RAY BRADBURY: A MORTE É UMA TRANSAÇÃO SOLITÁRIA
" - Você tem imaginação. Ontem, lá na banca do Abe, li um conto seu sobre um homem que descobre ter um esqueleto dentro dele, o que o deixa morto de pavor. Cristo! Achei uma beleza. Como você consegue ter ideias como essa?
– Bem, tenho um esqueleto dentro de mim.
– A maioria das pessoas não se dá conta disso…”.
Eu me lembro de uma noite em que meu amigo S., um leitor voraz e um gatuno de livros, me apresentou ao romance "A morte é uma transação solitária" de Ray Bradbury. Na época, S. era um jovem rebelde que "expropriava" livros de livrarias e os vendia ou distribuía entre os amigos. Eu não sabia que os livros que ele me vendia ou me dava de presente eram fruto dessas "expropriações".
Naquela noite, S. me entregou o livro e disse: "Você vai gostar muito disso". Eu aceitei o desafio e comecei a ler. O romance me envolveu de forma tão intensa que eu não consegui parar de ler até o sol nascer.
"A morte é uma transação solitária" é um romance que mistura elementos de ficção policial, fantasia e literatura noir. A história se passa em Venice, uma cidadezinha do Sul da Califórnia, e segue o personagem principal, um jovem escritor que se vê envolvido em uma série de mortes misteriosas.
Ao longo do romance, Bradbury apresenta uma galeria de personagens exóticos e fascinantes, desde Fannie, uma ex-cantora de ópera obesa, até Constance Ratigan, uma atriz de cinema mudo com uma silhueta ainda atraente. Há também Cal, o cabeleireiro lunático que tem uma obsessão por cortar o cabelo das pessoas; Shrank, o psicanalista neurótico e niilista que tenta entender os motivos por trás das mortes; Henry, o cego com uma inteligência perspicaz que parece ver mais do que os outros; e William Smith, um personagem misterioso que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Além disso, há também a figura do investigador Crumley, que tenta desvendar o mistério por trás das mortes, e a de Aimee, uma jovem mulher que parece ter uma conexão com as vítimas. Cada personagem é cuidadosamente construído e adiciona uma camada de complexidade à trama.
A escrita de Bradbury é poética e evocativa, criando uma atmosfera mágica e noir que é ao mesmo tempo hipnótica e perturbadora. O romance é difícil de categorizar, mas é inegavelmente uma obra-prima da literatura fantástica.
Ler "A morte é uma transação solitária" foi uma experiência que eu nunca esqueci. O romance me transportou para um mundo de sonhos e fantasias, e me fez refletir sobre a natureza da realidade e da morte. É um livro que eu recomendo a todos que amam a literatura fantástica e estão procurando por uma leitura que os transporte para um mundo de sonhos e fantasias.