Sobre a Espiritualidade Presbiteral, sintese do tema no livro "Consagrados para a missão" do Dr. Pe. João Paulo Dantas
DANTAS, Pe. João Paulo de M. Espiritualidade Sacerdotal. In: ____. Consagrados para a missão: teologia do sacramento da Ordem. Ariquaz: Edições Shalom, 2011, pp. 161 – 176.
ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL
Na Lumen Gentium 40, afirma-se que todos os fiéis de qualquer estado ou condição são chamados a plenitude da vida cristã e a perfeição da caridade, chamados a santidade, especialmente enquanto presbíteros. O Concílio Vaticano II afirma a vocação comum a santidade; o presbítero é um irmão entre os irmãos, inserido e unido a todos os membros do corpo de Cristo.
A espiritualidade Cristã não é um dado prévio que serve para fixar a identidade do Cristão, nem é um adendo da vida cristã, mas ela é viver a plenitude da identidade Cristã.
Assim, a espiritualidade sacerdotal não se encontra à margem do sacerdócio, porém dentro do sacerdócio e, esta espiritualidade não precede a identidade, porém é uma consequência direta da mesma. A espiritualidade do sacerdote consiste no viver radicalmente a sua própria identidade conformando a ela sua pessoa e a sua vida sacerdotais.
A CONFORMAÇÃO SACRAMENTAL A CRISTO CABEÇA, PASTOR E ESPOSO DA IGREJA.
1- CABEÇA: Na espiritualidade própria do sacerdote, é o primeiro elemento da sua particular conformação sacramental a Cristo cabeça da igreja, que lhe confere um poder espiritual como participação na Autoridade com a qual Cristo, através do Espírito Santo, conduz a igreja. Este serviço de Cristo chega ao cume no seu sacrifício na cruz com o dom total de si mesmo à humildade no amor. A Pastores Dabo Vobis 20-21, afirma que o sacerdote faz as vezes da própria pessoa de Cristo que é enriquecido de graça especial para, servindo todo povo de Deus e a porção que lhe foi confiada, possa alcançar, de maneira conveniente, a perfeição daquele de quem faz as vezes e cure a fraqueza humana da carne na santidade daquele que por nós se fez pontífice santo, inocente, impoluto e separado dos pecadores. A vida espiritual dos ministros do Novo Testamento deve levar a marca dessa atitude essencial de serviço ao povo de Deus.
2- BOM PASTOR: A PDV afirma que a imagem de Jesus Cristo Bom Pastor retorna e repropõe, com novos e sugestivos elementos o mesmo conteúdo da capitalidade de Cristo. É a caridade pastoral do pastor que vai ao encontro de cada ovelha, recolhendo-as e defendendo-as; conhece a cada uma e as chama pelo nome. Pedro chama Jesus de o “Príncipe dos pastores” (1 Pd 5,6), porque as suas obra e missão, continuam na igreja através dos Apóstolos e seus sucessores e, através dos presbíteros.
3- ESPOSO DA IGREJA: A capitalidade de Cristo também possui uma dimensão esponsal (Cf: Ef 5, 21-33). Jesus é o verdadeiro esposo que oferece o vinho da salvação à sua esposa, a igreja (Jo 2); ele amou e se entregou por ela a fim de torná-la santa e imaculada. A PDV 22, afirma que enquanto o sacerdote representa a Cristo cabeça, pastor e esposo da igreja, ele se coloca assim, não só na igreja, mas perante a igreja. Ele é chamado na sua vida espiritual a reviver o amor de Cristo esposo na sua relação com a igreja esposa; a sua vida deve iluminar-se e orientar-se também por este tratamento nupcial na fidelidade.
