RESENHA DO LIVRO HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA.
TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Traduzido por Celso Ferreira da Cunha. Ed. 1ª. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
O livro História da Língua Portuguesa, publicado em 2001 pela editora Martins fonte, é uma obra de Paul Teyssier, traduzida por Celso Cunha, a Versão original desta História da Língua Portuguesa foi publicada em 1980 por presses Universitaires de France, numa coleção que tem de sujeitar-se a uma regra imperativa: os volumes não devem ultrapassar um total de 128 páginas de pequeno formato. Uma limitação tão rigorosa apresenta, por mais paradoxal que pareça, grandes vantagens: obriga os autores a um esforço de síntese que favorece o rigor do pensamento e a clareza da expressão. Concentrar-se na redação cuidadosa de poucas páginas.
Esta obra possui a seguinte estrutura: prefácio, assinado pelo próprio autor, considerações iniciais, cinco capítulos, nos quais o autor retrata a história da língua portuguesa desde seus primórdios quando era falado na região de lácios, passando pelo português galego, chegando até os dias atuais. Ao final pode-se visualizar também as referências bibliográficas e advertência final.
O primeiro capitulo inicia mostrando que os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Naquela época, o português não se distingui do galego, falado na província da Galicia. Essa língua denominada de galego-português ou galaico-português é a forma que toma o latim no ângulo noroeste da Península Ibérica.
Alguns fatos históricos contribuíram para essa ocorrência, primeiro a romanização da Península Ibérica, uma vez que os romanos desembarcaram na Península no ano 218 a.C. A chegada desse povo constituiu um dos episódios da Segunda Guerra Púnica, elea deram cabo aos cartagineses no ano de 209 e empreenderam, então, a conquista do país.
Ainda no primeiro capitulo o autor menciona as transformações pelas quais a língua passou em decorrência das inúmeras invasões de vários povos. Na visão de Teyssier os três séculos passados entre a chegada dos germanos à Península (409) e a dos muçulmanos (711) não deixaram qualquer documento linguístico como registro histórico desse período, mas a linha geral da evolução não admite dúvidas.
Vê-se acelerar a deriva que transformaria o latim imperial em proto-românica, e aparecerem certas fronteiras linguísticas. Uma destas fronteiras notórias é a que vvai separar os falares ibéricos ocidentais, donde saíra o galego-português, dos falares do Centro da Península, donde sairão o leonês e o castelhano.
Ainda no primeiro capítulo, o autor afirma que a invasão mulçumana e a reconquista são acontecimentos determinantes na formação de três línguas peninsulares; o galego-português a oeste, o castelhano no centro e o catalão a leste.
Estas línguas, ambas nascidas no Norte, foram levadas para o sul pela Reconquista. Nas regiões setentrionais, onde se formaram os remos cristão, a influência linguística e cultural dos mulçumanos tinha sido, evidentemente, mais fraca que nas demais regiões.
No Oeste em particular, a marca árabe-islâmica é muito superficial ao norte do Douro, ou seja, na região que corresponde hoje à Galícia e ao extremo norte de Portugal. À medida que se avança para o sul, ela vai se tornando mais saliente, sendo profunda e duradoura do Mondego ao Algarve.
Foi na primeira dessas regiões, ao norte do douro – tendo talvez como limite extremo o curso do Vouga, entre o douro e o Mondego – que se formou a língua galego-portuguesa, cujo primeiros textos escritos aparecem no século XIII.
No segundo capítulo o autor menciona que por muito tempo acreditou-se que os mais antigos textos em galego-português datavam dos últimos anos do século XII. Entretanto, estudos recentes mostraram, que não foi exatamente nessa época, mas no começo do século XIII que esses textos apareceram.
Segundo ele os fatos históricos mostram que nesse tempo, o reino autônomo de Portugal já existia e a pare meridional do seu território estava quase inteiramente “reconquistada”. Portugal constituiu-se no século XII, quando Afonso, filho do conde Henrique de Borgonha, se tornou independente do seu primo Afonso VII, rei de Castela e de Leão.
Portanto, Portugal vê o seu centro de gravidade transferir-se do Norte para o Sul. A residência principal do primeiro rei era Guimarães, no estremo Norte. Os seus sucessores começaram a frequentar de preferência Coimbra. E, finalmente Afonso III a 255, instala-se em Lisboa, que não mais deixaria de ser a capital do país.
Durante todo esse período, a língua galego portuguesa, nascida no Norte, vai se espalhar pelas regiões meridionais, que até então falavam dialetos moçárabes. Lisboa, a capital definitiva, situava-se em plena Zona moçárabe. Tal como o castelhano, o português originou-se de uma língua nascida no Norte que foi levada ao Sul pela reconquista.
No terceiro capítulo o autor menciona que por volta de 1350, no momento em que se extinguia a escola literária galego-portuguesa, as consequências do deslocamento para o Sul do centro de gravidade do reino independente de Portugal vem a tona.
O português, já separado do galego por uma fronteira política, torna-se a língua de um país cuja capital, ou seja, a cidade onde geralmente reside o rei era Lisboa. Embora o rei e a corte se desloquem frequentemente, a sua “área de percurso” situa-se agora um território delimitado por Coimbra ao norte e Évora ao sul.
