O LIVRO: "A IGREJA ORTODOXA" DE SERGIE BULGAKOV: Sintese

• O Autor é Sergio Bulgakov (1871 – 1944), arcipreste e teólogo da Igreja Ortodoxa

• A obra é “La Iglesia Ortodoxa”, dividida em 21 capítulos, resumidos abaixo:

A IGREJA

A Ortodoxia é a Igreja de Cristo na terra; não é uma instituição mais uma nova vida com Cristo e em Cristo, guiada pelo Espírito Santo. A Igreja é o corpo de Cristo como uma unidade de vida e subordinada a Ele, embaixo da sua autoridade. Ela é obra da Encarnação de Cristo: Deus toma para si a natureza humana e a natureza humana é assumida pela divindade. A essência da Igreja é a Vida divina que se revela na vida da criatura, é a divinização da criatura pelo poder da Encarnação e do Pentecostes. A Igreja é o fim eterno e o fundamento da criação; ela foi criada antes de todas as coisas e para ela se fez o Mundo.

A IGREJA COMO TRADIÇÃO

Não é todo o gênero humano que pertence à Igreja e nem todos os cristãos pertencem a ela, mas apenas os ortodoxos. A plenitude da verdadeira fé e da verdadeira doutrina é muito vasto, mas é custodiado por toda a Igreja e se transmite através das Gerações pela Tradição da Igreja. A Tradição tem muitos aspectos: escrita, oral, monumental.

A NATUREZA DA TRADIÇÃO DA IGREJA

A Tradição da Igreja é uma manifestação exterior fenomenal, da unidade interior e numinosa da Igreja. Não é uma espécie de arqueologia. A Tradição se refere a fé e a vida, à doutrina e à piedade. Ela é a vida da Igreja no passado, que é também o seu presente. É uma verdade Divina revelada em palavras, ações e decisões humanas. É o corpo humano-divino da Igreja.

A HIERARQUIA

A Hierarquia pertence à autoridade, para ser mediadores, servos de Cristo; chega a receber plenos poderes para o seu ministério, que consiste na pregação como testemunhas da Palavra, testemunhas da Encarnação. Depois dos Apóstolos a comunicação dos dons do Espírito Santo na Igreja, converteu-se na prerrogativa da hierarquia do episcopado, com seus presbíteros e diáconos. A sucessão Apostólica e a continuidade da imposição das mãos, especialmente desde o início do século segundo, são essa suficiente evidência de sua instituição divina isso se aplica igualmente às Igrejas orientais e ocidentais.

A INFALIBILIDADE DA IGREJA

Nenhum membro da Igreja possui em si mesmo a infalibilidade pessoal em seu juízo do dogma, inclusive quando fala "ex cathedra". O episcopado é autoridade final para administração de sacramentos, suas decisões doutrinais têm autoridade sacramental. Jesus Cristo é a verdade, a Igreja é o suporte da Verdade; em relação com Ele, a Igreja só pode ter um ser passivo: o rebanho de Cristo. Como sucessor de Pedro, o papa não é o Vigário de Cristo na terra. Cristo não deixou Vigário depois dele, Ele vive, Ele mesmo, na Igreja, agora, sempre e para sempre. A Igreja é infalível, como tal, infalível no seu ser como Igreja.

ENTÃO, O QUE É SOBÓRNOST?

Na Sobórnost entendida como catolicidade, ou conciliaridade, cada membro da Igreja, igualmente com conjuntos dos membros, vive em união com toda a Igreja, qual a Igreja invisível, que é em si, uma união ininterrupta com a Igreja visível, e constitui seu fundamento.

O ecumenismo, como a catolicidade, não depende do quantitativo, porque " Onde Estiver dois ou três congregados no meu nome, ali estou eu no meio deles".

Sobórnost é a verdadeira, ainda que oculta, fonte do conhecimento dogmático da Igreja, porém seu caráter é suprarracional, intuitivo, de ver e conhecer. Essa ideia implica um círculo; a conciliaridade dos Concílios se prova através da Igreja, e a consciência conciliar da Igreja se demonstra pelos Concílios.

