Notícia Histórica de São Sebastião do Paraíso
 
Luiz Carlos Pais
 

Esta resenha registra a obra de autoria do ilustre advogado paraisense José de Souza Soares, intitulada “Notícia Histórica de São Sebastião do Paraíso”, publicada em 1922, por uma editora da capital paulista, denominada Casa Espíndola. Trata-se de uma obra histórica pioneira no levantamento de dados remotos sobre episódios ocorridos no importante polo cafeicultor do sudoeste mineiro, ilustrada com várias fotografias de prédios públicos, praças e personagens da sociedade local. O período tratado na obra, na parte referente à transcrição das atas da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, inicia-se com a instalação da sede do município em 1871 e vai até 1921, totalizando meio século de eventos gerais da história regional. Entretanto, antes dessa parte, o autor faz uma sinopse de eventos sociais, políticos e religiosos da localidade, desde a construção da primeira capela consagrada ao padroeiro São Sebastião, em 1821. Em relação a essa data, a publicação dessa Notícia História tinha o propósito de comemorar o primeiro centenário de criação do povoado.
 
Formado em ciências jurídicas pela 78ª turma da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, José de Souza Soares colou grau no dia 14 de dezembro de 1909. No ano seguinte, iniciou carreira de advogado em São Sebastião do Paraíso, MG. Em pouco tempo conquistou fama nos tribunais e nos meios políticos da região devido a sua inteligência e vasta cultura como escritor brilhante e orador dos mais eloquentes. Casou-se com uma filha do coronel José Cândido Pinto Ribeiro e iniciou carreira política. Foi eleito vereador em 1912, quando assumiu a vice-presidência da câmara e assumiu o executivo municipal, de outubro de 1913 a setembro de 1914.
 
Dois anos depois, em 1916, foi eleito deputado estadual na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, quando estavam em curso os conflitos da Primeira Guerra Mundial. Em paralelo, dedicou-se também ao exercício do jornalismo em Paraíso e escreveu cerca de uma dezena de obras históricas, políticas e de ciências jurídicas. Mais de meio século depois de seu falecimento, alguns de seus livros ainda são encontradas no comércio especializado de obras raras.
 
Três anos depois de publicação da Notícia Histórica, o ilustre advogado publicou, em 1925, o livro “O Militarismo na República”, obra amplamente divulgada na imprensa nacional, principalmente da capital paulista, indicando traços de sua circulação nos meandros políticos da Republica Velha, ainda dominada por coroneis paulistas e mineiros. Na sequência de sua trajetória literária, entre outras obras, publicou: “Os Acontecimentos de 1932”, “A Revolução Brasileira (1939)”, “O Novo Regime (1939)”, “Economia e Finanças (1939)”, “Do Inventário e da Partilha no Direito Brasileiro (1940)”, “Dos testamentos no Direito Brasileiro (1941)” e “São Sebastião do Paraíso e sua História (1945)”. Há ainda referências que tenha publicado uma obra histórica comemorativa ao segundo centenário da cafeicultura do Brasil. Mesmo amparado nas forças políticas conservadoras do seu tempo, presidindo o diretório local do Partido Republicano Mineiro, nos primeiros anos de sua carreira, sua expressiva produção literária é digna de mérito e registro no quadro dos grandes eventos culturais da cidade, cuja amplitude ainda carece de uma pesquisa histórica de maior envergadura.