SIMON SCHAMA: A história dos Judeus
"uma civilização que mata os seus judeus está matando o seu futuro"
(George Steiner, El Pais, 01/7/2016)
"uma civilização que mata os seus judeus está matando o seu futuro"
(George Steiner, El Pais, 01/7/2016)
O livro do historiador londrino de origem judaica, Simon Schama, A história dos judeus: À procura das palavras: 1000 a.C a 1492 d.C. Trad. Donaldson M. Garschagen. 2a Ed. Cia das Letras, 2015; consegue em pouco mais de 460 páginas, reconstituir o caminho histórico dos hebreus que vai desde a época tribal até a sua expulsão da Península Ibérica no fim do século XIV de nossa era.
Os judeus tem uma história marcada por exílios, massacres recorrentes, fruto de ódios milenares, talvez o ódio mais sistemático já impetrado a uma cultura. Todos conhecem dos relatos bíblicos os principais fatos dessa civilização: da mítica saga de Abrão de Ur na Caldeia até a Terra Prometida e sua aliança com YAWE , a fuga do Egito liderada pelo mais importante patriarca Moisés, o grande libertador dos hebreus, que marca em definitivo a aliança desse povo com Javé. Outros fatos marcantes foram o Cisma, a divisão dos reinos de Judá e Israel, o Cativeiro da Babilônia ( 509 a.C), a destruição do Templo de Salomão,a dominação da Palestina por gregos e romanos, a diáspora (70 d.C ) e mais uma vez esse povo marcha a procura de um exílio com o desafio de resistir e afirmar-se enquanto cultura em meio ao estrangeiro muitas vezes hostil. Entretanto essa história não é só feita de perseguições e exílios contidos nos magistrais relatos bíblicos, é também uma história de celebração e amor à vida e as tradições que muitas vezes se encontra e se distância dos relatos bíblicos.
Para Simon Schama “O que os judeus vivenciaram e de alguma forma sobreviveu para contar a história, foi à versão mais intensa, conhecida pela humanidade, de adversidades também sofridas por outros povos; de uma cultura que resistiu sempre ao aniquilamento, refazendo lares e habitats, escrevendo a prosa e a poesia da vida através de uma sucessão de expulsões e agressões. È isso que torna essa história há um tempo particular e universal, a herança comum de judeus e não judeus, uma narrativa de nossa humanidade comum...” pg22
O historiador pretende construir sua narrativa calcada em achados arqueológicos recentes e outros já conhecidos que nos dão outra compreensão sobre como os textos bíblicos foram realizados e o seu contexto histórico. As fontes utilizadas por Schama vão desde os achados arqueológicos mais remotos, que retratam o passado tribal dos Hebreus, como a estela de Merneptah que remonta a 1500 a.C, primeira referência histórica a Israel; Os papiros encontrados no Egito que remontam ao século XIII a.C, época em que os israelitas viviam nessa região; A estela de Tel Dan que remonta a 870 a. C, que é a primeira referência a Davi ( 1040 a.C. a 970 a.C) fora da Bíblia. As inscrições no túnel de Siloé, da época do reinado de Ezequias, século VIII a.C, que fala do orgulho dos trabalhadores em ter construido o túnel. E ainda os papiros e as ruínas da ilha de elefantina localizada no Rio Nilo no atual Egito, que datam do século V a.C , onde há vestígios de uma antiga sinagoga e outras construições, achados estes que revelam vários aspectos da vida cotidiana dos judeus ali estabelecidos durante o período do exíllio na Babilônia.
O escritor nos oferece uma trama bem elaborada, ele nos transporta a lugares diversos por onde os hebreus deixaram pistas de sua passagem, seja na Arábia, na Índia, na Europa Oriental e Ocidental, no Marrocos e, sobretudo na Espanha da civilização Al andaluz, período de convivência um tanto harmoniosa entre Árabes e Judeus durante à época da dominação mulçumana no Sul da Espanha. Época em que se destaca a figura de Moses Maimônides, nascido em Córdoba, (1138-1204) que é considerado um dos maiores expoentes da cultura sefardita durante a Idade Média, médico, estudioso do talmude, é autor do Guia dos Perplexos, a sua mais importante obra filosófica, que influenciou a Escolástica, notadamente a obra de São Tomás de Aquino. Mas infelizmente Maimônides não fugiu a regra e teve que deixar a Espanha quando houve um pogrom em Córdoba, e em 1160, sua família foge das perseguições para Fez no Marrocos e depois Alexandria no Egito.
