O DEMONOLOGISTA
AUTOR: Andrew Pyper
Traduzido por Cláudia Guimarães
Kindle edition
Ano: 2015
Em meio à vida conturbada de Nova York, o professor do Departamento de Inglês da Universidade de Columbia David Ullman , especialista em Mitologia e narrativa religiosa judaico-cristã, tenta sobreviver à sua depressão crônica e também ao divórcio. Seu maior interesse é a obra Paraíso Perdido, um poema épico do século XVIII escrito por de John Milton. A obra fala da revolta de Satã, líder dos anjos rebeldes, e sua fuga do paraíso a fim de criar uma “carreira” própria.
De repente, o professor recebe em seu escritório a visita de uma mulher misteriosa, a quem ele passa a chamar de “Mulher magra”, que deixa-lhe um convite (na verdade, uma intimação) para que vá à Veneza, Itália, onde seu destino o espera. Em troca, ela lhe oferece uma grande quantia em dinheiro. Tudo o que ele precisa fazer é visitar uma certa pessoa. Na mesma época, sua esposa pede o divórcio, e ele descobre que sua melhor amiga – Elaine O’Brien, com quem ele quase teve um caso - sofre de câncer em estado terminal. Em meio às dificuldades de sua vida, e pensando em reaproxima-se de Tessa, sua filha pré-adolescente a quem ele ama com todo o seu coração, ele parte para Veneza em companhia da filha; porém, aquilo que ele encontra por lá passará a segui-lo, mudando seu destino. Sua filha desaparece, e o tempo que lhe resta para reencontrá-la, com a ajuda de Elaine O’Brien, parece curto demais. Eles partem em uma longa viagem em busca de respostas. Uma viagem intrigante, que os deixará expostos a perigos inimagináveis.
Ao longo da história, passagens do livro Paraíso Perdido são citadas, e ao final, há um posfácio contendo uma biografia do escritor John Milton e o enredo de sua principal obra.
Uma obra fascinante, que nos leva aos recônditos das nossas próprias mentes e, consequentemente, a muitas reflexões. O Demonologista está sendo adaptado para o cinema, juntamente com outros três romances de Pyper.
O AUTOR
Passagens que destaquei
“Acho que me foi mostrado como a presença – como o Inominável – trabalha. Busca uma porta, um caminho para o seu coração. Tristeza. Mágoa. Inveja. Melancolia. Encontra uma abertura e entra.”
“Os demônios afligem os fracos.”
“Ou aqueles que pedem por ajuda sem se incomodar com quem está pronto a dá-la.”
“E então?”
“Rompe a parede entre o que você imagina fazer e aquilo que você nunca faria.”
“A guerra contra o paraíso nunca foi travada no inferno, nem na Terra. O campo de batalha está em todas as mentes humanas.” – “A mente tem seu próprio lugar, e neste / pode fazer do inferno, um paraíso, do paraíso, um inferno.” (Milton)
“Algumas vezes as pessoas fecham a porta porque estão tentando encontrar uma maneira de fazer você bater nela.”
“Sentir a falta de alguém é como ter fome. Um vazio insaciável no cerne de si próprio.”
“Nosso Supremo Adversário pode com o tempo suspender / Sua cólera, e , talvez, ainda que bem à frente / Não se importar que não cometamos ofensa. (Milton) – Adorador da fama e da erudição vazia. Ainda que agradasse aos ouvidos... seus pensamentos eram vis. (Milton) – Este é o significado de seu nome, no fim das contas. Belial. Sem valor.”
REFLEXÃO
O Diabo existe? Ele é real?
Para mim, o diabo, como é mostrado em figuras de livros sagrados, com pés de bode, grandes chifres e cheiro de enxofre, é apenas uma alegoria. Foi assim desenhado porque sua verdadeira face é difícil demais de se encarar. É mais fácil que o olhemos como que ‘de fora para dentro,’ pois desta forma, ele pode servir-nos de bode expiatório para todo o mal que existe no mundo. A aparência, criada pelo homem, da face do Diabo, é um eufemismo.
A Bíblia diz que Lúcifer era o mais lindo dos anjos decaídos, o que me faz pensar que a figura horrorosa do Diabo, é falsa.
Mas onde o diabo habita? Qual o seu verdadeiro rosto?
Caminho até o espelho, e penso em todas as coisas tristes que já me aconteceram, em todas as vezes que desejei vingar-me de alguém – ou que, realmente, diante da oportunidade de vingar-me, não recuei -; penso nas vezes em que tive medo, e em todas as vezes que senti indiferença ao ver alguém sofrer, ou que, em um momento de fúria, desejei o mal a alguém. Recordo-me de todas as mágoas que guardei, e das pessoas que ainda não consegui perdoar. E diante do espelho, vejo meu rosto transformar-se no rosto do mais lindo anjo decaído: Lúcifer. Descubro que o Diabo mora dentro de mim.
Diante deste mesmo espelho, penso em todas as vezes em que me lembrei de agradecer, e todas as vezes que fui capaz de, realmente, perdoar alguém e seguir em frente, libertando a mim mesma. Lembro-me das vezes em que, secretamente, ajudei pessoas. Certa vez, quando ainda era criança, recolhi um cãozinho de rua. Abro um sorriso ao deixar virem à minha mente as lembranças de todos os acontecimentos felizes. Lembro-me de todas as tristezas que aceitei sem reclamar, sabendo que eram necessárias ao meu desenvolvimento e aprendizado. Lembro-me de todas as pessoas que amei, e que amo. E assim, eu descubro que Deus mora dentro de mim.