O PRINCÍPIO INTERIOR DA VIDA DO PRESBÍTERO: A CARIDADE PASTORAL
O sacerdote participa da caridade pastoral de Cristo Jesus. Conteúdo essencial da caridade Pastoral é o dom de si mesmo à Igreja. Esta caridade deve determinar o modo de pensar e de agir dos sacerdotes e, também, o seu modo de se relacionar e de servir. Assim, o sacerdote se torna capaz de amar a Igreja universal e a porção que a ele foi confiada, com todo entusiasmo de um esposo. Conforme a PDV 23, a caridade Pastoral, que tem sua fonte específica no sacramento da ordem, encontra sua plena expressão e supremo alimento na Eucaristia. A caridade Pastoral constitui uma força capaz de unificar as múltiplas e diferentes tarefas do sacerdote, tornando-o capaz de viver uma profunda e fecunda unidade entre a sua vida interior e todas as suas atividades e responsabilidades ministeriais.
A VIDA ESPIRITUAL NO EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO
O decreto Presbyterorum Ordinis 12, introduz uma novidade no âmbito da espiritualidade sacerdotal apresentando, a partir do exercício concreto do ministério; pois exercendo o ministério no Espírito Santo e na Justiça, dóceis ao Espírito Santo dado por Cristo, que os Vivifica e os guia, são fortalecidos na vida espiritual também pelos Ritos sagrados exercidos em união com o bispo e o presbitério, os sacerdotes se dispõem a perfeição da própria vida, concorrendo para o desempenho frutuoso do ministério, manifestando as maravilhas de Deus. Os sacerdotes, quando guiados pelo Espírito Santo, chegam à santidade, através do fiel exercício do seu ministério.
TRIA MUNERA
Um primeiro aspecto do Ministério do sacerdote é o anúncio da palavra de Deus, todos têm o direito de busca-la dos seus lábios; mas, antes a palavra deve estar no seu coração; o padre deve primeiro contempla-la no seu íntimo, saboreando a insondável riqueza da ciência de Cristo. O padre deve conhecer, amar, meditar e rezar com a palavra de Deus. Bento XVI na VD fala da importância da Lectio Divina na formação daqueles que se preparam para as ordens sagradas.
Sobretudo, é na celebração dos sacramentos e na Liturgia das Horas que o sacerdote é chamado a viver e testemunhar a unidade entre a sua vida espiritual e o exercício do seu ministério. A Eucaristia deve ser o lugar central, porque nela encerra-se todo o tesouro espiritual da igreja que é o próprio Cristo Nossa Páscoa, pão Vivo que dá aos homens a vida, mediante a sua carne vivificada e vivificadora, pelo Espírito Santo. Cada Sacramento segundo as suas características e exigências próprias, estruturam e plasmam a vida espiritual do padre. Para tanto, o Padre não pode deixar de frequentar o sacramento da confissão, fazendo uma boa confissão, para que possa transmitir à comunidade, a misericórdia de Cristo Bom Pastor.
O sacerdote é chamado a amar e conduzir a comunidade eclesial como representante sacramental de Cristo, que é cabeça da igreja. Este múnus pastoral é uma missão muito delicada e complexa que inclui a capacidade de coordenar todos os dons e carismas que o Espírito Santo suscita na igreja, sempre em comunhão com os bispos.
CONSELHOS EVANGÉLICOS
Jesus Cristo crucificado por amor, é o modelo e a Fonte das virtudes da Obediência, castidade, pobreza que o padre é chamado a viver, como expressão do seu amor Pastoral pelos irmãos. Obediente como Cristo até a morte de Cruz os padres se deixam guiar pela vontade de Deus para salvar os seres humanos. Esta postura em relação à Deus, manifesta-se na humilde obediência àqueles que o senhor constituiu como autoridades na igreja.
O celibato é uma graça divina, é um carisma que permite ao sacerdote dedicar-se unicamente a Deus e ao Reino de Deus, com o coração indiviso. A virgindade sacerdotal possui um significado nupcial, pois o corpo participa de uma comunhão e de uma entrega perfeita e definitiva, feita pelo sacerdote a Deus.