O livro é uma narrativa bem documentada de perseguições, conversões forçadas e massacres. Vale destacar os decretos de Alexandria, considerados as primeiras leis antissemitas, promulgado por Antíloco IV Epífanes em 167-170 a. C. O advento do cristianismo não alterou o estatuto dos judeus nos territórios cristãos, muito pelo contrário, a afirmação da religião cristã como culto oficial do Império Romano, a situação dos judeus se complica ainda mais, pois o Concílio de Nicéia é notadamente antissemita, abre caminho para toda sorte de ódios e perseguições institucionalizadas. Sem contar que alguns dos evangelhos, trazem em si um ranço antissemita, sobretudo o evangelho de João e os Escritos de Paulo, como também o foram os escritos de João Crisóstomo. Esses textos originários do cristianismo, todos eles escritos por Judeus, difundiram o antissemitismo no seio da comunidade cristã que se formava. Como resultado dessa cultura de ódio, ocorreram muitas perseguições e massacres durante toda a Idade Média, muitas vezes estimulados pela Igreja Católica e pelos poderosos de plantão. Na medida em que esse povo já não era conveniente, tornavam-se bodes expiatórios e eram culpados pelas crises sociais tão comuns no medievo . Era a senha para que fossem lançados literalmente aos leões, ou seja, as massas enfurecidas e empobrecidas durante os períodos de peste e de fome. A narrativa nos conduz a um terrível espetáculo onde milhares de Israelitas são enforcados, lançados na fogueira, espancados em praça pública até a morte, crianças esfoladas vivas, mães cometendo suicídio depois de matar por honra toda a família uma vez que era melhor matá-los do que vê-los serem mortos pelas multidões ensandecidas pelo ódio milenar.
O historiador narra ainda uma queima do Talmude numa praça de Paris, e uma das muitas matança de judeus na Londres medieval, os massacre na Alemanha, sobretudo em Colônia, os de Toledo e Córdoba, na Espanha em Estrasburgo, na França. O padrão das perseguições era o mesmo: acusações de toda espécie, como rapto de crianças, de terem crucificado Cristo, de serem responsáveis pela peste e pela fome, de contaminarem poços, etc., etc. Em seguida eram arrancados de seus bairros submetidos a toda sorte de violências, seja ela praticada a velhos, crianças e mulheres. Eram as vítimas preferenciais de ódios potencializados, sobretudo por preconceitos secularmente arraigados e incutidos nas mentes desavisadas e antes de serem barbarizados sofriam um processo de desumanização. Nunca devemos esquecer que esse ódio chegou ao Brasil, através dos autos da fé contra os cristãos novos portugueses. Ainda persistem traços no nosso imaginário do antissemitismo como a queima de Judas no sábado de aleluia e palavras incorporadas ao nosso vocabulário como "judiar" e na "marra", que vem da palavra marrano, como os judeus eram chamados na Espanha.
Mas entre uma perseguição e outra o autor nos transporta a vida cotidiana das Sinagogas, os rituais e os cânticos sagrados, as comemorações, realizados em momentos de relativa paz, onde a exaltação da vida e do amor a Deus está sempre em torno da vida cotidiana. Onde os rabinos interpretam a Torá a sua maneira através do Talmude e onde a fé e a esperança são uma constante. Nos mostra as pinturas dos vitrais das Sinagogas de Córdoba, a Beleza das Sinagogas do Al Andaluz, enfim apesar dos pesares há vida que pulsa e há gestos, gentilezas, ações de caridades, contribuições do povo hebreu em campos tão distintos quanto os das finanças, da medicina e das ciências. O autor aborda astrônomo e rabino Abrão Zacuto autor do mais importante mapa mundi da época que estudou na prestigiosa Universidade de Salamanca na Espanha e que havia prestado serviços aos reis de Aragão até que foi expulso e amparado pelo rei de Portugal onde se tornou historiador e astrônomo real. O rei D. João II tinha interesse em fazer dele um ajudante em sua empreitada de conquistar mares e lugares nunca dantes navegados e Zacuto pela sua inteligência e capacidade foi muito importante para a expansão marítima portuguesa. Mas a nação que usa os préstimos de Zacuto é a mesma que numa explosão de fúria e de terror irá massacrar milhares de Judeus em Lisboa em 1506.
