Resenha: Pedagogia da autonomia ( Por Vinícius A. S. Ressurreição)

Graduado pela Faculdade de Direito de Recife (Pernambuco). Foi professor de Língua Portuguesa do Colégio Oswaldo Cruz e diretor do setor de Educação e Cultura do SESI (Serviço Social da Indústria) de 1947-1954 e superintendente do mesmo de 1954-1957. Ao lado de outros educadores e pessoas interessadas na educação escolarizada, fundou o Instituto Capibaribe.

Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963.

A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização como um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita , quanto para a sua libertação ,fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.

Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard, em estreita colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os dez anos seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África. Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para “reaprender” seu país. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no Município de São Paulo, maior cidade do Brasil. Durante seu mandato, fez um grande esforço na implementação de movimentos de alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial dos professores. A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilou-se primeiro no Chile, onde, encontrando um clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas teses,

desenvolveu, durante 5 anos, trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Foi aí que escreveu a sua principal obra: Pedagogia do oprimido.

Em Paulo Freire, conviveram sempre presente senso de humor e a não menos constante indignação contra todo tipo de injustiça. Casou-se, em 1944, com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira.

A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Honoris Causa por vinte e sete universidades. Por seus trabalhos na área educacional, recebeu, entre outros, os seguintes prêmios: Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento (Bélgica, 1980); Prêmio UNESCO da Educação para a Paz (1986 e Prêmio Andres Belloda Organização dos Estados Americanos, como Educador do Continentes (1992). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo, Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife, Pernambuco,

Pedagogia da Autonomia, contém três capítulos: Não há docência sem discência; Ensinar não é transferir conhecimento e Ensinar é uma especificidade humana. Esta obra norteia discussões alusivas ao processo de formação do educador e da educadora, momento em que nos remete a refletir sobre a prática educativa progressiva, em defesa da autonomia do educando e da educanda. Por meio deste primeiro capítulo Paulo Freire nos convida a dialogar sobre esta formação docente , enfatizando que formar é mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas, por isto ele crítica o neoliberalismo . Relacionando aos momentos atuais, no Brasil, o tema proposto e defendido por Freire encerra em si mesmo uma profecia social que invade o campo educacional na sociedade brasileira, discutida de forma crítica por educadores (as) da atualidade como Marilena Chaui , filósofa e professora universitária, que em recente entrevista sobre a ideologia neoliberal a denomina - O retrato de uma catástrofe - Ela apresenta a sua visão sobre como a meritocracia é construída especialmente por jovens prestes a ingressar no mercado de trabalho. Momento que questionar a reforma do Ensino Médio no Brasil se faz pertinente, Chaui afirma em um vídeo que a marca do neoliberalismo, é o desmantelamento de todas as formas de ação social da democracia, é a abolição dos direitos sociais, transformando-os em serviços que podem ser comprados e vendidos no mercado. O ser humano neste contexto, passa a ser um serviço vendido, cada indivíduo fruto do investimento familiar, o jovem em processo de formação, passa a ser empresário de si mesmo, negociando-se como um produto que possui os atributos necessários a partir de um modelo robotizado, cujo diploma, currículo mais reforçado, seguros de saúde , seguros de aposentadoria, enfim , são elementos que fazem deste ser em construção, aquele que tem atributos para poder entrar na disputa , competir entre membros de seu grupo (gerenciadores de si mesmos, empresários de si mesmos) . Surge neste contexto, uma classe média dividida, cujos critérios faz o sujeito buscar ocupar uma escala social. Esta Meritocracia, cria a falsa ilusão de que todo indivíduo faz parte do sistema , cujo enfoque Chaui considera uma tragédia, pois , o sujeito não se ver mais como um trabalhador, se ver um empresário que presta os seus serviços. . (Jornalistas Livres – 30 de janeiro de 2017) Entretanto, a condição dada a este sujeito, serve aos interesses de quem? E quem não seguiu, não apreendeu o necessário para pertencer ao grupo dos que prestam os serviços que a classe econômica do modelo mercadológico elitizada definiu, por que a família não teve condição de financiar? No neoliberalismo, o estado se exime dos direitos dos trabalhadores e filhos destes, assim, oferece um ensino nos moldes que melhor convém ao custo benefício. A identidade de classe se perde neste emaranhado de interesses, segregando cada vez mais os que podem buscar uma formação , que atende ao modelo robotizado. Mas enquanto educadores (as), graduandos (as) envolvidos(as) em sonhos reflexivos, se faz necessário repensar a ação de educar, a ação de ser no mundo, para não ser também robotizados . Ao retornar a Terra , se possível fosse, Freire diria o que declara em seu livro Pedagogia da Autonomia : “ Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu discurso quando me refiro às injustiças a que são submetidos os esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum interesse de, não importa que ordem, assumir um ar de observador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos. Em tempo algum pude ser um observador "acinzentadamente" imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética. “ ( 1997: pag: 6/7)

