A VIDA PECULIAR DE UM CARTEIRO SOLITÁRIO (Resenha da obra)
THÉRIAULT, Denis. A vida peculiar de um carteiro solitário. Rio de Janeiro-RJ: Casa da palavra, 2015, 128p.
Denis Thériault, canadense, de Quebec, é licenciado em Psicologia e um roteirista premiado. O seu primeiro romance, L´iguane, foi muito bem avaliado pela crítica literária, o que lhe rendeu três grandes prêmios literários.
O livro A vida peculiar de um carteiro solitário, traduzido para o português por Daniela P.B. Dias, é um romance escrito numa linguagem simples, fluente e agradável, capaz de envolver o leitor do início ao fim. Nele o autor apresenta, numa envolvente teia dramática, alguns problemas muito presentes no nosso tempo: o sentido da correspondência através de cartas, num contexto de comunicação digital; a solidão, a nossa relação com o tempo; além de provocar um olhar sobre o papel da literatura como forma de expressão da sensibilidade humana na relação com a natureza e com as experiências cotidianas. sobre a literatura, o autor dá um destaque especial ao haicai e o tanka. Também não ficam de fora, algumas questões a respeito do sigilo profissional e da amizade.
O texto é relativamente pequeno, com capítulos curtos e bem estruturados. O enredo gira em torno de um carteiro solitário de Montreal, Bilodo, que se interpõe com espectador anônimo numa intensa troca de correspondências entre Sérgolène, uma professora de Guadalupe, com um certo Gaston Grandpré, poeta e professor de literatura, residente em Montreal.
Porém, uma sequência de acontecimentos imprevistos acaba envolvendo Bilodo num circulo dramático, que altera sua identidade pessoal e profissional, colocando sua vida numa direção totalmente nova e sem volta. Tudo isso sedimentado em sentimentos idealizados, segredos, mentiras e muita literatura.
O romance não foge à temática tradicional do amor. Mas apresentado de uma forma que contradiz a sua verdadeira essência. O sentimento de Bilodo é idealizado, unilateral, surreal e abstrato, sem a pretensão ou esperança de ser vivenciado e muito menos de ser correspondido, pois sua a razão de ser não vai além da ilusória função de preencher a vida solitária do carteiro com algum sentido.
Mas, por uma série de acontecimentos imprevistos, vivenciados de forma intempestiva, todos esses adjetivos que definem o amor de Bilodo por Sérgolène são transmutados em seus opostos. Assim, quando parecia ser o fim do seu ofício de observador anônimo numa troca de correspondências, ele passa de espectador a protagonista de uma nova história até então impensável.
O principal mérito da obra, como não podia deixar de ser, é proporcionar ao leitor uma história envolvente e apresentada de uma forma literária e agradável, na qual são combinadas, sob medida, a prosa e a poesia. Ademais, a forma pedagógica como a literatura japonesa entra no enredo da trama oferece ao leitor que não conhece a poesia japonesa uma visão pedagógica, sem comprometer a fluência e a leveza da leitura.
É um livro indicado para quem gosta de uma leitura agradável, inteligente, envolvente e até profundamente imbuída de uma lição de literatura.
08/08/2016