Ao ler o livro de Schama me vinha sempre a imagens dos campos de concentrações nazistas e suas pilhas de cadáveres e o que é assombroso dessa história toda é que se o massacre nazista aos judeus foi inédito em seus métodos, entretanto foi mais um dentre muitos que ocorreram na Europa desde que os Judeus se dispersaram pelo mundo, mas o que impressiona é a capacidade desse povo de resistir e mesmo a ferro e fogo continuarem lutando para manter suas tradições ainda que sob ameaça de morte. Nas páginas finais do livro o historiador relata a expulsão dos hebreus da Espanha em 1492 com o decreto de Alambra assinado pelos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela e mais uma vez esse povo amargou o exilio do exilio forçado em um pais que os acolheu por quase 700 anos, de uma hora para outra saiu literalmente com uma mão na frente e outra atrás, depois de ter seus bens confiscados e patrimônios vilipendiados pelas autoridades espanholas e muitos como relata o historiador cruzaram a fronteira até Portugal a pé cantando e batendo pandeiros e um rabino a elevar a sua moral com a torá envolta em peles de carneiros, para que ao invés do pranto cantassem a glória do senhor. Afinal como no Egito antigo, os judeus sefarditas estavam novamente num êxodo forçado em busca de outra terra prometida. É sem dúvida um livro maravilhoso e magistral amparado numa rica pesquisa documental e com uma linguagem sóbria e elegante e com uma trama que nos prende do inicio ao fim. Abaixo reproduzo um Salmo que o autor coloca no fim do seu livro e que acho maravilhoso:
Os céus cantam a glória de Deus
e o firmamento proclama a obra de suas mãos.
O dia entrega a mensagem a outro dia.
E a noite faz conhecer a outra noite.
(Salmos, 19,2) ·.
Os judeus tem uma história marcada por exílios, massacres recorrentes, fruto de ódios milenares, talvez o ódio mais sistemático já impetrado a uma cultura. Todos conhecem dos relatos bíblicos os principais fatos dessa civilização: da mítica saga de Abrão de Ur na Caldeia até a Terra Prometida e sua aliança com YAWE , a fuga do Egito liderada pelo mais importante patriarca Moisés, o grande libertador dos hebreus, que marca em definitivo a aliança desse povo com Javé. Outros fatos marcantes foram o Cisma, a divisão dos reinos de Judá e Israel, o Cativeiro da Babilônia ( 509 a.C), a destruição do Templo de Salomão,a dominação da Palestina por gregos e romanos, a diáspora (70 d.C ) e mais uma vez esse povo marcha a procura de um exílio com o desafio de resistir e afirmar-se enquanto cultura em meio ao estrangeiro muitas vezes hostil. Entretanto essa história não é só feita de perseguições e exílios contidos nos magistrais relatos bíblicos, é também uma história de celebração e amor à vida e as tradições que muitas vezes se encontra e se distância dos relatos bíblicos.