Não é cometer atos terroristas que nos convida este mestre educador, ele estende sua visão a todos e todas a responsabilidade com a ética no exercício da profissão. A formação docente passa por uma ética que se manifesta contra ação discriminatória de raça, de gênero, de classe. Freire afirma que é por esta ética inseparável da prática, que com os jovens ou com adultos, devemos lutar. E a melhor maneira de lutar é vivê-la em nossa prática. E de qual forma? Na escolha do conteúdo, na citação de autores, na forma como lidamos com os sentimentos e conhecimentos trazidos pelos e pelas estudantes, enfim. Muitos dirão segundo Freire que lutar contra o sistema é utopia, com estes ele argumenta: “A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social que, de história e cultural, passa a ser ou a virar "quase natural". Então nosso papel definido enquanto educadores (as) no mundo, é lutar, não aceitar o discurso neoliberal da globalização como mecanismo de imposição ao modelo imposto socialmente e politicamente.

O livro Pedagogia da Autonomia , frente as novas mudanças no Brasil, [ e especificamente trazendo como exemplo, a reforma do ensino médio, inquieta a todos e todas profissionais em educação , ou em formação nos cursos superiores, que visam não adaptar-se e nem adaptar o(a) educando(a) ao que é imposto, mas a fazê-lo pensar sobre o que é ser e estar no mundo. Vamos nos convencer que nada ou pouco podemos fazer? Este não é um discurso da prática docente de educadoras ou educadores críticos, progressistas ,assim Paulo Freire estende o convite da reflexão sobre a pratica aos conservadores também, momento em que afirma encontrar na obra dele, seja qual for a opção política, um caminho para a própria formação, pois na continuidade da leitura vai cabendo ao leitor ou leitora o exercício de perceber se este ou aquele saber referido corresponde à natureza da prática progressista ou conservadora ou se, pelo contrário, é exigência da prática educativa mesmo independentemente de sua cor política ou ideológica. Para Freire o que interessa , é alinhar e discutir alguns saberes fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista,, por isso , acredita que devem ser conteúdos obrigatórios à organização programática da formação docente. Diante do exposto, chega-se a conclusão que o ato de ensinar é se unir ao educando ou a educanda favorecendo possibilidades de elaboração de conhecimentos.( 1997:pág11/ 12)

Em uma prática conservadora, o educando ou a educanda não mantém vivo em si o gosto da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade de arriscar-se, de aventurar-se, de certa forma o "imuniza" contra o poder apassivador do "bancarismo". Assim, Freire chama à atenção para as práticas respaldadas na memorização, impedindo de perceber a relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no país ( 1997:pág 13/ 14) Por me sentir capaz de estabelecer conexões, trago como exemplo, enquanto estudante de Música nesta Universidade, o ensino e aprendizagem enquanto Política `Pública no país, trazendo o contexto da política neoliberal no berço do ensino médio e sua reforma , ou sobre o sucateamento da universidade pública. De acordo com Paulo Freire ensinar exige rigorosidade metódica, e também exige pesquisa: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.”, bem como “ Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.” Porque não discutir com os alunos a realidade ? Porque não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? Existe a ética de classe embutida neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi_los aos alunos. ( 1997: pág 16 Assim, percebe-se que ensinar a aceitar a reforma na educação, a reforma na constituição brasileira ( licença por escrever com minúscula, pois é assim que a vejo, diante do descaso dos políticos para com a população ) , vendo tudo como normal, é uma ação que apenas busca justificar a corrupção, presente desde sempre na comunidade dos senados e câmaras. Não ensinar os conteúdos da vida , pois ”Ensinar exige criticidade, a curiosidade ingênua que, "desarmada", esta associada ao saber do senso comum, é a mesma curiosidade que, criticizando-se, aproximando-se de forma cada vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, se torna curiosidade epistemológica , não é a negação da tecnologia e da ciência. Pelo contrario é consideração de quem, de um lado, não diviniza a tecnologia, mas, de outro, não há diaboliza. “ ( 1997:pág 17)Freire afirma que “Ensinar exige estética e ética, portanto, ao se respeitar a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. O que nos faz compreender que é preciso uma ação solidária no campo social e na política ,pois precisamos construir uma sociedade mais justa, onde todo sujeito seja construtor de si mesmo em contato com seus iguais, respeitando sua construção cultural em formação democrática. Assim, se faz necessário que se compreenda que a “ ...aprendizagem da assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com o elitismo autoritário dos que se pensam donos da verdade e do saber articulado...” (1997: pág 24)

