PROMETEU ACORRENTADO, de Ésquilo

"A inteligência nada pode contra a fatalidade".

Quem ensinou a arte do fogo ao homem? Para os gregos foi Prometeu, um deus por isso - entre outras coisas - castigado depois por Zeus (Júpiter). A sua punição foi ficar acorrentado ao monte Cáucaso, onde uma ave comeria diaria e eternamente o seu fígado (que regenerava à noite). Prometeu é o único capaz de prever o futuro e sabe como prevenir que o reinado de Zeus termine. Este é outro motivo da fúria de Zeus: Prometeu insiste em não revelar o segredo enquanto estiver preso.

Originalmente a tragédia do teatro grego sobre Prometeu era formada por três peças: Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do Fogo (a ordem é incerta). Mas somente a primeira chegou completa aos nossos dias. Ésquilo foi um dos principais teatrólogos gregos, ao lado de Sófocles e Eurípedes. Foi ele quem adicionou o coro e o diálogo (dois personagens) no teatro. Aristóteles o considerava o pai da tragédia grega.

Assim como o dilúvio, o mito de Prometeu é encontrado na mitologia indiana, eslava, germânia e celta, entre outras. Das muitas aplicações encontradas para o mito, a principal diz que o fogo significa a sabedoria e o conhecimento que diferenciam os homens dos animais. Uma delas sugere que o próprio poeta é aquele que traz luz para os homens e sofre por isso. Outra diz que Prometeu é o símbolo da revolta humana contra os deuses. Existem até mesmo interpretações cristãs: por um lado Prometeu é o Cristo que traz luz para a humanidade pelos seus ensinamentos e é punido com a morte, por outro lado é o Diabo, que fez com que Adão e Eva experimentassem da àrvore do conhecimento. Por isso seria chamado de Lúcifer (portador da luz).

A edição da Martin Claret traz uma bela capa e dois textos complementares pertinentes à obra, ambos retirados da Enciclopédia Abril. O primeiro e maior deles mostra o surgimento e a evolução do teatro. O segundo traz as diferenças entre a tragédia e as outras formas teatrais, inclusive o drama. Há também um estudo feito por Ana Paula Quintela Sottomayor sobre "Os Dilemas da Condição Humana" e um breve perfil biográfico da vida e obra de Ésquilo. Tantos anexos formam mais de 60% do livro, pois a peça tem apenas 30 páginas (pgs. 25-55). Apesar da tradução ser atribuída ao professor de história João Baptista de Mello e Souza, em uma nota na edição dos Clássicos Jackson, ele se declara apenas como o organizador "de tradutor português desconhecido, que venceu com certa galhardia as dificuldades do empreendimento".