Para Simon Schama “O que os judeus vivenciaram e de alguma forma sobreviveu para contar a história, foi à versão mais intensa, conhecida pela humanidade, de adversidades também sofridas por outros povos; de uma cultura que resistiu sempre ao aniquilamento, refazendo lares e habitats, escrevendo a prosa e a poesia da vida através de uma sucessão de expulsões e agressões. È isso que torna essa história há um tempo particular e universal, a herança comum de judeus e não judeus, uma narrativa de nossa humanidade comum...” pg22
O historiador pretende construir sua narrativa calcada em achados arqueológicos recentes e outros já conhecidos que nos dão outra compreensão sobre como os textos bíblicos foram realizados e o seu contexto histórico. As fontes utilizadas por Schama vão desde os achados arqueológicos mais remotos, que retratam o passado tribal dos Hebreus, como a estela de Merneptah que remonta a 1500 a.C, primeira referência histórica a Israel; Os papiros encontrados no Egito que remontam ao século XIII a.C, época em que os israelitas viviam nessa região; A estela de Tel Dan que remonta a 870 a. C, que é a primeira referência a Davi ( 1040 a.C. a 970 a.C) fora da Bíblia. As inscrições no túnel de Siloé, da época do reinado de Ezequias, século VIII a.C, que fala do orgulho dos trabalhadores em ter construido o túnel. E ainda os papiros e as ruínas da ilha de elefantina localizada no Rio Nilo no atual Egito, que datam do século V a.C , onde há vestígios de uma antiga sinagoga e outras construições, achados estes que revelam vários aspectos da vida cotidiana dos judeus ali estabelecidos durante o período do exíllio na Babilônia.
O escritor nos oferece uma trama bem elaborada, ele nos transporta a lugares diversos por onde os hebreus deixaram pistas de sua passagem, seja na Arábia, na Índia, na Europa Oriental e Ocidental, no Marrocos e, sobretudo na Espanha da civilização Al andaluz, período de convivência um tanto harmoniosa entre Árabes e Judeus durante à época da dominação mulçumana no Sul da Espanha. Época em que se destaca a figura de Moses Maimônides, nascido em Córdoba, (1138-1204) que é considerado um dos maiores expoentes da cultura sefardita durante a Idade Média, médico, estudioso do talmude, é autor do Guia dos Perplexos, a sua mais importante obra filosófica, que influenciou a Escolástica, notadamente a obra de São Tomás de Aquino. Mas infelizmente Maimônides não fugiu a regra e teve que deixar a Espanha quando houve um pogrom em Córdoba, e em 1160, sua família foge das perseguições para Fez no Marrocos e depois Alexandria no Egito.
O livro é uma narrativa bem documentada de perseguições, conversões forçadas e massacres. Vale destacar os decretos de Alexandria, considerados as primeiras leis antissemitas, promulgado por Antíloco IV Epífanes em 167-170 a. C. O advento do cristianismo não alterou o estatuto dos judeus nos territórios cristãos, muito pelo contrário, a afirmação da religião cristã como culto oficial do Império Romano, a situação dos judeus se complica ainda mais, pois o Concílio de Nicéia é notadamente antissemita, abre caminho para toda sorte de ódios e perseguições institucionalizadas. Sem contar que alguns dos evangelhos, trazem em si um ranço antissemita, sobretudo o evangelho de João e os Escritos de Paulo, como também o foram os escritos de João Crisóstomo. Esses textos originários do cristianismo, todos eles escritos por Judeus, difundiram o antissemitismo no seio da comunidade cristã que se formava. Como resultado dessa cultura de ódio, ocorreram muitas perseguições e massacres durante toda a Idade Média, muitas vezes estimulados pela Igreja Católica e pelos poderosos de plantão. Na medida em que esse povo já não era conveniente, tornavam-se bodes expiatórios e eram culpados pelas crises sociais tão comuns no medievo . Era a senha para que fossem lançados literalmente aos leões, ou seja, as massas enfurecidas e empobrecidas durante os períodos de peste e de fome. A narrativa nos conduz a um terrível espetáculo onde milhares de Israelitas são enforcados, lançados na fogueira, espancados em praça pública até a morte, crianças esfoladas vivas, mães cometendo suicídio depois de matar por honra toda a família uma vez que era melhor matá-los do que vê-los serem mortos pelas multidões ensandecidas pelo ódio milenar.
