A Cidade e as Serras - Eça de Queirós

A Cidade e as Serras - Eça de Queirós

Bom resumo ANGLO - 2015 em: http://www.lumen.com.br/arquivos/aluno/portugues/a_cidade_e_as_serras.pdf

"Último romance de Eça de Queirós, publicado postumamente

em 1901, A Cidade e as Serras é o desenvolvimento de um conto

de sua autoria chamado A Civilização.

Pertencendo à última fase da obra de Eça, esse romance apresenta

uma acentuada idealização da vida rural portuguesa, entendida

como remédio para os males gerados pela civilização urbana

do final do século XIX.

A obra apresenta XVI capítulos, que, esquematicamente,

podem ser divididos em dois blocos. O primeiro, constituído dos

sete capítulos iniciais e parte do oitavo, passa-se em Paris e serve

para caracterizar os requintes da civilização urbana. Nele, mediante

o poder da ironia e do talento caricatural, Eça de Queirós vai

compondo um quadro exasperante, em que o protagonista aos

poucos se deixa vencer por um tédio irresistível e um pessimismo

atroz. Jacinto tem cultura, prestígio e uma imensa fortuna, mas não

é feliz. Da metade do oitavo capítulo ao último, o autor compõe o

segundo bloco, que se contrapõe ao primeiro, sendo a sua antítese.

Jacinto se regenera, torna-se ativo e entusiástico. O encontro

com a natureza e a vida simples do meio rural proporciona-lhe a

felicidade. Não deixa de haver humor, ironia e caricatura no idílio

campestre de Jacinto, mas a arte de Eça, nesse segundo bloco, se

compraz num estilo em que é notável a carga de lirismo, especialmente

nas descrições impressionistas da natureza.

Como se verifica em A Ilustre Casa de Ramires, outra obra da última fase do autor, configura-se,

em A Cidade e as Serras, a valorização de uma aristocracia rural degradada pela adoção de modelos

de vida inautênticos, estrangeirados, que se regenera ao reencontrar-se com as raízes nacionais lusitanas,

capazes de restituir a fibra empreendedora e infundir o espírito de generosidade humanitária.

Como um todo, o romance A Cidade e as Serras pode ser visto como uma alegoria, isto é, uma

metáfora desenvolvida numa narrativa de significado simbólico, segundo a qual a felicidade se encontra

na vida simples e laboriosa do meio rural, e não no artificialismo enganoso da civilização urbana.

"ANÁLISE DA OBRA

Foco Narrativo

O foco narrativo de A Cidade e as Serras é centrado

na primeira pessoa. O narrador, Zé Fernandes,

embora seja personagem importante do romance,

não é protagonista. Trata-se de um narrador testemunha,

que observa de perto os acontecimentos

que relata. Ele não sabe tudo sobre a história, como

os narradores oniscientes; seu conhecimento

dos fatos limita-se àquilo que presencia, ou ao que

indiretamente lhe é dado saber. Quanto às personagens

com que se relaciona, só as conhece pelo

que manifestam; se há discordância entre o que declaram

e seus pensamentos e sentimentos mais íntimos,

o narrador não é capaz de saber com certeza.

O leitor conhece indireta e parcialmente fatos e

pessoas, uma vez que são apresentados mediante o

filtro da subjetividade. Assim, o retrato das personagens

depende da sensibilidade, capacidade de

observação e disposição afetiva do narrador; a apresentação

dos fatos resulta da seleção e combinação,

empreendida pelo narrador, dos elementos que os

constituem, aos quais ele teve acesso direta ou indiretamente;

os juízos de valor formulados decorrem

dos valores assumidos pelo narrador.

Embora não se possa confundir autor (Eça de

Queirós) e narrador (Zé Fernandes), o primeiro se vale

do segundo para passar a tese que está na base da

obra, a da superioridade da vida rural sobre a

civilização urbana e desumanização do homem

nas grandes cidades."

"ENREDO

De Lisboa a Paris

A história de Jacinto de Tormes começa bem antes de seu nascimento. Em Lisboa, nos idos de

1820, aproximadamente, seu avô, um gordíssimo e riquíssimo fidalgo, também chamado Jacinto,

conhecido pela alcunha de D. Galião, escorregou numa casca de laranja e desabou em plena rua, sendo

socorrido pelo infante D. Miguel, filho do rei D. João VI e herdeiro do trono. Desde então, o velho aristocrata

dedicou um afeto sem limites ao príncipe, que o ajudara tão graciosamente."

