Ética da conveniência
Assis Silva
No livro “Ética e vergonha na cara”, escrito em forma de diálogo entre Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho, são discutidos diversos temas sobre ética, temas banais como por exemplo, jogar lixo na rua. Os autores abordam tópicos como ética, bom senso e vida em comunidade de uma maneira leve e direta. No capítulo ética da convivência, base desse escrito, é abordado sobre uma ética baseada em sentimento, paixões.
O capitulo começa com Cortela contando um fato interessante que aconteceu em uma corrida de cross-country em que o espanhol Ivan Fernández “ajudou” o queniano Abel Mutai a ganhar a corrida, sendo que o espanhol poderia ganhar de forma lícita. Mas nem tudo o que é lícito pode ser ético. O queniano confuso com a sinalização, pensava que já tinha ganhado a prova e parou para posar para fotos estando a poucos metros de cruzar a linha de chegada, o espanhol vendo a situação de seu adversário o alertou, porém, o queniano não entendia. O espanhol então o empurrou até a linha de chegada. Esse fato traz presente algo muito relevante para a ética e que falta muito na contemporaneidade: o que as pessoas amadas vão pensar, o que direi a elas. Pois foi isso que o corredor espanhol disse a um jornalista que o interpelou: “se eu ganhasse desse jeito, o que ia falar para a minha mãe” (Cortela, 2014, p.10).
Diante de tão brilhante ação do corredor espanhol cabe a pergunta sobre ganho, que mérito tem o ganho sobre a perda do outro, tendo a possibilidade de ajudar? Embora as questões éticas tenham aparecido de forma lúcida, o capitulo deixou a desejar no ponto de vista de moralidade, o por que devo fazer A ou B. Aliás, a moral quer responder, como devo agir? E a ética, que vida quero viver? Usando um termo Kantiano, o princípio da ação.
CORTELA, Mario Sergio., Filho, Clóvis de Barro. Ética e vergonha na cara-Campinas, SP; Papirus 7Mares, 2014.-(coleção debates).( P. 10).