UNIVERSO IMAGÍSTICO – DEGUSTAÇÃO
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Ficha técnica do livro
Nome: Universo Imagístico
Autor: Caliel Alves
Gênero: Contos
Páginas: 200
Tamanho: 14,8 cm x 21 cm; capa com orelhas
Preço versão impressa: R$ 32,90
Preço versão e-book: R$ 8,00
Sinopse: A fantasia é uma das maiores inspirações da mente humana. Ela tem o Sonho como o seu reino, e os homens como o seu povo. Sem ela, a evolução teria sido impossível.
Sobre os contos
O livro possui dez contos. Eles abordam duas frentes antagônicas e encantadoras dos subgêneros da fantasia: a fantasia urbana e a fantasia histórica. O leitor poderá acompanhar, além disso, diversas culturas e visões de mundos apresentadas por personagens que hora evocam heróis e anti-heróis. Não perca tempo leitor e faça todas essas descobertas.
PSICOSTASIA
Esse conto foi inspirado numa antiga lenda egípcia na qual o deus Osíris pesava o coração dos mortos após a morte, por isso o corpo das pessoas era embalsamado e mumificados sabia disso? Leia já:
Eu acreditei que naquele sábado teria uma manhã comum como qualquer outra, como eu estava enganado! Durante toda a minha vida tentei ser um homem razoável, pratiquei o bem que estava em meu alcance fazer e evitei o mau à medida do possível. Estudei e trabalhei arduamente para garantir melhorias para os meus parentes e um futuro para a família que constituiria.
Após me formar, eu trabalhei cinco anos numa empresa, época em que conheci minha esposa. Ficando desempregado, montei meu próprio negócio e prosperei. Os filhos vieram em seguida. De todas as coisas preciosas que já conquistei, minha família é a mais valorosa. E a melhor herança que posso deixar para os meus filhos é a minha fé.
Sábado pela manhã, fomos a um piquenique no Parque do Ibirapuera. Brincamos por algum tempo e depois tomamos um belo café da manhã. De repente, uma dor intensa explodiu no meu peito. Parecia que o sangue tornou-se fogo e desmaiei. Embora me alimentasse bem, não bebesse ou usasse drogas, tão pouco tivesse histórico familiar, eu tive um enfarto fulminante.
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AINSA
Para quem é fã do Mahabharata vai adorar esse conto. Ele se passa em meio a um dos grandes conflitos do livro sagrado indiano, tendo como protagonistas dois devas. Leia agora:
O céu sem nuvens brilhava fulgurante em matizes de azul, em contraste com o platô abaixo tomado pelos vários tons de vermelho. Perto de uma colina uma virana desceu bem devagar, o sistema de camuflagem foi acionado logo depois que a pequena nave aterrissou. Dois seres saíram de dentro dela, eles tinham corpos luminosos e translúcidos, como o mais puro dos cristais.
O aspecto humanóide, a altura elevada e a indefinição fluídica da forma constituíam figuras exóticas as mentes menos esclarecidas. Os seres não precisaram usar quaisquer artifícios de camuflagem, pois apenas determinados indivíduos poderiam ouvi-los e vê-los. Nem desse modo seriam vistos, toda a atenção dos homens no campo de batalha estava no inimigo.
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ONIRISMO
É o tipo de conto que adoro escrever. O clima investigativo preenche as páginas. Alguns até o considerariam um tanto macabro, outros chegarão a dizer profano! Investigue você também:
As duas jovens vinham de mãos dadas em plena rua. Para muitos não passava da delicada amizade feminina, sempre cheia de terno contato. Mas a amizade com o tempo se tornou algo maior entre elas, andar de mãos dadas para elas era mais do que uma demonstração de carinho, era amor. As duas entraram na loja de esoterismo.
O sino anunciou a chegada. O cheiro e o vapor do incenso preenchiam o ar com aromas e cores fumê. Da janela de vidro fosco, ninguém perceberia o universo próprio que existia dentro da Astérion. O piso consistia num enorme aquário cheio de carpas. Estátuas helênicas, budas, armaduras samurais e diversos livros raros como o Malleus Maleficarum dividiam o mesmo espaço.
Os sentidos despertavam todos ao mesmo tempo por tamanho bombardeio de estímulos. O balcão de atendimento não tinha ninguém. Elas procuraram algum funcionário, mas ninguém atendeu. Atrás do balcão havia uma porta com o nome de Gerência.
— Magda, não tem ninguém aqui, to com medo. — Barbara falou com um tom de voz igual o de uma criança dengosa.