Configurados a Cristo cabeça e pastor da igreja, os sacerdotes são convidados a abraçar a pobreza voluntária que os assemelha mais profundamente a Cristo e, torna-os mais bem-dispostos para o ministério; pois sua única herança é o Senhor.
GRAÇA SACRAMENTAL
O Espírito Santo é o grande protagonista da vida espiritual do sacerdote, porque cria no sacerdote um coração novo, cheio da nova lei da caridade pastoral; por isso, ele tem a consciência de que nunca lhe faltará a graça do Espírito Santo e, esta convicção é uma consciência que é fundada e sustentada por uma confiança inabalável em Deus que permite ao sacerdote enfrentar com maior serenidade as tentações e dificuldades; capaz de viver a imitação de Cristo Sumo Sacerdote, pobre, casto e humilde, no amor sem reservas pelo Pai e pelos seres humanos. Através deste caminho de obediência ao Espírito Santo, o sacerdote será santificado.
PERTENÇA E SERVIÇO A UMA IGREJA PARTICULAR
A vida espiritual do sacerdote possui dimensão eclesial essencial e irrenunciável. Segundo a PDV 31, é preciso ser considerada como valor espiritual do padre. A sua integração e dedicação a uma igreja particular; o relacionamento com Bispo no único presbitério, a partilha da sua solicitude eclesial, a dedicação ao cuidado evangélico do Povo de Deus, são elementos do perfil próprio do sacerdote e da sua vida espiritual. É necessário que o sacerdote tenha consciência de que o seu estado na igreja particular, constitui por natureza o elemento qualificante para viver uma espiritualidade Cristã; pois o presbítero é um colaborador do ministério episcopal; isto faz parte da sua ontologia, logo, também da sua espiritualidade. Neste sentido o padre participa da missão universal da igreja, alimentando em seu coração o dinamismo missionário, que é um elemento constitutivo da vida e da espiritualidade sacerdotais.
Segundo Giovanni Moioli, ser Presbítero numa igreja local é um verdadeiro caminho espiritual; esta espiritualidade deve ser conotada e alimentada pelas escolhas pastorais diocesanas, que representam a concreta configuração que o Bispo, em comunhão com o presbitério e, com todo povo de Deus deseja dar à missão da igreja, naquela diocese. Outras espiritualidades também podem sustentar a vida do presbítero, enriquecendo-a; porém, não devem configurar completamente a sua caridade pastoral.
OUTROS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL
A PO 18 recorda a importância do amor e da devoção que os padres devem nutrir pela Virgem Maria, mãe do sumo e eterno sacerdote, Jesus Cristo; com sua docilidade ao Espírito Santo e auxílio seguro e eficaz, para a vivência do ministério ordenado.
Outra tradicional forma de Piedade é o fiel colóquio cotidiano com Cristo Senhor, na visita e culto ao Santíssimo Sacramento.
Também, o padre é chamado a participar de retiros espirituais frequentes e ter um diretor espiritual.
UM CARISMA ESPECÍFICO
Sobre os sacerdotes que são religiosos, e a harmonização da vocação Religiosa e sacerdotal; o magistério afirma na Vita Consecrata 30, que a profissão dos conselhos evangélicos faz com que o sacerdócio encontre uma fecundidade peculiar na consagração, favorecendo a exigência de uma pertença mais íntima ao Senhor; faz o sacerdote ser particularmente habilitado para reviver em si próprio, a plenitude do Mistério de Cristo; graças à espiritualidade própria do seu próprio Instituto de vida consagrada e à sua dimensão Apostólica do carisma. São João Paulo II, ensina na PDV 31, que o sacerdote que pertence às ordens e congregações religiosas são uma riqueza espiritual para todo o presbitério Diocesano, ao qual contribuem com seu carisma específico e seu ministério qualificado, sendo estímulo vivo para que a igreja particular viva mais intensamente a sua abertura universal. A participação de um padre diocesano ou de um seminarista numa espiritualidade particular ou numa agregação eclesial é certamente fator benéfico de crescimento pessoal e de fraternidade sacerdotal.