Ensino de ciências e cidadania

CAMILA HERNANDEZ FREIRE – 8532700

Metodologia do Ensino de Ciências – 1° semestre 2016

Professora: Martha Marandino

ENSINO DE CIÊNCIAS E CIDADANIA

O grande dilema tratado no primeiro capítulo é como introduzir conhecimentos científicos e tecnológicos para a população não somente armazenar conhecimentos, mas sim conseguir aplica-los de forma prática em sua vida cotidiana. Tal dilema é tão complexo, que questiona-se se de fato todos devem ter acesso à ciência, ou se os sistemas formais de ensino tem condições de transmitir esses conhecimentos para públicos variados.

Decidir quais informações básicas são necessárias para possibilitar aos educandos chances de aproveitar de uma forma mais completa o mundo que está à sua volta, é uma tarefa das mais importantes para quem acredita na educação.

A expressão “ciência para todos”, acaba carregando em seu sentido mais amplo uma expectativa à experiências prévias, e exige uma escolha de tópicos que tenham significado para todos.

Contudo, a alfabetização em ciências é um processo que transcende a vida escolar, sendo que seu aprendizado é reconfigurado periodicamente à cada nova descoberta ou teoria discutida. Outros meios de divulgação da ciência (museus, mídias em geral, revistas, jornais) devem ser parceiros ao divulgar os conhecimentos científicos de forma crítica para a população.

Na década de 1960 a escola tinha por finalidade impulsionar uma elite para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Foi em 1970 que se iniciou uma maior preocupação sobre o que a população em geral deve ter de conhecimentos sobre a ciência e a tecnologia, já que os cientistas (devido ao “monopólio” de informações da década anterior e aos frágeis resultados das pesquisas científicas) estavam perdendo sua credibilidade.

Assim em 1980, foram se desenvolvendo diversos grupos de cultura científica, ampliando globalmente os chamados Science centres. No entanto, a abordagem que a população tem sobre a ciência normalmente é um recorte focado em algum aspecto, Prewitt (1982:5-6) indica que “em vez de se perguntar o que o público sabe ou deveria saber sobre ciência, melhor seria perguntar o que o cientista sabe ou deveria saber sobre o público”. E é nesse sentido que em 1990 se inicia uma nova fase do processo de alfabetização científica, tendo que saber as necessidades do público para quem se divulga.

A partir desse processo, alguns autores separam de diversas formas as maneiras de entender a alfabetização científica. Essas formas são: nominal (quando o aluno entende termos específicos do vocabulário científico), funcional (quando o aluno, mesmo sem entender de forma aprofundada o significado do termo científico, consegue aplica-lo de forma correta em uma frase), estrutural (quando o aluno consegue entender ideias básicas estruturante do pensamento científico) e multidimensional (quando o aluno consegue integrar diversas disciplinas fazendo uso de algum conhecimento científico e, além disso, ter uma opinião crítica a respeito do assunto).

Nos cursos escolares esses estágios, de um modo geral existem, mas dificilmente a fase multidimensional é alcançada. Na maioria dos casos a memorização de vocabulário é mais presente do que as reflexões que possibilitem as interações entre ciência, tecnologia e sociedade.

Em outro ângulo, Shen (1975) a partir do conteúdo, forma, público-alvo e meios de disseminação, indica três outras abordagens para a chamada alfabetização científica. Sendo elas: a prática (que permite ao indivíduo resolver problemas básicos do seu dia-a-dia), a cívica (que possibilita ao indivíduo refletir sobre a ciência e seus impactos, e assim tomar decisões que amenizem esses últimos, por exemplo) e a cultural (que possibilita um maior aprofundamento na área).

Inicialmente precisamos diferenciar alfabetização e letramento. Ser alfabetizado é de fato saber ler e escrever, ser letrado corresponde ao hábito de ler e escrever e fazer desse hábito uma constituição do indivíduo crítico e social.

No universo da ciência, o letramento engloba também exercer práticas relacionadas à ciência na vida cotidiana. Para que o letramento científico seja uma parte significativa da vida de grande parte dos indivíduos, é necessário que a divulgação seja feita de uma forma coerente, mas Barro (Ibid., p.61) nos faz um questionamento muito pertinente, de que precisamos fazer uma escolha: o que divulgar?

O mesmo autor nos propõe cinco categorias que essa divulgação pode ser feita: a utilitária (na qual aplicamos o resultado de algum trabalho científico), a do método (que mostra como conceitos ou resultados foram obtidos, sem contestar possíveis implicações), a dos impactos (que divulga as possíveis aplicações das descobertas), a evolucionista (que explica que a ciência é um processo de acúmulo de informações e de progressos contínuos) e a cultural (que usa a ciência como forma de linguagem, e tem a preocupação do contexto histórico- cultural da mesma).

Como Barros (2002) nos apresenta, um dos grandes pesares da atualidade é a “adequação da natureza aos interesses do homem e não o contrário”, devido ao aumento da eficiência almejada. Mas não podemos nos esquecer da questão ética que está envolvida em todos os processos sociais e científicos.

“Perceber a alfabetização científica na perspectiva cultural implica fomentar políticas e ações de parcerias entre as diferentes instituições e atores na busca de ampliar as oportunidades de acesso e de produção de significados sobre o conhecimento científico pela população.” (KRASILCHIK, M., MARANDINO, M. 2007. pg. 20- 21).

Além disso, entender a dimensão do público que mais do que receptor é também agente ativo para a transmissão do conhecimento, é fundamental para a atual alfabetização científica.

Além das escolas outros espaços também promovem a alfabetização científica e a divulgação de sua constante evolução como centros de cultura científica, jornais, produção de vídeos e revistas científicas.

Esse movimento está em confluência com políticas mundiais mais amplas, recebendo financiamento de instituições internacionais governamentais e não - governamentais.

Nos países latino americanos várias iniciativas a favor da popularização da ciência foram realizadas, debatendo formas de transmissão de conhecimento dentro da educação formal e não-formal, pesquisas, museus e formação de mediadores.

Em suma, todo conhecimento deve ser analisado em seu contexto histórico como base para a ciência atual que é também base para a ciência do futuro, dependente de fatores sociais, políticos e econômicos. (KRASILCHIK, M., MARANDINO, M. 2007. pg. 31).

Camila Freire
Enviado por Camila Freire em 31/10/2016
Reeditado em 31/10/2016
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