Todos os Ventos, de Antonio Carlos Secchin

“O poema vai nascendo

num passo que desafia:

numa hora já o levo,

outra vez ele me guia.” (Antônio C. Secchin. “BIOGRAFIA”, p. 85.)

Há nas letras nacionais, quer pelo valor estético, quer pelo caráter humano da obra, livros dignos de reverência. No que toca à poesia, para além dos de poetas já consagrados seja pelo tempo, seja pela crítica, tais quais os de João Cabral de Melo Neto, Carlos Drumond de Andrade, Gregório de Mattos, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Jorge Amando, Cecília Meireles, destaco Todos os Ventos, do crítico literário, ensaísta, professor, poeta Antônio Carlos Secchin.

A obra reúne sua produção de 1969 a 2002; é dividida em seis subpartes – “Todos os Ventos”; “Aforismos”; “Diga-se de Passagem”; “Elementos”; “Dispersos”; e “Ária de Estação”. Tem cento e sessenta páginas; pesa uns duzentos gramas; possui oitenta e seis poemas, dos quais avultam, em minha opinião, “À NOITE,”; “À NOITE O GIRO CEGO...”; “POEMA PARA 2002”. Sobre Todos os Ventos há poesia das boas.

Em “À NOITE O GIRO CEGO...”, p. 37, e “À NOITE,”, p. 48, há um namoro secreto entre esses poemas, que têm como protagonista a atmosfera noturna, a noite. Neles destaca-se toda simbologia que a noite suscita de modo geral no bicho homem: nostalgia, desalento, medo, certo apreço e encanto pelo que existe a nosso redor de desconhecido e incerto. Na noite “todas as palavras são pretas / todos os gatos são tardos / todos os sonhos são póstumos / todos os barcos são gélidos / à noite sãos os passos todos trôpegos / os músculos são sôfregos / e as máscaras, anêmicas / todos pálidos, os versos / todos os medos são pânicos / todas as frutas são pêssegos / e sãos pássaros todos os planos / todos os ritmos são lúbricos / são tônicos todos os gritos / todos os gozos são santos”. É na noite que o poeta se encontra e se perde: é a noite sua grande musa que lhe instiga ao desconhecido, lhe afaga os sonhos, lhe despreza o otimismo. “À noite o giro cego das estrelas, / errante arquitetura do vazio, / desperta no meu sonho a dor distante / de um mundo todo negro e todo frio”.

Tanto em “À NOITE,”, quanto em “À NOITE O GIRO CEGO...” predomina certo tom melancólico, pessimista, que ao leitor atento faz lembrar, e não é exagero admitir, a poesia e o fazer poético de um Carlos Drumond de Andrade, de um Guy de Maupassant e de outros poetas, amantes, conhecedores das mazelas humanas e do ceticismo como antídoto a um otimismo vão. Talvez exagere, e para contrabalancear essa opinião, destaco a de Alfredo Bosi, conhecedor profundo da literatura nacional, em prefácio desta obra, segundo o qual ao leitor avisado por certo não escaparão cadências de Gregório, de Alvares de Azevedo e dos modernistas quando ainda empenhados na sua missão de iconoclastas antiparnasianos.

Há nas entrelinhas de Todos os ventos poemas que provocam no leitor reflexões, análises do mundo que o cerca, e mais: certo humor combativo de um poeta que, por estes aspectos, nos brinda com poesia de boa qualidade. Em “Poema para 2002” nota-se o caráter irônico que o poeta, ao pôr matemática, a ciência dos números, em meio a doenças, intenta provocar no leitor: além do riso, reflexões. “Caxumba, catapora, amigdalite, / miopia, nevralgia, crise asmática. / Dor de dente, dor de corno, hepatite, / diabete, arritmia e matemática”.

"Todos os Ventos", aludindo a um pensamento do próprio autor em seus “Aforismos”, no que diz respeito à feitura, ao processo a que deve se submeter o poema, traz este “como um objeto legível: sem adesão aos chavões melódicos do verso ou ao receituário fácil do emocionalismo prêt-a-pleurer”. Nas palavras de Bosi, no prefácio à obra: Antonio Carlos Secchin sabe alcançar o nível raro da expressão singular, forte e desempenada. Por estas razões, Todos os Ventos, de Antônio Carlos Secchin, para além de apreciável, é um livro tocante aos leitores em geral, sobretudo aos da boa e indispensável poesia.

Referências:

SECCHIN, Antonio Carlos. Todos os Ventos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

Livro Todos os Ventos Disponível em: http://www.travessa.com.br/TODOS_OS_VENTOS/artigo/5e754a00-2344-4bcf-ac79-e1ba27da . Acesso: 15.5.2016.

Biografia de Carlos Secchin .Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Secchin. Acesso: 18.05.2016.

Marcos Pasche. Jornal Rascunho. ENSAIOS E RESENHAS. Nem isto nem aquilo. Disponível: http://rascunho.com.br/nem-isto-nem-aquilo-poeta/ Acesso: 18.05.2016.

TÂNIAMENESES. A poesia é possível. Disponível: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1464147 Acesso: 18.05.2016.

André Seffin. Resenha de Todos os Ventos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/aseffrin5.html#todososventos. Acesso: 18.05.2016.

Damião Caetano da Silva
Enviado por Damião Caetano da Silva em 17/05/2016
Reeditado em 19/05/2016
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