É nessa parte do reino que estão implantadas as instituições que desempenhavam papel cultural importante, tais como os mosteiros de Coimbra e a Universidade que, fundada Lisboa no ano de 1288 ou 1290, depois transferida para Coimbra e, em outras ocasiões, novamente para Lisboa, foi, por fim, definitivamente instalada em Coimbra em 1537.
Teyssier menciona ainda que Lisboa por ser a residência privilegiada do rei, é também a cidade mais povoada e o primeiro porto de país. E o eixo Lisboa-Coimbra passa a formar desde o centro do domínio da língua portuguesa. É, pois, a partir dessa região, antes moçárabe, que o português moderno vai construir-se, longe da Galícia e das províncias setentrionais em que deitava raízes.
O autor menciona que alguns estudiosos distinguem na evolução do português dois grandes períodos: o “arcaico”, que vai até Camões no século XVI e o “moderno”, que começa com ele. Outros baseiam a sua periodização nas divisões tradicionais da história, como é o caso da idade média.
O quarto capítulo, intitulado o português do Brasil, ressalta que com o seu enorme território totalizando mais de oito milhões de quilômetros quadrados e a sua população de 120 milhões de habitantes, o Brasil não está em proporção com Portugal que mede 92.000 km2 e possui nome milhões de habitantes.
A língua desse imenso país é no entanto o português. Essa massa de lusófonos brasileiros contribui de uma forma decisiva, para fazer do português uma língua de importância internacional. Os fatos históricos registrados em 22 de abril de 1500 em que Pedro Álvares Cabral chega às costas do Brasil, e que toma posse em nome do rei D. Manuel de Portugal.
De início só o litoral é colonizado, entretanto, com a criação de São Paulo, abre-se uma porta de entrada para o interior. No século XVIII, a exploração do ouro determina a ocupação do território do atual estado de Minas Gerais. Mas em todo o período de colônia o Brasil permanece um país essencialmente rural.
O Brasil não possuía nenhuma Universidade, os jovens brasileiros de posses econômicas iam estudar em Coimbra. Esta é uma diferença fundamental que distingue a América portuguesa da Espanhola. Nesse período a situação linguística do Brasil resume-se assim. Os “colonos” de origem portuguesa falam o português europeu, mas evidentemente com traços específicos que se acentuam no decorrer do tempo.
Enquanto as populações de origem, indígena, africana ou mestiça aprendem o português de forma imperfeita. Ao lado do português existia a língua geral, que era o tupi, principal língua indígena das regiões costeiras, mas um tupi simplificado, gramaticalizado pelos jesuítas e, destarte, tornando uma língua comum.
O famoso problema de da colocação dos pronomes átonos irritava sobremaneira esses rigorosos acerbos. Entretanto, a defesa de Alencar tornou-se célebre ao afirmar que jamais pretendeu escrever numa língua diferente do português europeu, ele reivindica o direito a uma certa originalidade, pois a língua é viva.
O quinto capítulo retrata que a língua portuguesa sobrevivei à descolonização do século XX no que diz respeito à África, a sua presença na Ásia parece estar seriamente comprometida. Mesmo na África, nos países lusófonos, a situação do português é muito diferente do Brasil.
Acredita-se, que no momento oportuno o português será extinto nos países africanos, uma vez que eles pretendem promover as línguas nacionais, pelo menos dentre elas. Qualquer que seja o seu futuro remoto, a África “lusófona” constituirá ainda durante longo tempo para a língua portuguesa uma importante área de expansão.
Sob o aspecto histórico a obra é um primor, uma vez que relata criteriosamente a evolução da Língua Portuguesa desde seus primórdios, afirmando que os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Nessa época, o português não se distingue do galego, falado na província da Galícia.
A didática utilizada pelo autor, bem como a linguagem simples, contribui de forma contundente para a assimilação do conteúdo some-se a isso o fato de que a história é sempre apaixonante e envolvente, permitindo ao leitor viajar no tempo.
Por suas peculiaridades, recomenda-se a obra a acadêmicos de letras, profissionais da área e outros estudiosos da história da língua portuguesa, uma vez que contém informações precisas capazes de proporcionar a construção e reconstrução de saberes significativos a seu leitores.
Teyssier descobriu a língua portuguesa em 1941, quando foi destacado como professor para o Instituto Francês de Lisboa, e, depois, como diretor do Instituto Francês do Porto, onde permaneceu até 1947. Em 1959 defenderia a tese “A língua de Gil Vicente”. Nos anos 1970 escreveu a primeira gramática de português em francês.
Amigo pessoal dos linguistas Lindley Cintra e Celso Cunha, com quem trabalhou, Pau Teyssier traduziu ainda para francês inúmeras obras de autores portugueses, nomeadamente, “Os Maias”, de Eça de Queiros, acabando por ser condecorado pelo presidente Mário Soares.
Obra resenhada por Raimundo dos Santos Lima, acadêmico do último semestre de Letras da Faculdade de Macapá – FAMA, sob a orientação da Professora Doutora Rosângela Lemos da Silva.