A UNIDADE DA IGREJA

A Igreja é Una. De acordo com a teoria das chamadas da Igreja, a única Igreja está operando de maneira diferente; porém na mesma medida o está fazendo nos diferentes ramos do cristianismo histórico: a Ortodoxia, o Catolicismo e o Anglicanismo. A Ortodoxia é a única e verdadeira Igreja que preserva a continuidade da vida da Igreja, ou seja, a unidade da Tradição. Ela entende que a rocha de Pedro é a fé que ele confessou e compartilha com todos os apóstolos; uma unidade interna da Verdadeira fé e da vida. A unidade Ortodoxa se realiza no Mundo de uma maneira difusa, não pela Unidade do poder sobre toda a Igreja Universal; porém, pela unidade da Fé, e cada vez mais, pela unidade da vida e da Tradição, também pela sucessão apostólica da hierarquia

A SANTIDADE DA IGREJA

A santidade é o ser mesmo do espírito da Igreja. Inclusive se pode dizer que este último não tem outras características. A vida em Deus, a divinização, a santidade, são marcas evidentes do espírito da Igreja.

Certos membros da Igreja estão cortados pela espada da excomunhão, especialmente em caso de desvios dogmáticos. De acordo com a fé da Igreja, as relações de amor com Santos já glorificados por Deus não são interrompidas pela morte. Ao contrário, os Santos em relação constante conosco, rogam por nós e nos ajudam em toda nossa vida.

O DOGMA ORTODOXO

A Igreja Ortodoxa tem só um pequeno número de definições dogmáticas, constituindo elas a profissão de fé obrigatória para todos os seus membros. Consiste no símbolo niceno- constantinopolitano, na liturgia, e nas definições dos sete primeiros concílios ecumênicos; ao contrário do catolicismo romano que tende a formulação canônica de novos dogmas. Para a Ortodoxia, o mínimo já existente constitui uma base suficiente para o desenvolvimento da doutrina sem a revelação de novas formas dogmáticas; esse desenvolvimento se manifesta na vida da Igreja, formando novas linhas de ensinamentos teológicos ("theologumena"). O Dogma Cristão fundamental, como a Todo Mundo Cristão, é esse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo". O Dogma da Santíssima Trindade é confessado pela autonomia na forma em que se expressou no momento dos Concílios Ecumênicos e se fixou no Credo. Este Dogma é incompatível com o racionalismo que busca alcançar as coisas Divina por meio de categorias de unidade e de pluralidade; isso não faz do dogma da Trindade algo alheio a razão teológica.

A principal diferença entre a Igreja oriental e a ocidental, uma diferença que se desenvolveu pouco a pouco, a partir do século V, refere-se a doutrina do Espírito Santo.

ATRIBUTOS HIPOSTÁTICOS

Os atributos pessoais ou hipostáticos de toda Santíssima Trindade, são designados assim: o Pai é ingênito; o Filho é Pré-eternamente gerado; e o Espírito Santo procede do Pai.

A lógica por si mesmo não pode desvendar o mistério interior da Vida divina, nem o que significa procriação e procedência. Segundo São João Damasceno: "Apesar de que nos foi ensinado que há uma distinção entre procriação e procedência, não sabemos no que esta distinção consiste em qual é a geração do Filho e a procedência do Espírito Santo desde o Pai".

A PROCEDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO

O Filioque: A ideia que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, se originou de certas expressões de Santo Agostinho. Essa ideia se transformou numa crença obrigatória no ocidente do século IX.

Como a diferença entre o papado e a Ortodoxia oriental se tornaram agudas, o dogma latino ficou fortalecido cada vez mais no ocidente. Finalmente ficou reconhecido no ocidente como um dogma Universal obrigatório. O protestantismo herdou esse ensinamento da Igreja romana.

A CRIAÇÃO

A criação é obra da Santíssima Trindade. Deus não busca completar a si mesmo por meio do Mundo; porém, em sua bondade, Deus deseja compartilhar o seu ser e ter sua imagem refletida ali. O homem é criado à imagem de Deus. Em sua consciência, possui a imagem da hipóstase divina; como membro da raça humana possui a imagem da comunhão das três hipóstases: ele está consciente de si mesmo, não só como EU, mas também como TU, e como NÓS. O Mundo e o primeiro homem, saíram das mãos de Deus, inocente e perfeito. O pecado original significa a corrupção da natureza humana que deixou de sua Norma adequada; sua primeira consequência foi perder o estado de graça, seguido da degeneração da natureza, que se tornou mortal. Na vida espiritual do homem, apareceu o egoísmo, o orgulho, os ciúmes, uma verdadeira ciência do bem e do mal, que significa a luta constante entre luz e obscuridade; assim a liberdade humana ficou limitada, e ele se tornou escravo da sua própria natureza e cativo de suas Paixões.