No capítulo dois, Freire aborda que Ensinar não e transferir conhecimento, ensinar exige uma reflexão crítica sobre a própria prática. O professor defendido por Freire, precisa não se sentir concluído, pois é necessário convidar o educando , a educanda a elaborar o saber, e este saber deve ter no cerne da construção a presença da ética, ou seja, da coerência entre ser aquilo que se fundamenta e defende. Por isto o educador , a educadora precisa sempre buscar formação, para compreender que por meio da humildade, daquele que está sempre aprendendo, tem em sua vida profissional, o educando, a educanda, que também tem muito o que aprender, assim, saberá lutar pelos direitos dos (as ) estudantes, por se ver sempre no processo da aprendizagem, momento em que a tolerância frente as necessidades, passa a ser prática desafiadora, pois sendo tolerante não perde a própria competência. “É como profissionais idôneos - na competência ,que se organiza politicamente , esta é, talvez , a maior força dos educadores - que eles e elas devem ver-se a si mesmos e a si mesmas. É nesse sentido que os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política...” ( 1997: pág 40) O respeito ao aluno passa também , segundo Freire, não ter por que omitir, a opção política assumindo uma neutralidade que não existe. “O meu papel, ao contrario, é o de quem testemunha o direito de comparar, de escolher, de romper, de decidir e estimular a assunção desde direito por parte dos educandos. “(1997: pág 42)

- “Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar mas para mudar.”(1997: pág 46) Ação necessária que ocorra capacitação na intervenção da realidade . Sendo estudante e professor: Em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra que estudo? Contra quem estudo?(1997: pág 47) Sabemos que mudar é difícil, que toda ação político - pedagógica, nos coloca na zona de desconforto. “É importante ter sempre claro que faz parte do poder ideológico dominante a inculcação nos dominados da responsabilidade por sua situação. Daí a culpa que sentem eles, em determinado momento de suas relações com o seu contexto e com suas classes dominantes por se acharem nesta ou naquela situação desvantajosa(1997: pág 50) A alfabetização, por exemplo, numa área de miséria, só ganha sentido na dimensão humana se, com ela, se realiza uma espécie de psicanálise histórico-político-social de que vá resultando a extrojeção da culpa indevida. A isto corresponde a "expulsão" do opressor de "dentro" do oprimido, enquanto sombra invasora.(1997: págs 50/51) Estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta, o que se pode pretender com esta ou com aquela pergunta em lugar da passividade em face das explicações discursivas do professor, espécies de respostas a perguntas que não foram feitas. Isto significa realmente que devamos reduzir a atividade docente em nome da defesa da curiosidade necessária, a puro vai-e-vem de perguntas e respostas, que burocraticamente se esterilizam. A dialogicidade não nega a validade de momentos explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.(1997: pág 52)

No capítulo três, Freire defende que Ensinar é uma especificidade humana, o que demanda a compreensão de que “Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade, momento em que ele afirma que : “ O professor que não leve a sério sua formação, que não estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. Há professoras cientificamente preparados mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. “( 1997: pág 56) Outra qualidade indispensável à autoridade em suas relações com as liberdade é a generosidade. A arrogância que nega a generosidade nega também a humildade, que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que se regozijam com sua humilhação. A autoridade coerentemente democrática, fundando-se na certeza da importância, quer de si mesma, quer da liberdade dos educandos para a construção de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. Pelo contrário, aposta nela.

Ensinar é comprometimento com a capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.(1997: pág 60)

Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradora da ideologia dominante(1997:pág61) Existem tarefas para educadoras e educadores progressistas cumprir, dentro e fora das escolas, enquanto objeto de estudo e ensino: reforma agrária como projeto econômico, político e ético da maior importância para o próprio desenvolvimento nacional,dentre outros conteúdos... Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor não importa o que. Não posso ser professor a favor simplesmente do homem ou da humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar (1997: pág 64)

Ensinar exige liberdade e autoridade, - Oferecer liberdade ao educando delimitando junto com este os pros e contra da própria ação da liberdade é uma tarefa desafiadora e necessária, pois não é descrédito abrir mão da decisão enquanto educador, na tarefa de ensinar o educando tomar decisões.