O historiador narra ainda uma queima do Talmude numa praça de Paris, e uma das muitas matança de judeus na Londres medieval, os massacre na Alemanha, sobretudo em Colônia, os de Toledo e Córdoba, na Espanha em Estrasburgo, na França. O padrão das perseguições era o mesmo: acusações de toda espécie, como rapto de crianças, de terem crucificado Cristo, de serem responsáveis pela peste e pela fome, de contaminarem poços, etc., etc. Em seguida eram arrancados de seus bairros submetidos a toda sorte de violências, seja ela praticada a velhos, crianças e mulheres. Eram as vítimas preferenciais de ódios potencializados, sobretudo por preconceitos secularmente arraigados e incutidos nas mentes desavisadas e antes de serem barbarizados sofriam um processo de desumanização. Nunca devemos esquecer que esse ódio chegou ao Brasil, através dos autos da fé contra os cristãos novos portugueses. Ainda persistem traços no nosso imaginário do antissemitismo como a queima de Judas no sábado de aleluia e palavras incorporadas ao nosso vocabulário como "judiar" e na "marra", que vem da palavra marrano, como os judeus eram chamados na Espanha.
Mas entre uma perseguição e outra o autor nos transporta a vida cotidiana das Sinagogas, os rituais e os cânticos sagrados, as comemorações, realizados em momentos de relativa paz, onde a exaltação da vida e do amor a Deus está sempre em torno da vida cotidiana. Onde os rabinos interpretam a Torá a sua maneira através do Talmude e onde a fé e a esperança são uma constante. Nos mostra as pinturas dos vitrais das Sinagogas de Córdoba, a Beleza das Sinagogas do Al Andaluz, enfim apesar dos pesares há vida que pulsa e há gestos, gentilezas, ações de caridades, contribuições do povo hebreu em campos tão distintos quanto os das finanças, da medicina e das ciências. O autor aborda astrônomo e rabino Abrão Zacuto autor do mais importante mapa mundi da época que estudou na prestigiosa Universidade de Salamanca na Espanha e que havia prestado serviços aos reis de Aragão até que foi expulso e amparado pelo rei de Portugal onde se tornou historiador e astrônomo real. O rei D. João II tinha interesse em fazer dele um ajudante em sua empreitada de conquistar mares e lugares nunca dantes navegados e Zacuto pela sua inteligência e capacidade foi muito importante para a expansão marítima portuguesa. Mas a nação que usa os préstimos de Zacuto é a mesma que numa explosão de fúria e de terror irá massacrar milhares de Judeus em Lisboa em 1506.
Ao ler o livro de Schama me vinha sempre a imagens dos campos de concentrações nazistas e suas pilhas de cadáveres e o que é assombroso dessa história toda é que se o massacre nazista aos judeus foi inédito em seus métodos, entretanto foi mais um dentre muitos que ocorreram na Europa desde que os Judeus se dispersaram pelo mundo, mas o que impressiona é a capacidade desse povo de resistir e mesmo a ferro e fogo continuarem lutando para manter suas tradições ainda que sob ameaça de morte. Nas páginas finais do livro o historiador relata a expulsão dos hebreus da Espanha em 1492 com o decreto de Alambra assinado pelos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela e mais uma vez esse povo amargou o exilio do exilio forçado em um pais que os acolheu por quase 700 anos, de uma hora para outra saiu literalmente com uma mão na frente e outra atrás, depois de ter seus bens confiscados e patrimônios vilipendiados pelas autoridades espanholas e muitos como relata o historiador cruzaram a fronteira até Portugal a pé cantando e batendo pandeiros e um rabino a elevar a sua moral com a torá envolta em peles de carneiros, para que ao invés do pranto cantassem a glória do senhor. Afinal como no Egito antigo, os judeus sefarditas estavam novamente num êxodo forçado em busca de outra terra prometida. É sem dúvida um livro maravilhoso e magistral amparado numa rica pesquisa documental e com uma linguagem sóbria e elegante e com uma trama que nos prende do inicio ao fim. Abaixo reproduzo um Salmo que o autor coloca no fim do seu livro e que acho maravilhoso:
Os céus cantam a glória de Deus
e o firmamento proclama a obra de suas mãos.
O dia entrega a mensagem a outro dia.
E a noite faz conhecer a outra noite.
(Salmos, 19,2) ·.