Vidas que se cruzam
Quem decidir ler A garota no trem, romance de estreia da inglesa Paula Hawkins, vai mergulhar devagar numa história densa, onde as pessoas que aparentemente levam vidas comuns e sem problemas vão se revelando muito mais complexas, fazendo-nos perguntar aonde a trama nos levará e quem as personagens realmente são, quais os seus segredos.
A história é polifônica, contada sob os pontos de vista de Rachel, Megan e Anna, mas a verdadeira protagonista é Rachel, a garota no trem, jovem na casa dos trinta e poucos anos, divorciada, infeliz, desempregada e alcoólatra, cuja vida se resume a pegar o trem para Londres e observar as casas do seu ex-marido e da atual esposa dele e a de um jovem casal que aparentemente leva uma vida perfeita a quem ela, em suas fantasias, batizou de Jason e Jesse. Tudo vai correndo sem surpresas até o dia em que Rachel testemunha um estranho acontecimento e desconfia que houve um crime.
Pouco a pouco, o suspense vai aumentando e o fato do romance ter o ponto de vista de três mulheres tão diferentes cujas vidas se cruzam de forma tão inesperada nos permite adentrar num universo de complexidades psicológicas, segredos sujos ocultos, mentiras e dúvidas.
Rachel, tentando descobrir o que houve de errado, não é alguém em quem os outros acreditem. Devido ao seu alcoolismo, ela tem lapsos de memória e ninguém crê na sua palavra, além de pensarem que é mentalmente instável. Então, isso tornará mentalmente maior o seu desafio e porá sua vida em risco, tornando nossa leitura ainda mais interessante.
Podemos dizer que A garota no trem não é apenas um bom livro de suspense psicológico, mas também uma lição sobre como podem ser enganosas as nossas impressões sobre as outras pessoas e que, no final, nós as conhecemos apenas superficialmente.