Livro "Gente Pobre" de Dostoiévski

Resenha do livro "Gente Pobre" do escritor russo Dostoiévski

“Lembre-se de que pobreza não é defeito”

Gente Pobre é primeiro romance de Dostoiévski e como todo gênio, seja o primeiro livro ou o último, todos são bons, mesmo sendo epistolar, conseguimos nos transportar para o cotidiano dos miseráveis, dos pobres, dos humildes em seu dia-a-dia na antiga Petersburgo. O livro tem tantas poucas páginas, com tanto conteúdo: a pobreza sempre acompanhada com doenças. Makar e Varvara os dois personagens principais, tem em comum o bullying, este sofre na infância no internato, aquele sofre no serviço militar.

Como é de praxe, nas obras dostoievskiana, neste livro também encontramos um pouco de filosofia, na qual, Dostoiévski mostra como os pobres são expostos; em sua visão, os pobres são expostos justamente por serem pobres. Na mente da sociedade o indivíduo pobre não sente vergonha que sua vida seja explorada, verificada, sua casa seja vasculhada, que seu nome esteja na boca de todos que dizem: “Como ele é pobre, o que ele vai comer no almoço...” isso é mentira, o pobre também tem pudor. Para exemplificar, ele diz que às vezes por uma pessoa fazer uma doação a um homem pobre, seja em dinheiro ou cesta básica, esse doador, pensa que tem direito em vasculhar sua vida e de sair falando de como não encontrou nada na geladeira do miserável; o doador não está fazendo uma doação, mas, pagando para expor a pobreza de outrem; até a caridade anda confusa conclui o autor.

Não há como não concordar com essa teoria até os dias de hoje, veja os inúmeros exemplos que temos na televisão, o Programa do Gugu, em seus quadros de doações, de ajudar o próximo, expõe totalmente a pobreza da pessoa, a miséria em que ela vive, com quem vive, mostra para milhões que assiste o programa, para conseguir unicamente audiência, chama a cidade inteira pra ir ver a doação, para depois, como em um ato de caridade, de bondade, ajudá-la, dando casa, roupas, móveis. Isso é caridade? De acordo com esse livro não, o programa está pagando para expor (de uma forma sensacionalista) a vida dos ajudados, todavia, ninguém que recebe está preocupado com isso, muitas das vezes, as pessoas são tão humildes que acreditam que o próprio Gugu seja o misericordioso, o homem caridoso, não se lembram que ele é apenas o apresentador, o Gugu nunca tirou dinheiro de seu bolso, quem paga é a Record, quem escolhe quem vai ser ajudado é a produção do programa, ele apenas e unicamente apresenta o quadro.

Outra teoria, é sobre as roupas novas, segundo o autor, compramos botas novas para os outros, não para nós, se não houvesse ninguém pra admirar nossas roupas novas, ficaríamos com as velhas, contudo, como existem as pessoas para verem, se usamos roupas velhas, corremos perigo de perder a honra, de ser mal olhado na rua, de ser mal atendido em algum lugar...

CHEGA! Quanta informação, lições, aprendizado tem em um livro que nada mais é que uma coletânea de cartas. Tem pessoas no mundo que realmente estão a passeio, se não conhecem ou nunca leram nada de Dostoiévski!

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Resenha escrita por Fábio Godoi em 2011.

Boris Becker
Enviado por Boris Becker em 16/12/2014
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