Robert Bergin e o Apocalipse

ROBERT BERGIN E O APOCALIPSE

Miguel Carqueija





Resenha do livro “Esta idade apocalíptica” (do original inglês “This apocalyptc age”), por Robert Bergin (de “Voice of Fatima International”). Edições Salesianas (Porto, Portugal), 1971. Tradução: Maria de Freitas. Apêndice: “As aparições de Fátima”, narração de Irmã Lúcia com notas de Fernando Leite, S.J. Coleção Renovar, 12.





Este envolvente ensaio, que o saudoso monge beneditino Dom Hildebrando Martins me deu de presente em 1974, é uma brochura de capa lustrosa, folhas brancas e impressão de fácil leitura. O autor discorre sobre a situação do mundo naquela altura do século XX — por volta de 1970 — e a relação de tudo com a Revelação de Jesus Cristo, as profecias e a Igreja Católica. Bergin discorre sobre o panorama histórico e as razões da decadência da civilização cristã desde a Idade Média. Focaliza também, com bastante destaque, a revelação particular de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917.

Robert Bergin possui um estilo ímpar, saboroso, límpido, e mostra com clareza os valores morais agredidos na sociedade moderna. Cita o grande G.K. Chesterton: “Um erro é mais perigoso que um crime porque um erro gera crimes”.

Bergin lembra, porém, os vaticínios de S. Luís Grignon de Montfort, que em seu “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem” previu uma Era Marial, de triunfo cristão, após o reinado do Anticristo. Bergin toca muito nessa tecla, de considerar o Anticristo como uma figura real e não apenas uma metáfora. No capítulo “Não desprezeis as profecias” Bergin sintetiza o que S.Luís anuncia no início do século XVIII: “a) a perseguição à Igreja, largamente espalhada no seu tempo, continuaria a desenvolver-se até se tornar geral e universal sob o Anticristo; b) no auge do reinado do Anticristo, o “poder de Maria” irromperia contra os demônios. Pelo poder do Espírito Santo, Maria esmagará a cabeça da serpente. Isto, segundo São Luís, seria o cumprimento efetivo da profecia do terceiro capítulo do Gênesis; c) haverá um regresso em massa à Igreja Católica; d) Cristo reinará pela graça no coração dos homens num período de grande triunfo para a Igreja.”

Percebe-se o grande bom senso que norteia a brilhante pena de Bergin. Ao lembrar que os prazeres do mundo não trazem a felicidade, observa judiciosamente: “A crença errônea de que a penitência é sinônimo de infelicidade é a ilusão fatal do nosso tempo”. “A sorte irrevogável do busca-prazeres é inevitavelmente o tédio, a frustração, o desalento.” Dedicando algum espaço à questão do materialismo, Bergin pergunta: “Quem criou a vida?” E sobre o movimento constante e regular dos astros: “Mas quem sustém esse movimento, quem conserva a terra girando em torno do sol a uma velocidade precisa? A matéria inerte não pode mover-se por si própria.”

“O consenso de toda a humanidade até esta orgulhosa e cega idade ateísta é que existe um Motor Primário, um Ser Onipotente, que é Deus.”

No capítulo “Certas modas” Bergin entra num doloroso e por vezes negligenciado tema: “Todas as aberrações da sociedade moderna — divórcio, contracepção, aborto — estariam envolvidas nesse termo “modas”, bem como, naturalmente, o vestuário imodesto, hoje em dia tão notório.”

Na época em que este livro foi escrito já existia a mini-saia e outras formas imodestas de trajar. Bergin porém faz uma ressalva: “Objetivamente falando, um divórcio ou um aborto é um mal muito maior do que o uso da mini-saia. No entanto, o vestuário imodesto usado pelas meninas cristãs desta época é particularmente entristecedor, porque representa rompimento completo com a moral cristã dos tempos passados.” E mais: “Qualquer menina ou mulher cristã que faz um aborto deve saber que comete um pecado mortal”.

Porém o ponto mais importante de “Esta idade apocalíptica” talvez seja a ênfase dada á magnífica mensagem de Fátima em 1917, em pleno conflito que veio a ser conhecido como a Primeira Guerra Mundial: “Na escuridão profunda raiou então uma luz, uma graça especial a “despertar as idades sonolentas”, a chamar a civilização cristã à sua grandeza passada. A Luz veio, cortando o mundo denegrido com uma faixa rutilante. Houve uma visão celestial, uma voz divina, um fenômeno solar espantoso... e silêncio”.

“Uma série de profecias anunciava o futuro da humanidade. Era o ano de 1917. E era a predição das últimas horas do colapso de uma civilização cristã.”

É claro, para quem estuda o assunto as aparições da Virgem Maria em Fátima, em Portugal, afiguram-se incontestáveis, visto que aconteceu o espantoso “milagre anunciado” (por Lúcia, de dez anos) no dia 13 de outubro de 1917, e perante uma multidão calculada entre 50.000 e 70.000 pessoas, muitas das quais descrentes. É um fato histórico e noticiado pela imprensa da época.

O livro de Robert Bergin, além de extremamente bem escrito, continua atualíssimo em sua mensagem á consciência da humanidade.





Rio de Janeiro, 9 a 17 de abril de 2014.