GUARACY (Paulo D' Auria)
Com as mudanças implantadas no currículo do magistério brasileiro no início deste século, e a consequente inclusão de estudos sobre África e índios brasileiros, observamos, no correr dos anos, o quanto isso permitiu que fossem traçados novos paradigmas a respeito da “história oficial” que antes era contada de forma rasa, sem compromisso algum com a veracidade dos fatos que agora vêm à tona.
Prova disso é essa obra apresentada aqui, o romance Guaracy, do escritor e professor paulistano Paulo D’ Auria. Tendo como protagonistas índios e negros, a trama estabelece uma visão fora dos estereótipos sobre o imaginário popular do Brasil, acentuando as contradições que compõem a história oral e o pluralismo do folclore nacional.
O enredo gira em torno da indiazinha cujo nome dá título ao livro, que no dia do seu aniversário de 10 anos, recebe do pajé Mbo’e-sara (que fazia 100 anos no mesmo dia), a informação de que o deus Tupã havia escolhido ela para ser a guardiã do Oîrã Monhanguara (“O Fazedor de Amanhãs”), uma ponta de lança feita de ouro. Este objeto mágico devia ficar protegido na aldeia Erekó-Ara Oka, ou “A Casa do Guardião”, uma das últimas remanescentes na cidade de São Paulo, na região do Pico do Jaraguá, zona norte da capital.
Guaracy, com Iuatin, um amigo índio, e o menino Lucas, outro parceiro de aventuras, acaba vivendo grandes emoções, por conta da incumbência que lhe foi atribuída, fazendo viagens no tempo dentro de uma canoa encantanda, a Igaranhã. Assim, entre idas e vindas a tempos imemoriais, como a Era Glacial, e lugares inusitados, como a África antiga, os três vivem inúmeras situações de risco, ajudando a escrever a história, para que o futuro esteja assegurado.
Para tanto, eles são obrigados a lutar bravamente contra o bruxo Bento Cornélius Blumenbach-Pinzón, um homem sinistro e cheio de más intenções que vive numa mansão no bairro do Pacaembu, em São Paulo e quer se apossar do amuleto de qualquer forma.
D’ Auria constrói seu texto com vários elementos que dão muita vivacidade e ritmo à leitura. Assim, somos tomados por figuras da mitologia brasileira, como a Mula-Sem-Cabeça, o Saci Pererê e o Curupira, entre outras.
O romance pode ser classificado como infanto-juvenil mas deve ser lido por todas as idades, já que é forjado com muita perspicácia no mundo da imaginação, permitindo um longo em torno das peripécias da turminha.
Serviço:
título: Guaracy
autor: Paulo D’ Auria
193 páginas - Edições do Tietê
1ª edição 2016