A salvação de todos os homens é a divinização da natureza humana. A salvação individual é apropriação deste dom, por meio de um esforço pessoal; porém a divinização não é um ato físico ou mágico sobre homens, mas uma ação interior, uma obra da Igreja no homem. Esse trabalho chega ao seu fim no ser humano com a cooperação da sua liberdade e jamais sem sua vontade; trata-se da Vida em Cristo, sob a guia do Espírito Santo. O esforço humano se une misteriosamente ao dom de Deus pela capacidade da divinização; todos os seres humanos devem participar deste esforço.

As boas obras não constituem méritos, mas apresentam a participação pessoal do homem na obtenção da salvação, muito além de qualquer cálculo ou compensação. A Ortodoxia considera que o amor de Deus é o centro da doutrina da salvação, daí o conceito de salvação como divinização (Theosis).

OS SACRAMENTOS

O número 7 não tem nenhum significado conclusivo, pois o número de sacramentais na Igreja é muito maior. Existe formas especiais de muitas bênçãos, inclusive funerais e votos monásticos. O batismo é o nascimento espiritual, morte do homem natural, e geração do Homem novo em Cristo. A confirmação é administrada na Igreja Ortodoxa imediatamente depois do batismo somente por um sacerdote ou bispo. O santo Crisma é consagrado numa Assembleia de bispos, por isso é um Sacramento episcopal, substituindo a imposição das mãos dos Apóstolos. A Penitência às vezes chamada de segundo batismo em aplicação do Poder para redimir os pecados dada por Cristo aos Apóstolos e seus sucessores. Para se libertar do pecado cometido depois do batismo o homem confessa seus pecados a um ministro autorizado, bispo ou sacerdote, que finalmente dá a absolvição que confere a graça, apaga os pecados e reconcilia o homem com Deus. A ceia do Senhor ou Eucaristia é a recepção do alimento celestial, na comunhão do corpo e do Sangue de Cristo segundo a instituição de Nosso Senhor mesmo administrado legitimamente pelo bispo ou sacerdote. Não se está de acordo com a doutrina da transubstanciação que distingue a substância que muda nos acidentes que não mudam. Cristo realmente oferecido no mistério da ceia está realmente presente aí. Na Ortodoxia os dons dos Santos se utilizam apenas para a sagrada comunhão, não se pratica o culto dos elementos consagrados fora da liturgia, como a exposição da hóstia consagrada e a bênção, a adoração das reservas eucarísticas no sacrário, como entre os Católicos. A Santificação dos dons se altera durante toda liturgia fui a parte essencial consiste nas palavras da instituição de Nosso Senhor seguida da invocação do Espírito Santo.

A imposição das mãos, ou santas ordens, é o Sacramento dos regalos hieráticos; são conferidas pelo bispo impondo suas mãos sobre a cabeça do receptor, a Igreja dá seu consentimento para ordenação, participar nela por sua vontade mediante a palavra e a oração; a graça conferida por este Sacramento é indelével; comporta três graus hierárquicos: o bispado, o sacerdócio, e o diaconato.

O Matrimônio tem uma função de Santificação da união do homem e da mulher para uma vida cristã juntos e para a procriação natural; realiza-se no mistério de Cristo e da Igreja.

A unção dos enfermos é o sacramento da Restauração e da Saúde de todo ser humano .

VIRGEM MARIA E OS SANTOS NA ORTODOXIA

A Igreja vê na Mãe de Deus a intercessora perante seu Filho em favor de toda a humanidade. O Amor e a veneração pela virgem são a alma da Piedade Ortodoxa. A perfeita União divina e humana em Cristo, está diretamente relacionada com a Santificação e glorificação da natureza humana. A Igreja nunca separa a Mãe e do Filho.

Os santos não são mediadores entre Deus e o homem, mas são nossos amigos que rezam conosco e nos ajudam em nosso serviço cristão, em nossa comunhão com Cristo; são divinizados em virtude da Graça. A Ortodoxia não crê que a glorificação dos Santos esteja fundada nos seus méritos pessoais, como uma recompensa que receberam e que podem utilizar em benefício daqueles que não têm mérito suficiente, isso colocaria os santos na fila dos semideuses. Os santos são aqueles que por sua fé ativa e amor chegaram a ser como Deus, eles manifestam a imagem de Deus em seu poder. A Igreja conhece vários modos de santidade.

Uma consequência do culto aos santos é a veneração das suas relíquias e de seus ícones. Os ícones de Cristo são ladeados, na Iconastase, pelos ícones da Virgem Mãe de Deus e do precursor, São João Batista, que ocupam um lugar central; posteriormente seguem-se os ícones dos Anjos e dos santos.