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Professor do Anglo resume 'A Cidade e as Serras', romance de Eça de Queirós. A obra é leitura obrigatória da Fuvest e da Unicamp.

Créditos: http://g1.globo.com/

NARRADOR É O ZÉ FERNANDES - NARRADOR QUASE ONISCIENTE.

ROMANCE DE TESE OU DE ESPAÇO

PARIS E BUCOLISMO

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"A Caminho das Serras

"Numa manhã de fim de inverno, Jacinto surpreende

Zé Fernandes com a resolução de ir a Tormes

para a inauguração da igrejinha, que ficara

pronta, e para o traslado e sepultamento das ossadas

ancestrais. Os preparativos para a viagem tomaram

três meses. Jacinto despachou para Tormes vá-

rias caixas com móveis, livros, tapetes e objetos capazes

de fazer do solar rústico da serra, edificado

em 1410, um simulacro do 202."

TRAJETO ENTRE CIDADE E MUNDO RURAL (RAÍZES DE EÇA E JACINTO)

CRÍTICA AO POSITIVISMO - RECURSO AO SHOPENHAUER

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"Tédio e Pessimismo

Curado de sua infecção sentimental, Zé Fernandes

retomou a camaradagem com o amigo Jacinto,

que, ultimamente, dava sinais de grande melancolia.

Grilo, o velho criado negro, dizia: Sua Excelência sofre

de fartura. De fato, os confortos proporcionados

pelo progresso mecânico, toda erudição acumulada

na vasta biblioteca, os apelos da sociedade elegante,

nada satisfazia o Príncipe da Grã-Ventura, que se

transfomara num homem taciturno, triste e asfixiado

por um tédio medonho. E essa disposição de espírito

era refletida pela decadência física de Jacinto, que

definhava visivelmente.

Para distrair o amigo, Zé Fernandes o leva a um

passeio a Montmartre, nos arredores de Paris, para

conhecerem a Basílica do Sacré-Coeur. A edificação

não os interessou muito, no entanto, a visão da cidade

de Paris, do alto, causou-lhes profunda impressão. Zé

Fernandes faz uma longa reflexão sobre a cidade, considerando

como toda a sua grandeza se apagava, vista

de cima. Jacinto, observa: — Sim, é talvez tudo uma

ilusão... E a cidade a maior ilusão!

Animado com a própria eloqüência, Zé Fernandes

prosseguiu seu discurso, aduzindo que na cidade

findava toda liberdade moral do ser humano: (...)

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"Desastres mecânicos e sentimentais

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Por sete anos os amigos não se viram, até que, por

volta de 1887, Zé Fernandes, em viagem a Paris, reencontra

Jacinto. Na Avenida dos Campos Elíseos, nú-

mero 202, o antigo palacete fora transformado numa

síntese do mundo moderno, dotado de uma biblioteca

com 30 mil volumes, que concentrava todo o saber

produzido pelo homem, e de toda espécie de máquinas

e equipamentos de que a tecnologia era capaz

para o conforto da vida. Nunca o 202, como era conhecido

o palacete, fora tão magnífico, com o brilho da eletricidade,

o conforto de elevadores, a parafernália de

telefones, fonógrafos e telégrafos e o requinte de utensílios,

máquinas e engenhocas de toda espécie."

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UNIÃO ENTRE O ACONCHEGO RURAL E O PROGRESSO (TELEFONE E MELHORIAS DAS CASAS DOS MORADORES DAS SERRAS, PAISAGEM RURAL PORTUGUESA)

ZÉ FERNANDES = OUTRO EGO DE JACINTO.

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Romances de tese

Isso fica claro em romances e contos, nos quais as personagens são o resultado da sua descendência e das condições em que vivem. Condicionadas pela situação, seu livre arbítrio inexiste e não lhes resta a menor chance de evoluírem por si mesmas.

