Judas, de Amós Oz
Antonio Augusto dos Reis Veloso lê tudo que lhe cai às mãos, inclusive
este..."Texto barra-pesada, duro, realista. Autor importante, falando da traição." Ele, Antonio Augusto dos Reis Veloso, autorizou-me a publicar aqui sua resenha sobre“Judas”, de Amós Oz, Editora Companhia das Letras, 2014, 362 páginas.
Eis a sua opinião sobre o livro:
"O autor é renomado, “um inconfidente da causa israelense”. Hoje com 75 anos, candidato natural ao Prêmio Nobel de Literatura, tendo diversos livros publicados no Brasil (A Caixa Preta, Cenas da Vida na Aldeia, Uma Certa Paz, De Amor e Trevas, Não Diga Noite, Rimas da Vida e da Morte). Judas é seu último romance, lançado simultaneamente em Israel e no Brasil, no final de 2014, uma delicada provocação do autor, mostrando o “traidor redimido”, “o mais leal e devotado dos indivíduos”. Amós Oz, através do seu protagonista, defende o Judas como o primeiro cristão do mundo: pertencia a uma família rica e não precisaria dos 30 dinheiros da traição; ele queria que Jesus fosse crucificado para que, no final, na hora da verdade, descesse da cruz e revelasse ao mundo a sua condição divina, a condição de Filho de Deus. Judas seria, assim, “o primeiro e último dos cristãos”. No romance, o jovem protagonista - asmático, tímido, confuso, apaixonado - de aparência rústica, baixa estatura, cabelos encaracolados e barba abundante, está diante de um contexto de sérias dificuldades: em Jerusalém, no inverno entre 1959 e 1960, Shmuel Asch, estudante, decide abandonar sua pesquisa na universidade, vê a família ir à falência, perde a namorada, vê a sua vida desmoronando. Superado o desespero inicial, atende a anúncio de emprego numa água furtada de antiga casa de pedra, no ponto extremo de Jerusalém. Ali, durante algumas horas por dia, assume a função de atender a um velho alquebrado, inválido e inteligente, Guershom Wald. Com o velho, compartilhando o clima de solidão, vive uma mulher madura, Atalia Abravanel, bonita, sensual, sedutora e severa, com quase o dobro da idade de Asch, por quem ele vai incontrolavelmente se apaixonando. Nesse ambiente, convivem intensamente dois fantasmas - o filho de Wald, morto na Guerra contra os árabes, e o pai de Atalia, o velho Abravanel, “um sionista dos primeiros tempos de Israel cuja memória carrega a pecha de traição por ter concluído que o Estado judeu não deveria existir.” Um dos temas explosivos das conversas entre o jovem Asch e o velho Wald é a questão da traição de Judas Scariotes. Em entrevista recente, o escritor defende Judas não como um “traidor banal”, mas “aquele que faz de um comportamento inesperado uma abertura para a mudança e para a solução. “ Oz, líder político renomado, para muitos traidor, defende “a criação de Estados separados, um para os judeus israelenses e outro para os árabes palestinos.” No romance, as conversas fascinantes entre Asch e Wald convivem com um clima realista e duro do amor sem grande futuro entre Asch e Atalia. Como assinala Alberto Manguel no seu comentário, Judas nos mostra que “o ódio sem motivo é sempre pior do que o amor sem motivo.”