Um esboço do romance Helena, do escritor Machado de Assis
O Livro: Muitos estudiosos de Machado de Assis consideram Helena um livro romântico, e que Machado só vai atingir a dignidade de figura central das nossas letras após ter superado esse romantismo, romantismo que, segundo Sílvio Romero, o deixa atrás dos já consagrados desse movimento. Logo, "Helena vai tratar da dialética do amor".
É na figura dos irmãos que passam a se conhecer já na adolescência, quando o pai desses morre de apoplexia, que esse Amor com ingredientes do Romantismo se aflorará. Poderíamos nomear esses ingredientes, tais como: culpabilidade, mistério, incestuosidade, sacralização, conservadorismo moral, etc. Isso simbolicamente através de cartas, insinuações, ameaças, persuasões e confissões, passeios à cavalos,etc.
O que os românticos vão chamar de amor, os realistas/ naturalistas chamarão de patologia. E será sob essas duas óticas que grandes escritores se consagrarão ao narrarem romances de costumes, costumes esses representados, na sua maioria, por personagens típicos que, ora excessivos, tornam-se caricaturas (vai ser assim em Machado, por vermos em suas obras, constantemente, a figura de um conselheiro, de um padre, médico, etc).
Entretanto, o que predomina, em Helena, são os mistérios. Para isso, o Escritor já inicia o romance por um suspense: a morte fulminante do Conselheiro Vale. Trata-se de um excelente recurso narrativo, muito usado por Machado (logo o veremos em Memórias Póstumas) capaz de bem integrar o leitor à trama e garantir os anseios de ambos narrador-leitor até as últimas linhas do desfecho ou conclusão final.
Quanto às personagens, o que dizer da figura incontestável de Helena? Achamos que a nível de crítica seria mais enriquecedor falar do seu perfil filosófico, que do psicológico. Isso porque o EU psíquico de Helena é totalmente plano, em nenhum momento ele é abalado, ou o é apenas obrigatoriamente, para que o texto tenha os requisitos básicos de um romance romântico.
Já o perfil filosófico da personagem, na medida em que avançamos no texto, percebemos o quanto esse filosofar vai ditando as regras do jogo e vai levando Helena a uma superioridade que transcende ao plano narrativo de ficção e passa para o universal. Helena parece trazer consigo uma realidade confinada no “plano das idéias”, uma espécie de platonismo interpretativo. O mundo verdadeiro para ela apenas existe na sua idéia. Talvez isso possa bem explicar, não só seu desfecho,mas também toda a estória.