EXPERIENCIA DE SI E EXPERIENCIA DE DEUS
Karl Rahner, Experiência de si mesmo e experiência de Deus, in “Escritos de Teologia”, V, Cristandad: Madrid, 2003.
Rahner afirma que o sujeito homem se experimenta e de define como aquele ser que é “quodammodo omnia”, não um objeto particular de natureza coisal entre muitos outros, mas aquele existente incompreensível, no qual toda a realidade acontece por si mesma, de modo que pode ser entendido de maneira adequada somente quando se experimenta e compreende a realidade em geral.
Para Rahner, a doutrina sobre Deus não deve ser uma ciência regional particular, mas como doutrina filosófica sobre a divindade, a única ontologia no seu complexo, vista desde um prisma particular. Ele ainda afirma que o homem, na atuação imediata da sua vida, experimenta de maneira atemática e irrefletida muito mais coisas daquelas que conhece através da reflexão vulgar e cientifica sobre si mesmo.
Cada experiência humana contem em si um momento transcendental e um momento histórico a posteriori, pelo qual é contemporaneamente subjetiva e objetiva, com a consequência que a história concreta da vida é precisamente a história transcendental da consciência e da liberdade do homem e vice-versa. Assim, a primeira coisa a fazer, quando se fala de auto experiência e de experiência de Deus é de afirmar a sua unidade. Unidade não significa uniformidade absoluta. De fato, também o sujeito pensado transcendentalmente, assim como experimentamos, é distinto daquilo que entendemos quando dizemos Deus. Experiência de si e experiência de Deus não são idênticas. No conhecimento de Deus o sujeito experimenta a si mesmo.
A auto-experiência é a condição de possibilidade da experiência de Deus, porque uma orientação ao ser em geral e, portanto, a Deus é possível somente onde o sujeito colhe si mesmo como distinto do seu próprio ato e do seu objeto. A história a auto-experiência é a história da experiência de Deus.
A transcendentalidade do homem na consciência e na liberdade verso o ser absoluto, verso o futuro absoluto, verso o mistério incompreensível, verso o último fundamento da humanidade é também a condição de possibilidade do fato que o sujeito se experimenta estreitamente como tal e neste sentido se objetiva sempre.
A unidade da experiência de Deus e a auto-experiência é a condição da possibilidade dessa unidade, que a tradição teológica reconhece entre o amor de Deus e o amor do próximo e que é de fundamental importância para uma reta compreensão do cristianismo. Rahner ainda diz que o homem realiza a si mesmo somente no encontro com o outro homem, que se oferece historicamente à sua experiência no conhecimento e na liberdade, que não é uma coisa, mas um indivíduo.
No conhecimento e na liberdade da vida vivida concretamente, o eu é sempre em referência a um tu e isso em modo originário, seja da parte do eu que da parte do tu; o eu se experimenta somente e sempre no encontro com as outras pessoas, distinguindo-se e identificando-se com essas. Experimentamo-nos quando experimentamos o outro e não a outra coisa. Diz Rahner que a auto-experiência acontece de modo unido à experiência dos outros. Quando acontece essa, a outra também acontece. Quem não encontra o próximo, não encontra verdadeiramente nem mesmo si próprio, não é um verdadeiro sujeito concreto, capaz de se identificar consigo mesmo, mas apenas um sujeito abstrato e um homem que perdeu a si mesmo. De consequência, a relação concreta de um sujeito verso si mesmo, a auto-experiência depende estreitamente do modo como o sujeito encontra o outro.
Ele ainda diz que a unidade entre o amor de Deus e o amor do próximo é pensável somente pressupondo a unidade entre experiência de Deus e auto-experiência. Somente quando a relação do sujeito consigo mesmo, com Deus e com o próximo coexistem em maneira não puramente regional e particular, mas são presentes e se condicionam reciprocamente de modo necessário, mesmo que ainda a tematicamente e sem reflexão.
A história concreta da experiência de si mesmo, em toda a sua amplitude e distância , é também a história da originaria experiência de Deus. A história do conhecimento refletido de Deus é apenas um momento particular e secundário. Rahner diz que a história da liberdade de um homem continua e é sempre exposta a uma contínua reinterpretação da parte da liberdade, ainda prossiga toda a sua unidade e permanência. Assim, para Rahner, a história da auto-experiência, isto é, da auto interpretação do homem atualizada na liberdade, é o eo ipso é também a história da sua experiência de Deus e vice-versa. Na história da auto-experiência, a experiência de uma perda de identidade seja também uma perda da experiência de Deus, que acontece com a rejeição de aceitar tal experiência permanente.