Introdução à literatura negra

BERND, Zilá. Introdução à literatura negra. São Paulo, Ed. Brasiliense. 1988. 99p.

Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs, Zilá Bernd é mestre pela mesma universidade e doutora pela Universidade de São Paulo. Em 1990 fez pós-doutorado na Université de Montéal (Canadá). Ao longo das últimas décadas publicou inúmeras obras sobre literatura , escrevendo sobre o negro e seu espaço no cenário literário, bem expressa na obra Introdução à literatura negra.

O intuito primordial dessa obra é "iluminar" algumas das regiões da história literária brasileira que permaneceram, ou permanecem à margem, trazendo-a superfície para lança-las ao debate crítico. Apontando as causas pelas quais, no mesmo período histórico, alguns textos não encontraram condições de legibilidade, enquanto outros, utilizando-se da mesma temática, conquistaram destaque social.

A literatura negra surge como uma tentativa de preencher lacunas criadas pela perda gradativa de identidade determinada pelo longo período em que a “cultura negra” foi considerada “ilegal”. Marcada por um eu enunciador que se quer ser negro, essa literatura, tem como objetivos fundamentais; explicitar as lutas e os dramas dos povos negros, sob um olhar atenciosamente artístico; distanciando-se dos cânones ocidentais e edificando-se nos “tesouros culturais do solo negro”.

Bern, afirma que havendo uma negação de seu “eu” (negro), de sua consciência, de valores e da consciência de toda a comunidade ao qual pertence, o negro perde seu valor diante da ordem colonialista, onde ele é “aquele que é olhado” e o branco “aquele que olha”. Para tal questionamento a intertextualidade é abordada como suporte fundamental para a literatura negra antilhana, uma vez que para o negro reconquistar sua identidade o ponto de partida é abandonar a língua do colonizador e adotar a do seu povo.

Com intuito de traçar a trajetória de construção de um discurso do negro na literatura brasileira, é apresentado também nessa obra, os aspectos discursivos do estilo poético de dois escritores Luís Gama e Castro Alves, ambos pertencentes à mesma escola literária, mas que apresentaram as temáticas negras sob perspectivas distintas. Gama demonstrou completa inserção na causa negra, posto que seu discurso apresenta uma fala transgressora que atinge o branco com o próprio instrumento que este criou para marginalizá-lo, enquanto o “poeta dos escravos” Castro Alves, se limita ao apresentar em suma um discurso sobre o negro, não entrando de fato na pele afro para ser seu porta voz, visto que ele apenas tomou o escravo e escravidão como temática, abordando-a sob um olhar exterior, evidenciado pela sua voz narrativa em terceira pessoa.

Assim como Castro Alves, Machado de Assis que também era negro não demostrou em sua ficção um “eu negro”, uma vez que esses escritores tinham uma perfeita identificação com o mundo branco e com a cultura europeia que os levou a ver o negro como O outro, o estrangeiro.

Caminhando para o século XX a literatura passa a buscar e a valorizar suas raízes, na tentativa de construir uma arte autêntica, em que como ponto de partida apropria-se da arte europeia, para assim os modernistas solidificarem depois da semana da arte moderna, uma literatura livre e que fosse genuinamente brasileira. A literatura negra também anseia pela sua liberdade e valorização no cenário artístico, do modo que conquiste sua real identidade, nascendo de uma ideologia, arte e desta arte instrumento de resistência.

Zilá Bernd nesse estudo, mais que introduz a literatura negra, amplia variados olhares para o cenário poético negro. Os livros didáticos apresentam essa literatura de forma superficial e paradoxalmente “completa”, já que Castro Alves é rotulado como poeta dos escravos, mas só depois dos estudos feitos por esta escritora é que se é conhecida às interfaces do discurso escravagistas de alguns poetas baianos.

Dadas às considerações, a obra em estudo tem a possibilidade de fomentar o interesse do leitor em conhecer e apreciar a literatura negra, reconhecendo que seus aspectos de formação podem representar a identidade de um povo que tanto enriqueceu a cultura brasileira.

Borboleta ao vento
Enviado por Borboleta ao vento em 06/03/2016
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T5565032
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