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XAMATA
Muito antes de Assassins Creed eu já era fã da história dos templários. Mas fiquei ainda mais admirado com a história da Ordem dos Assassinos que muito inspirou a Ubisoft, descubra qual lendo agora:
O viandante tinha suas vestes agitadas pelo vento noturno. A sua frente os montes Elburz lhe convidavam a passar uma bela noite na fortaleza de Alamut. Voltava de Jerusalém, onde cumpriu uma missão dificílima, eliminar um cavaleiro templário que iniciava um plano de ataque ao ninho das águias, uma tarefa que só esse distinto membro da Ordem dos Nizarins poderia cumprir.
Ele continuava em sua marcha sem sentir a fome que doía no estômago e a sede que havia rachado seus lábios. Para alguns viajar a noite pelas terras montanhosas do norte do Irã pareceria loucura, mas não para esse homem. Ele conhecia esse lugar como a palma de sua mão. Praticamente ele nasceu ali, naquela redoma de rochas e sangue.
Ao chegar bem perto dos muros, os guardas o recepcionaram com flechas.
— Quem vem lá? — disse um dos guardas.
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SOLDADO INFERNAL
Como tinha intenção de escrever contos de fantasia histórica, não poderia faltar um ambientado na 2º Guerra Mundial. Esqueça Medalha de Honra! Aventure-se nessa também:
Todos os relatos de pós-guerra deixam claro o que ela é na verdade, um show de atrocidade, violência e dor. A imagem da desforra humana, eu sei, uma visão poetizada da coisa. O que poucos desses depoimentos citam é o lado “obscuro” de uma guerra. Obscuro não no sentido das atitudes humanas, mas sim das coisas que não podem ser compreendidas.
Tendo em vistas que nenhuma editora em sã consciência publicaria minhas memórias como uma obra não ficcional, as deixarei enterradas no sótão da casa onde moro. Talvez um dos meus curiosos netos as descubra, e possivelmente as vendas na internet. Não me importo, já não estarei mais aqui.
Voltava de uma longa estadia da Inglaterra, estudava na universidade de Oxford, estudei Filosofia e Línguas como latim e grego. Meu pai achava que estava estudando Economia e Finanças. Queria que eu fosse um grande empresário como ele. Mas desde a infância estudei línguas como o inglês e o alemão. E foi com a literatura alemã, de um livro magnífico, O Capital, que decidi que não importava o que acontecesse, eu seria um filósofo.
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O HAMELIN DE NOVA YORK
Essa é uma história de investigação, mas o crime aqui, ou melhor, o trabalho do detetive é sobrenatural. O conto teve um ótimo resultado e talvez no futuro eu elabore um título só para o detetive. Vamos ler:
O asfalto emanava um ar mormacento e um som crepitante, como se o Rio de Janeiro por si só já não fosse quente o bastante. Gonçalves não via necessidade naquilo, iriam ter ensaio com a orquestra logo depois do almoço, mas Dado não sabia o significado da palavra “não”. Ambos faziam parte da maior orquestra de jazz carioca que já existiu.
Dado achava que depois de tanto tempo vivendo na miséria, tinha o direito de usufruir da riqueza que ele conquistara com suor e lágrimas. Precisava, ou achava que precisava comprar uma flauta nova, mesmo que fosse a última coisa que comprasse. A orquestra iria fazer uma grande turnê interestadual através de um cruzeiro pela costa brasileira.
Os dois chegaram ao ponto e quando eles adentraram no carro, o chofer não pareceu muito animado com a entrada dos negros em seu automóvel.
— Desce que eu não faço viaje para morro — disse o chofer mal humorado.
— Quem disse que nós estamos indo pro morro? — perguntou Dado ironicamente. — Sabe com quem você está falando?
— Com algum bamba em bater carteira!
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LICOMANÍACO
Aqui também temos uma investigação, tão ou qual parecida com O Coronel e o Lobisomem. Deixei a revelação para o final da história, seria o lobisomem verdadeiro ou mito popular?
Minha garganta tava seca e meus olhos cheios de poeira. A égua gingava os quarto num trote sem graça. O galope seguiu pela estrada de cascalho. Os cascos batiam no chão como uma bicuda numa pedra. O Sol tava tão a pino que tremia como se estivesse sumindo. Não se via uma nuvem pra contar história. Vindo em minha direção, um carro de boi rangia as rodas de madeira.
— Caminha Faro-fini, adianta Oio-vivo — dizia o velho mulato aos berros e cutucava a rabada do boi com um ferro. — Quero comer meu fejão inda hoje!
