DIGITAIS DA ALMA
AUTORA: LUCY MARA MANSANARIS
119 PÁGINAS
EDITORA SUCESSO – SP
ANO 2015
“O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar.”
Charles Baudelaire
Publicar um livro – especialmente, um livro de poemas – em um país onde as pessoas em geral não gostam de ler (segundo o Ministério da Cultura, o número de livros per capita no país é de 1,7 ao ano), é uma grande vitória. É preciso investimento próprio, muitas vezes, e Lucy Mara teve esta coragem e este empenho.
Nestes tempos truculentos em que vivemos, falar de poesia é como encontrar um caminho para algo mais suave. As energias estão pesadas, e as pessoas, descrentes e sem esperanças. É preciso procurar um pouco de delicadeza e sensibilidade no viver, e acrescentar pitadas de beleza no dia a dia. Através das artes, como a poesia, é possível encontrar um caminho que nos leve diretamente ao nosso centro, ao nosso tão negligenciado – e essencial – silêncio.
Ao ler um poema, abrimos uma janela para dentro da alma do autor. Alguns poemas nos falam bem perto do coração, e nos identificamos com eles. Assim são os poemas do livro de Lucy Mara Mansanaris, Digitais da Alma. Ela nos traz esta delicadeza, usando as digitais de sua alma para tocar o coração do leitor.
Gosto de ler um livro de poemas da seguinte forma: aleatoriamente. Simplesmente abro uma página ao acaso, e deixo que a poesia me fale. Como neste momento; abro o livro e leio:
Do Clarear
“É quando busco alguma paz
que te encontro.
E quando penso que não dá mais
reinventas-te, dentro dessa tua doce rotina
de sempre me querer bem.”
E até mesmo nos momentos de tristeza, a autora consegue transformar tudo na mais delicada tessitura de palavras:
Doente
"Ai... Como me dói a vida!
Doem-me as feridas do viver
dói-me profundamente ser!
Aquele plano de felicidade
mais parece mágoa antiga
Deus, quanta morte há na vida?"
Digitais da Alma é um livro para ler e guardar, e reler várias vezes, sempre que estivermos precisando resgatar momentos de doçura, leveza e introspecção. Como escreveu Clarice Lispector, “A palavra é meu domínio sobre o mundo.” A poesia torna-se mais que necessária nos dias de hoje, em que a maioria das palavras ditas são de rancor.
Lucy Mara mantém um blog – http://digitaisdaalma.blogspot.com.br/