Ensinar exige tomada consciente de decisões, O que se coloca à educadora ou educador democrático, consciente da impossibilidade da neutralidade da educação, é forjar em si um saber especial, que jamais deve abandonar, saber que motiva e sustenta sua luta: se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a educação pode. Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que quero dizer é que a educação nem é uma força imbatível a serviço da transformação da sociedade, porque assim eu queira, nem tampouco é a perpetuação do 'status quo" porque o dominante o decrete. O educador e a educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica.(1997: pág 70)

Ensinar exige saber escutar, com a alma de um educador progressista, que considera junto com o educando, a educanda, os saberes que tem na bagagem, considerando os seus saberes também, numa relação dialógica do(a)docente que oferece elementos que auxiliem na construção de novos saberes e re- apropriação de saberes outros. Ação que demanda paciência, humildade, pois toda aprendizagem, perpassa, pelo fardo necessário do erro até que venho o acerto.” Todo ensino de conteúdos demanda de quem se acha na posição de aprendiz que, a partir de certo momento, vá assumindo a autoria também do conhecimento do objeto.(1997: pág 77)

Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica,e enquanto educador (a), deve estar advertido do poder do discurso ideológico, começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas é possível que não perceba a natureza ideológica do discurso que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem um poder de persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir, das coisas, dos acontecimentos.(1997: pág 83) Não podemos escutar, sem um mínimo de reação crítica, discursos como este:"Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. Perguntar-lhe seria uma perda de tempo."( 1997: pág 84) Atitude correta de quem se encontra em permanente disponibilidade a tocar e a ser tocado, a perguntar e a responder, a concordar e a discordar.( 1997: pág 85)

Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Como professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha posição em face de uma decisão governamental. ( 1997: pág 85 ) Decisão, que pode custar momentos de não certezas e ter que assumir a indecisão, afinal, um ser não concluído, não tem domínio sobre todos os saberes. “Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objetivo da reflexão crítica deveria fazer parte da aventura docente.”( 1997: pág 86 ) O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História. ( 1997: pág 86)

Enquanto o educador e educadora deve abrir a possibilidade de um diálogo com o educando ,a educanda, buscando conhecer o que está fora dos muros da escola, pois isto vai diminuindo a distância que o (a) separa das condições em que vivem os (as) estudantes, assim , vai aderindo os sonhos , a luta pela mudança que muitas vezes ele(a)quer ver no mundo . E a partir desta possibilidade, também vai surgindo no cenário educacional, espaço para novas aprendizagens, que dê condição de enfrentamento como por exemplo “a força da ideologia; saberes técnicos, em diferentes áreas, como a da comunicação. Como desocultar escondidas, como desmistificar a farsa ideológica, espécie de arapuca atraente em que facilmente caímos. Como enfrentar o extraordinário poder da mídia, da linguagem da televisão, de sua "sintaxe" que reduz a um mesmo plano o passado e o presente e sugere que o que ainda não há já está feito. Mais ainda, que diversifica temáticas no noticiário sem que haja tempo para a reflexão sobre os variados assuntos. De uma notícia sobre Miss Brasil se passa a um terremoto na China; de um escândalo envolvendo mais um banco dilapidado por diretores inescrupulosos temos cenas de um trem que descarrilhou em Zurique.”( 1997: 88)

Ensinar exige querer bem aos educandos preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e "cinzento" me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele. ( 1997 pág 89)

Conclusão

Paulo Freire , nos oferece um presente , as suas obras, dentre estas, Pedagogia da Autonomia, que desmonta a ideologia dominante com a docilidade de quem sabe se posicionar frente as ações opressoras.

Defensor dos menos favorecidos, sabe como ninguém se colocar do lugar do oprimido, ao ponto de por meio da sua escrita, descrever sentimentos por vezes não tão claros, no cotidiano de quem sente.

Na busca por uma formação recheada de reflexões à luz da ideologia libertadora, Pedagogia da Autonomia aponta os caminhos necessários para este fazer educador , educadora no espaço da sociedade brasileira.

Não nos convida para viver uma utopia longe de ser efetivada, pois no seu pensar educacional, apresenta os testemunhos de lutas, e a compreensão de como a práxis é aliada na jornada enquanto docente e discente.

Ser educador (a) num contexto do neoliberalismo instalado depende da convicção da resistência de um saber conquistado, elaborado por quem é progressista, crítico, exaustivamente militante da ideologia que edifica a humanidade enquanto grupo de pessoas que precisa ter garantido direitos e alimentar o sistema politico econômico com a prática dos seus deveres.

Enfim, na amorosidade de sua própria autonomia enquanto ser político no mundo, foi , é, e sempre será aquele que mobiliza as massas, enfrenta a adversidade e não se intimida, pois os valores pelos quais sempre lutou, empodera a sua ação de ser e estar no mundo.

Com a simplicidade, compromisso, competência, ´ética, afetividade ensina ser educador e educando com autonomia.

Vinìcius Alan S Ressurreião
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 25/02/2017
Reeditado em 08/10/2023
Código do texto: T5923756
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