiu que apenas os vencedores das categorias vão concorrer à premiação de Livro do Ano.

O romance de 304 páginas, a preço de capa de R$ 49,90, começa com a frase do título, quando Paulo relembra o corpo que encontrou às margens de um rio numa cidade do interior do estado do Rio de Janeiro (provavelmente Valença, terra natal do autor), em 1961. Se ele fechasse os olhos, ainda sentia o sangue da moça grudado nos seus dedos e o cheiro da lama impregnada nele.

Paulo estava em companhia do seu amigo de colégio e de infância, Eduardo. Ambos com doze anos, sendo que o primeiro era quarenta e oito dias mais velho, como eles repetiam em várias partes do livro. Os dois tinham sido repreendidos pelo diretor, depois de flagrados com uma revista em quadrinhos erótica de Carlos Zéfiro. Esta é uma das referências de comportamento de jovens e adolescentes no início daqueles anos 1960. Edney sempre descrevia esses ícones e acontecimentos marcantes da época ao longo do texto.

Sem poder voltar para a casa antes do fim das aulas, foram tomar banho de rio. Quando saía, Paulo tropeçou no corpo. Ao comunicar a localização do cadáver de uma mulher aparentemente loura, com várias marcas de facada, a blusa rasgada, um dos seios expostos e outro desfigurado, a dupla chegou a ser tratada como suspeita do assassinato e foi interrogada com toda truculência e humilhação policial.

Os dois, contudo, foram liberados quando o marido da vítima (identificada a princípio como Anita), um dentista da cidade, chamado Doutor Andrade, confessou o crime. Paulo, porém, não escapou da surra dada pelo pai.

Paulo e Eduardo não acreditaram na culpa do marido e decidiram investigar o crime por conta própria, para descobrirem o verdadeiro assassino. Ao invadirem a casa do dentista em busca de pistas, eles acabaram conhecendo Ubiratan, um ex-merendeiro e ex-preso político da ditadura de Getúlio Vargas, que morava no asilo São Simão.

De tanto pressioná-lo, conseguiram um aliado importante para identificar o verdadeiro assassino de Anita, que na verdade, se chamava Aparecida e era uma mestiça criada num orfanato, que pintou os cabelos de louros assim que ficou rica ao se casar com o dentista.

Durante a investigação, o trio foi fazendo outras descobertas e envolveram em tramas de infidelidade conjugal. incesto, racismo, política e religião.

Entraram em cena personagens como Irmã Rosa, a freira administradora do orfanato Santa Rita de Cássia - onde Anita foi criada; Renato, irmão da vítima; Madalena, avó da moça; o dono da fábrica de tecidos da cidade (União & Progresso), Geraldo Bastos; o prefeito Marques Torres, sua esposa Isabel e a filha Cecília, além da prostituta Hanna Wizoreck.

Jaime Leonel Miranda de Macedo, diretor do Colégio Municipal Maria Beatriz Marques Torres, onde estudavam os meninos; Rodolfo e Rosângela, pais de Eduardo; Paulo Roberto e Antônio, respectivamente pai e irmão de Paulo, que era órfão da mãe, Maria José, são outros personagens que apareceram ou foram lembrados durante a história.

Minha opinião: O texto do livro começou confuso. A fala insistente e nervosa dos meninos, quando se sentiam ofendidos ou ignorados, chegava a irritar. A identificação nos diálogos era pouca. Em compensação, a narrativa foi se tornando mais clara a partir da metade do livro. Ainda assim, a solução do crime ficou vaga. Fiquei mais emocionado com a atualização da vida dos meninos protagonistas nos últimos capítulos.

Avaliação Final: **

Sobre o autor: Edney Silvestre nasceu em Valença, interior do estado do Rio, no dia 27 de abril de 1950. É filho de um dono de armazém com uma ex-operária de uma fábrica de tecidos (referência biográfica presente no romance). Começou a carreira na revista Manchete, depois foi para O Cruzeiro, de onde saiu demitido por ordens da ditadura militar. Sem espaço no mercado de trabalho, foi cursar publicidade e propaganda e atuou na área durante dez anos, até ser contratado pelo jornal O Globo e depois ser transferido para Nova York. E foi lá, já pela Rede Globo, que ele cobriu os atentados de 11 de setembro de 2001.

Edney voltou para o Rio como repórter de rede. Apresentou o quadro Bate-papo no RJTV e daí saiu o programa Brasileiros, em parceria com Neide Duarte e Marcelo Canellas. Paralelamente a toda a sua carreira, lançou-se como escritor.

Antes de Se eu fechar os olhos agora, publicou Dias de cachorro louco (crônicas pela Record, em 1995), Outros tempos (crônicas e memórias pela Record, em 2002), Contestadores (entrevistas pela Editora Francis - 2003) e Grandes entrevistas do Milênio (Editora Globo - 2009). Ele também foi roteirista de documentários e dirigiu o curta Noivado, premiado como Melhor Filme Experimental do III Festival de Cinema Amador JB-Mesbla, em 1968.

Gustavo do Carmo
Enviado por Gustavo do Carmo em 09/04/2017
Código do texto: T5965617
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