A REVOLUÇÃO DOS BICHOS – GEORGE ORWELL

A Revolução dos Bichos, escrito na época da Segunda Guerra Mundial, ataca de forma alegórica o modelo soviético sob a ditadura de Stalin. Dessa maneira, cria-se um retrato muito fiel, por meio dos bichos, do que ocorre de fato na tentativa de implantar o comunismo. Um leitor distraído pode pensar que se trata de um livro infantil e de fato, a engenhosidade de George Orwell é tamanha que, além de ser uma denúncia do que ocorre na União Soviética, também pode ser encarado como uma história lúdica.

Tudo começa quando os animais, cansados de serem explorados pelos donos, ouvem um discurso de um velho porco, Major. A turba se encanta com suas palavras, as quais, não haveria mais exploração, nem escassez de comida e todos os ideais igualitários, que se sabe das teorias socialistas. Nesse ponto, vemos que os ideais igualitários sempre conquistam muitos adeptos, principalmente os que vivem explorados, sem instruções, que aceitam as falácias de outrem, que expõe seus grandes sonhos.

Nesta fábula, como na História, vemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura (ORWELL, 2009, p. 254). Após conseguirem a revolução, e expulsarem os homens, o porco Napoleão, o Stalin do livro, assume o poder e expulsa Bola de Neve, que representa Trotski.

Orwell não esquece nenhum pormenor, poupando complexidade, Lênin não entra na história, mas não se esquece das músicas, das manipulações estatísticas dos resultados, da exploração, da desigualdade entre os que mandam e os que obedecem, dos mandamentos que todos devem seguir etc. Vale dizer, que o livro foi publicado muito antes de Nikita Khrushchev desmascarasse o facínora Stalin, cujo processo ficou conhecido como desestalinização. A história do livro e principalmente a história mundial, nos mostra que homens e porcos ficam indistinguíveis. Com a capa do igualitarismo, criaturas corruptas vão enganando os trabalhadores com promessas de igualdade e fraternidade, todavia quando chegam no poder, essa capa cai e comprovamos que todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros.(ORWELL, 2010, p. 90)

ORWELL, G. 1984. São Paulo: Nacional, 2009. 277 p.

______. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 152 p.

Contexto

A história, desde a expulsão de Jones até a “transformação completa de Napoleão em “humano” durou aproximadamente 6 anos. Na Granja do Solar, situada perto da cidade de Willingdon (Inglaterra), viviam bichos, que como dono tinham o Sr. Jones.

O Velho Major (porco) teve um sonho, sobre uma revolução em que os bichos seriam auto suficientes, sendo todos iguais. Era o princípio do Animalismo. O Major morreu, mas mesmo assim os animais colocaram em prática a ideia do líder, fazendo a Revolução dos Bichos.

Depois da Revolução, a Granja passou a se chamar Granja dos Bichos, e quem a administrava era Bola de Neve (porco). Bola de Neve seguia os princípios do Animalismo, e mesmo sendo superior (em quesitos de inteligência e cultura) em relação aos outros animais, sempre se considerou igual a todos, não tendo privilégios devido à sua condição.

Bola-de-Neve tinha um assistente, Napoleão (porco), que na ânsia pelo poder, traiu o amigo, assumindo a administração da Granja. Napoleão mostrou-se competente e justo no começo, mas depois passou a desrespeitar os SETE MANDAMENTOS, os quais firmavam as ideias animalistas. Depois de aproximadamente 5 anos, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia as roupas do ex dono, andava somente sobre duas pernas e convivia com seres humanos, enfim agia em benefício próprio, instalando um regime ditatorial, dominando e hostilizando os demais animais, considerados seres inferiores e sem direitos. Por essa época, já não era possível distinguir, quando reunidos à mesa, o porco tirano e os homens com quem se confraternizava. Napoleão conseguiu sair vitorioso graças à ajuda de Garganta, porco servil e obediente e que, através de bons argumentos, convencia os animais de que tudo o que acontecia era para o bem deles.

Os SETE MANDAMENTOS do Animalismo eram os seguintes: Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; Nenhum animal usará roupas; Nenhum animal dormirá em cama; Nenhum animal beberá álcool; Nenhum animal matará outro animal; Todos os animais são iguais. Napoleão, aos poucos, alterou todos os mandamentos. Foi Bola de Neve quem escreveu os SETE MANDAMENTOS.

A Revolução dos Bichos é um livro de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o “sonho do poder”.

O Senhor Jones era o dono da Granja e, como tal, explorava o trabalho animal em benefício próprio, para acumular capital. Em troca dos serviços prestados, ele pagava com a alimentação, que nem sempre era boa e suficiente. Temos aí o retrato de uma sociedade capitalista: quem mais trabalha é quem menos ganha.

A Revolução que se deu por ideia do “Major”, tinha por princípio básico a igualdade; sendo assim, o Animalismo corresponde ao Socialismo, regime em que não existe propriedade privada e em que todos são iguais, e todos trabalham para o bem comum.

A princípio, houve um socialismo democrático, em que todos participavam de assembleias, dando ideias e sugestões, liderados por Bola-de-Neve, bem aceito pelos animais em geral. Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido: mentiras, traições, mudanças de regras.

Tempos depois instaurava-se na Granja uma verdadeira Ditadura, o regime em que não há liberdade de expressão, direito a opiniões etc. Na sede pelo poder e pela riqueza, Napoleão entra em contato com os homens para com eles negociar, comprar, vender, enfim, acumular riquezas e tudo graças ao trabalho dos animais, verdadeiros empregados mal remunerados, ajudando o “patrão” a ter regalias, bens materiais, capital.

A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque, mais do que nunca, os direitos humanos, ou seja, dos animais foram violados de forma cruel e tendo consequências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros e muita tortura.

Com base nos fatos ocorridos podemos concluir que a história nos mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação pela sedução: Garganta persuadia os animais com seus argumentos convincentes e eles aceitavam pacificamente as mudanças efetuadas, e a dominação pela força bruta: quem se rebelasse contra as ordens era punido fisicamente, torturado por cães treinados e levados até à morte.