A égua resfolegou, se dependesse dela, nós já tínhamos morrido pelo meio dessas estradas. Bate no pescoço da minha companheira e disse:
— Podia ser pior minha veia, você podia ta puxando aquele carro com aquele cara de sapo dentro.
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ENTRE A CRUZ E A KATANA
Esse conto aborda uma das histórias mais sangrentas do Japão Feudal, os Cristãos Ocultos. Esses homens e mulheres de fé foram perseguidos e assim como seus irmãos ocidentais, lutaram para mantê-la. Entenda o motivo:
O andarilho seguia sua caminhada com certo esforço. Seus músculos doíam e o estômago roncava. O suor escorria pela sua testa, as costas já estavam encurvadas pelo tempo da viagem e pelo cansaço. A respiração era ofegante e o ar custava a sair de seus pulmões. Descendo pela colina ele viu uma cidade. Com um pouco mais de esforço, dirigiu-se até ela com rapidez.
Os lábios estavam rachados a ponto de descascarem. Se caminhasse pelas estradas principais como a de Tokaido, ao invés de tomar rotas alternativas passando por florestas e montanhas, ele teria chegado em poucos dias ao norte de Honshu e tomaria um barco até a ilha Hokkaido, onde finalmente chegaria ao ponto final de sua peregrinação: o monte Asashi.
Lá se dedicaria como um bonzo ao asceticismo religioso. Fixara esse objetivo em sua mente desde que o kenjutsu perdeu o significado, antes aquilo resumia toda a sua vida. Mas assim como um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, o homem nasce e pode mudar a trajetória da sua vida como bem lhe aprouver.
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O VERBO SE FEZ VIDA
Se há um conto sobre a 2º Guerra Mundial, vejo que a 1º Guerra Mundial também deveria ser abordada. Resolvi escrever esse conto para relembrar que ela foi tão terrível quanto sua sucessora. Saiba o motivo lendo agora:
Minha vida pregressa não tem muito de relevante. Na verdade, minha vida mudou depois de ir viver com meu tio numa cidade interiorana. Depois da morte do meu pai em 1910, acusado de conspiração contra o império alemão, passei por todas as casas de parentes, e em todas sai como um “janota encrenqueiro”, como última alternativa o juiz me mandou para a casa do meu desconhecido tio Enock. E caso não me emendasse, seria mandado para um orfanato, visto que nenhuma família me queria por perto.
Sem alternativas e com um sentimento de não ser bem vindo em nenhum lugar, peguei um trem de Berlim e cheguei a Blauheim. Espantei-me com o clima, aquele lugar parecia intocado, agora sabia o motivo de o meu novo tutor ter escolhido aquele retiro.
Ao chegar à estação, não esperava um sorriso tão amistoso. Talvez ele não tivesse leu a carta de recomendação ainda, pensei. Apresentei-me como faria um bom menino, ele não sabia que meu nome era Asharon, aliás, nem lembrava que tinha um sobrinho!
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O SUÇUARANA
Esse conto foi planejado primeiramente como um roteiro de super-herói, mas acabou como um conto. Apeguei-me ao personagem e agora planejo no futuro voltar com ele num livro solo. Conheça esse novo herói:
Antes a água do rio era cristalina e cheia de peixes, agora estava salobra. As árvores frondosas, abrigos de várias espécies foram derrubadas uma a uma. Nada disso importava a multinacional inescrupulosa. Um dos maiores investimentos estaduais do estado do Amazonas, o Grupo Whitington, madeireira norte americana, se instalara a oeste de Manaus, onde se encontra a Zona Franca, maior centro industrial de bens de consumo do país. O carro-chefe da empresa era as madeiras nativas que estavam sob risco de extinção! Além da madeira, corriam comércios paralelos como à biopirataria, prostituição e trabalho escravo etc.
A tribo caiang, tinha suas terras bem onde à empresa operava. Os incentivos fiscais oferecidos ao governo amazonense chegaram a milhões de reais, mas o que a empresa lucrou chegou facilmente a bilhões em menos de um ano de produção. Os únicos a não ganharem nada com a barganha foram os índios. Os caiangues procuraram seus direitos legalmente. Dirigentes regionais da Fundação Nacional do Índio, ou Funai, que já tinham recebido seu quinhão, fizeram vista grossa. A área não está demarcada, por isso não pode ser homologada, disse a Funai em nota oficial.
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Obrigado pela leitura!
Caliel Alves, abril de 2016.