INOCÊNCIA

"Inocência" é um romance pertencente à escola literária do Romantismo regionalista, escrito pelo brasileiro Alfredo d’Escragnolle Taunay, vulgo Visconde de Taunay, publicado em 1872. O livro retrata costumes, paisagens e pessoas do Sertão do Mato Grosso, especialmente a cidade de Paranaíba e a frente colonizadora da Família Garcia Leal. Passa-se entre 1860 a 1863. Visconde de Taunay tinha um agudo senso de observação e análise, e muito conhecimento para conseguir descrever perfeitamente os ambientes e o quotidiano do Brasil daqueles anos. Conquanto não tivesse tanta experiência do interior brasileiro, ele escrevia o que conhecera, quando antes viajava na condição de militar pelos sertões a fora. Além de ser escritor, foi político, historiador e engenheiro militar que lutou na Guerra do Paraguai, de 1864 a 1870. O romance é considerado uma obra-prima porque o autor trata de temas como os valores comportamentais, apresenta um realismo descritivo(o casamento como acordo entre as famílias) e evidencia os conceitos naturalistas.

O romance começa com Cirino, um jovem farmacêutico que viajava pelos sertões a curar enfermos. Mesmo sem o título de bacharel em Medicina, autodenominava-se médico(curandeiro). Certo dia, durante a viagem, conhece o senhor Martinho dos Santos Pereira — mineiro, caráter autoritário, adepto aos valores morais, entretanto hospitaleiro. Pereira pede ajuda ao jovem para curar a sua filha doente, a troco de uma hospedagem em sua casa. Cirino cura Inocência de maleita e logo apaixona-se. Daqui em diante, a paixão de Cirino pela rapariga de 18 anos se torna cada vez mais efervescente tal qual o amor platônico. Inocência é descrita com olhos serenos, humilde e tenra, e seu gênio inocente só lhe faz ressaltar esse adequado nome. Contudo ela já é comprometida, sob o patriarcalismo do pai , a Manecão — homem viajante, violento, trabalhador e acumulador de fortuna.

Mais personagens compõem a história. Meyer é um entomólogo naturalista alemão o qual, a mando da Sociedade Entomológica da Alemanha, viaja pelo Brasil à caça de borboletas. Tem um grande conhecimento científico, mas sabe pouco da estreiteza moral por onde anda, fazendo-o como um dos protagonistas mais cômicos da ficção brasileira do século XIX quando comete umas trapalhadas. Certa vez, após elogiar de modo inocente a beleza de Inocência, passa a ser vigiado incessantemente por Pereira, dando brecha para uma maior aproximação entre ela e Cirino. Se não fosse pela presença incômoda do anão mudo Tico, como ‘’cão de guarda’’ da menina, e da ama Maria Conga, Cirino e Inocência já estariam bem achegados. Meyer volta à Saxônia após achar uma rara beleza de borboleta, cujo nome dara de Papilio Innocentia. Com a partida do naturalista, Inocência começa a sentir mais medo do seu pai, caso ele descubra os encontros às escondidas; sendo assim, ela instrui Cirino a encontrar e a conversar com o padrinho: o único capaz de ajudar ambos a ficarem juntos para sempre.

Taunay diversifica com brilho o uso de linguagem na narrativa. Os diálogos mostram uma linguagem coloquial natural do sertanejo: ‘’Nhor-não’’, ‘’mecê’’e ‘’sestiando’’. Emprega também uma linguagem culta, encontrada nas descrições dos ambientes e nos trechos documentais. Predomina na narrativa a paixão à razão — que é a característica do Romantismo — com a idealização do amor entre Cirino e Inocência; já no caso de Meyer, talvez o amor para com a filha de Pereira seja diferente, científico. Ao todo, o enredo caminha pelo drama, pela comédia e pelo romance.

Enfim, o livro é de fato um clássico da literatura brasileira, por isso merece ser lido, debatido e apreciado. Rendeu até uma adaptação às telonas em 1983, estrelada por Fernanda Torres(Inocência), Edson Celulari(Cirino) e Sebastião Vasconcelos(Pereira), e dirigida por Walter Lima Jr.

Pedro Viegas
Enviado por Pedro Viegas em 13/03/2016
Reeditado em 14/04/2020
Código do texto: T5572755
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