Resenha impressionista para "Os Pilares da Terra" - "Literatura & Gestão"

"Os Pilares da Terra", o best-seller de Ken Follett, é uma boa longa história. Abrange cerca de quarenta anos. É centrada na construção da Catedral de Kingsbridge. Tem aventura, romance, lealdade, desleadade, inocência, crueldade, ambição, humildade, dedicação, superação, ardis rebuscados e muitas muitas reviravoltas!

Tom Builder, o prior Philip, Jack Jackson, e as power girls Ellen e Aliena nos encantam como nossos heróis e heroínas. Eles são personagens realistas, com seus altos e baixos, virtudes e defeitos. Fazem suas boas ações por uma convicção de certo e errado. Mas nem sempre as coisas vão bem para eles. Várias vezes, se ferram com os "malvados". E que malvados! Crueldade e ambição caracterizam o desprezível William Hamleigh e o detestável Waleran Bigod!

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"Literatura & Gestão" em "Os Pilares da Terra"

Vários exemplos de boa e má gestão se encontram nesta história.

O prior Phillip exemplifica a dedicação de quem assume um priorado financeiramente "quebrado" e tanto pensa e planeja e controla e propõe e fica maquinando, e tanto age, que as fontes de renda do priorado se ampliam, ao mesmo tempo em que os destinos de despesas se enxugam. Tudo para gerar excedente e poder construir a Catedral. Baita administrador!

O Tom Builder é até hoje o meu exemplo preferido de Gerente de Projetos. Ele domina completamente todos os processos de trabalho envolvidos na construção da Catedral. Ele visualiza o projeto todo, sabe transmitir sua ideia em palavras ou em desenhos, seja de fachada, projeção ou corte. Sabe a tarefa e respeita o talento de cada artífice sob seu comando. (Gostei muito da apresentação bem didática da "sociedade dos pedreiros".) Tom Builder sabe e aplica as proporções mais harmoniosas para uma construção. E sabe ou inventa, descobre, investiga as melhores técnicas para fazer alguma inovação. Acompanha toda a logística, e tem noção de quantas pedras, quanto de massa, quantas árvores para madeira, quantas ferramentas, quantos andaimes, quantos trabalhadores vai precisar em cada fase do projeto. E tem uma clara noção de tempo para estimar cronogramas. O perfeito gerente de projeto!

Aliena, minha "ídala". Em uma sociedade cruel e machista, conseguiu sair de uma situação de pobreza e humilhações fazendo valer o seu "tino" para os negócios e sua incansável dedicação. A percepção inicial de que um serviço de transporte da lã até o ponto de venda poderia valer parte do dinheiro total pago por uma mercadoria foi apenas o começo. As grandes "sacadas" quanto a inovações como a compra antecipada, a descentralização das compras, a centralização das vendas, as opções, a formação do ponto, a incansável busca pelas oportunidades (a princípio raras, mas depois - em parte por causa dela! - crescentes), depois a ampliação do comércio, o emprego de pessoas, a incipiente industrialização na fabricação de tecidos a partir das lãs. Ela é a gestora de start-up inovadora mais bem-sucedida da era medieval! =)

E o mau exemplo, claro, fica com o conde William, que recebendo o condado com toda a sua extensão de campos férteis e produtivos, extorque os camponeses, aumenta excessivamente os impostos, rouba a produção, rouba o gado de ajuda, e depois deixa os grãos estragarem, deixa os moleiros sem trabalho, deixa os campos sem arar, deixa o povo morrer de fome. Péssimo administrador.

Adivinha quem resgata a antes florescente abundância do condado? O novo conde, Richard? Não! Bem capaz! Mas sim lady Aliena, a administradora que pensa nas pessoas e no futuro. :-)

07.02.2016