O SERVIÇO ORTODOXO

A vida da Igreja e seus serviços, nos atualizam o mistério da Encarnação. Nosso Senhor continua vivendo na Igreja da mesma forma que Ele se manifestou uma vez sobre a terra, e vive para sempre. Os mistérios do culto ortodoxo alcançam seu ponto culminante, seu poder maior, nos serviços da Semana santa e da Páscoa. A festa da Páscoa é o coração da Ortodoxia; é um testemunho Vivente em sua plenitude de verdade palpável, pela ação do Espírito Santo. A Eucaristia é o centro do Ofício ortodoxo. Também rezam o saltério e a Liturgia das horas.

OS ÍCONES E SEU CULTO

Ocupam um importante lugar na Piedade Ortodoxa. Representam a Santíssima Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Virgem, aos anjos, e os santos. São quadros usualmente pintados em painéis de madeira ou outra superfície plana. A veneração dos Santos ícones está baseada sobre a natureza do sujeito representado, também sobre a fé na presença cheia de graça que a Igreja chama pelo poder, na santificação do ícone; é um aspecto da Tradição eclesiástica em cores e imagens, paralela à Tradição oral escrita e monumental. O pintor do ícone, além de artista, deve ser, ao mesmo tempo, um teólogo contemplativo.

MISTICISMO ORTODOXO

O mistério ortodoxo da Santa comunhão está livre da sensualidade, pois é sóbrio. A espiritualidade Ortodoxa não anima esse tipo de imaginação que capacita o homem a representar coisas espirituais por si mesmo, por meio dos sentidos. O misticismo Ortodoxo é a oração e a meditação. Prima-se pela oração de Jesus, ou oração do coração, a imagem de Jesus brilha na alma Cristã e mostra o caminho da vida.

ÉTICA ORTODOXA

A Ortodoxia educa o coração; este é seu aspecto característico, a fonte da sua superioridade também da sua debilidade, está na educação da vontade.

ORTODOXIA E ESTADO

As relações entre Igreja e Estado se apresentou diversamente em diferentes épocas. Aos olhos da Igreja Primitiva o estado pagão foi a besta levando a coroa de maldições; porém, quando o Estado na pessoa de Constantino, inclina-se perante a cruz, a situação mudou, a Igreja esteve próxima do Estado e assumiu a responsabilidade do seu destino. Constantino foi definido como o Bispo para assuntos exteriores. A Igreja agora existe sem o Imperador; porém na sua situação carismática, a plenitude de seus dons, não mudaram por causa disso. A Ortodoxia é livre e não deve servir a nenhum regime político.

ESCATOLOGIA ORTODOXA

A separação da alma e do corpo é uma espécie de Sacramento onde ao mesmo tempo o juízo de Deus é levado a cabo sobre a queda de Adão. A Oração pelos mortos, na liturgia ou fora dela, tem uma ação verdadeira, elas podem aliviar o estado das almas dos pecadores libertá-las do lugar de dor, arrebatando-as do inferno. Uma certa Esperança vem por meio do ensinamento da Igreja sobre o descenso de Cristo ao Limbo e sua pregação no inferno. A doutrina Ortodoxa sobre o juízo final tal como a Escritura revela é para todo Mundo cristão. O Juízo pressupõe tanto a possibilidade de justificação como a de Condenação.

A ORTODOXIA E AS OUTRAS CONFISSÕES CRISTÃS

A Igreja Ortodoxa é consciente de que ela é a verdadeira e única Igreja que possui a Plenitude da pureza na Verdade e no Espírito Santo. Daqui procede a atitude da Igreja Ortodoxa para com as outras confissões separadas da unidade da Igreja; ela não pode desejar senão uma coisa: fazer que todo Mundo cristão se torne arraigado na Ortodoxia Universal. A única solução seria que essas comunidades, mesmo conservando suas características históricas, nacionais e locais, aproximem-se da doutrina e da vida Ortodoxa e sejam capazes de unir forças em prol da unidade da Igreja ecumênica como Igrejas autônomas. Essa união pressupõe um movimento interno correspondente, que não é impossível. A Ortodoxia não é uma das confissões históricas, ela é a Igreja de Cristo na sua verdade.

REFERÊNCIA:

BULGAKOV, Sergie. La Iglesia Ortodoxa. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B7fBNPXqy88HdF8xWWdFZ0d2cTQ/view>. Acesso em 20 maio 2016.

SOUSA DA SILVA Jonas Matheus
Enviado por SOUSA DA SILVA Jonas Matheus em 26/11/2016
Reeditado em 26/11/2016
Código do texto: T5835009
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