As obras naturalistas são também chamadas de romances de tese: apresentam um ponto de vista e tentam demonstrá-lo através dos fatos narrados. Em geral, focalizam o lado patológico dos indivíduos ou da sociedade, ou seja, as piores situações sociais, como: traição, atentado ao pudor, exploração sexual etc.

Em seguida, procuram os motivos de tais problemas, encontrando-os na etnia, nos costumes, no ambiente social, no temperamento, na falta de valores morais e na libertinagem. Enfim, dissecavam as taras humanas, vistas como consequências da hereditariedade, de doenças, vícios, má formação do caráter e das relações sociais.

Descrição e distanciamento

As cenas, narradas com tantos detalhes, em descrições caudalosas, são verdadeiros retratos ou quadros da situação. Os personagens que a protagonizam são muito mais estereótipos do que seres humanos.

Os autores procuram assumir a postura de cientistas que observam experimentos. Tentam ser o mais objetivos possíveis, demonstrando distanciamento e impessoalidade no trato dos fatos do romance, como se estivessem num laboratório, diante de cobaias.

Os autores brasileiros estavam influenciados pelo português Eça de Queirós e pela produção francesa - mais especificamente pelos romances de Émile Zola, como "Thérèse Raquin" (1867), que introduziu o Naturalismo literário em seu país.

Zola, por sua vez, tinha suas ideias moldadas no evolucionismo de Darwin e no positivismo religioso de Comte, os principais responsáveis pelos estudos e pesquisas que deram fôlego e material de trabalho à literatura.

Autores brasileiros

Os que mais se destacam neste universo fatalista são: Inglês de Sousa, com "O Missionário" (1888); Domingos Olímpio, com "Luzia-Homem" (1903); Adolfo Caminha, com "O Bom Crioulo" (1895); Júlio Ribeiro, "A Carne" (1888) e, principalmente, Aluísio Azevedo, com sua obra prima, "O Cortiço" (1890).

A exceção deste último, que ocupa sem dúvida um lugar de destaque em nossa literatura, Inglês de Souza, Adolfo Caminha e Júlio Ribeiro excessivamente descritivos, preocupados em pintar detalhadamente um retrato físico dos personagens e dos cenários em que eles se movimentam, produziram antes de mais nada uma literatura chata, aborrecida, onde a narração é de tal forma entrecortada pelos caudalosos trechos descritivos que o leitor precisa ter paciência - e não pouca - para chegar da primeira à última página.

O esquematismo não deixa de estar presente também nos referidos autores. Senão no invariável caráter trágico do enredo, ao menos na suposta análise científica que os romances naturalistas fazem de seus temas, reduzindo os personagens a criaturas determinadas pelo meio físico e por seus instintos sexuais mais animalescos ou, pior, animalizados pelos autores, com o intuito de demonstrar suas teses.

Denúncia vazia

Ora, há limites óbvios entre a arte e a ciência e, quando se tenta desconsiderar esses limites, o resultado é inevitalmente arte de má qualidade ou anticiência, como se vê em obras como "O Missionário" (1888), de Inglês de Souza, ou "A Normalista" (1893), de Adolfo Caminha, ou ainda "A Carne" (1888), de Júlio Ribeiro.

Nas três obras, o que não faltam são preconceitos e chavões deterministas, difundidos em nome de uma suposta denúncia crítica da sociedade (burguesa). Sem falar que a trama abusa sempre de aspectos escabrosos do corportamento humano e de seus tipos mais mesquinhos, resvalando inevitavelmente para as cenas ou episódios de mau gosto.

Nesse sentido, é plausível encerrar essa breve avaliação do naturalismo brasileiro com duas citações. O filósofo oitocentista Karl Marx, nas "Teses contra Feuerbach", disse que "a filosofia se limitou a explicar o mundo, cabe transformá-lo". Referindo-se ao próprio Marx e aos pensadores que seguiram sua filosofia, o cientista político francês Raymond Aron (1905-1983), mais percucientemente, disse que "os intelectuais não querem nem explicar nem transformar o mundo, mas somente denunciá-lo".

FONTE: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/naturalismo-o-romance-de-tese.htm

https://www.youtube.com/watch?v=g1YKHUW9Bhw
Enviado por J B Pereira em 18/10/2015
Código do texto: T5418813
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