O Outsider, de Colin Wilson

O Outsider - O drama moderno da alienação e da criação

Autor: Colin Wilson

Editora: Martins Fontes

Obra lançada no ano de 1956, quando o autor tinha apenas 24 anos e chamava a sua filosofia de "Novo Existencialismo" ou "Existencialismo Fenomenológico".

Aclamado como gênio, no entanto, pouco depois a crítica já dizia que o seu sucesso e filosofia não passou de fogo de palha. Embora até hoje alguém ainda diga: " Raros são os livros que podem mudar sua vida, este é um deles".

Em 1956 Wilson explorava a psique do Outsider - o seu efeito sobre a sociedade, e os efeitos da sociedade sobre ele. Seu livro estruturado de forma a espelhar a experiência do Outsider: na sua sensação de deslocamento, ou de estar em desacordo com a sociedade. Estudo que analisa o papel social do "outsider" nas obras de vários autores, e na vida de personalidades da cultura, que viveram entre o século XIX e XX.

Entre elesAlbert Camus, Jean-Paul Sartre, Ernest Hemingway, Hermann Hesse, Fiódor Dostoiévski, William James, T. E. Lawrence, Vaslav Nijinsky e Vincent van Gogh.

Um resenhista destacou a importância desta obra ao analisar que o crescimento da sociedade de massa fez com que o Outsider se sentisse tanto influenciado por ela, como também muito sozinho, ao se ver isolado dos entusiasmos e certezas da multidão: "É muito legal ser um estranho, quando você percebe que está alienado da maior parte da humanidade, e que ninguém fala "sua língua", ou pensa ou sente como você, quando assim será melhor viver a vida a sua maneira".

Wilson era da classe trabalhadora e foi significativo que alguém como ele rompesse com o padrão de "Oxbridge", habitual da vida intelectual britânica em relação à criação cultural.

Tese de Wilson que à primeira vista parece simples: a modernidade deu origem a um novo tipo de pessoa que não acredita em dogmas e suposições dos outros ao seu redor e por isso o outsider não vai compartilhar com eles o tipo de morna e fé pragmática própria do mainstream.

Colin faz a análise sobre o mal estar existencial de alguns indivíduos perante os preconceitos, tabus e padrões sociais dominantes.

Fala daqueles que não se reconhecem nos padrões estabelecidos, ou por não se encaixarem nas expectativas alheias - por estarem à frente de seus respectivos tempos - e por isso recusam a aceitar o papel social que lhe é destinado, rebelde que são em relação as instituições básicas.

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Os outsiders sofrem do mal-estar proposto pelo filósofo cristão Kierkegaard: caracterizado pelo excesso de energia intelectual e uma nula capacidade de ação. O desajuste também um tema constante: podendo o outsider desejar que cesse para opor-se à sociedade - caracterizada pelo consumo desenfreado - massificadora dos sentidos e do intelecto - por isso ele vive um esvaziamento de valores de ordem ética e religiosa. Colin comparando o outsider ao outsider romântico e ao outsider existencialista. E ainda àqueles que estão na condição do estrangeiro, ou na condição do dessemelhante. Decorrente daí o sentido do isolamento que busca. Temas que no livro são colocados na perspectiva da liberdade do individuo, de um lado, e dos condicionamen-tos sociais, do outro, e de como isso influi nos desajustes sociais.

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Para o outsider romântico, ou existencialista, a realidade é asfixiante e cerceia a sua auto-expressão, daí o desejo de fuga. Quando assim a liberdade parece o maior dos fardos; analisa Wilson:

" O ideal de liberdade necessariamente implica em solidão, na qual o desajuste e a inconformidade se tornam mais evidente e mais agudos. A descida aos infernos é primordial para a tomada de consciência do outsider e sua reconciliação com a vida, e com o caos dominado pelo demônio. Despertar então significa tomar consciência do nosso próprio nada, do nosso completo e absoluto desemparo, pois enquanto o homem não se sentir horrorizado consigo mesmo, nada saberá a respeito de si mesmo. Caminhada onde se atribui ao outsider um poder sob suas dúvidas, no qual a ação prevalece sobre o intelecto "

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( O Outsider e seu momento de ruptura)

Ser um outsider pode tanto significar estigma e resultar em desajuste social ou existencial, e postura transgressora. Tanto mais quando se tratar da cultura americana, tão obcecada pelo sucesso. Aparece aqui o looser - aquele que não consegue participar satisfatoriamente da sociedade de consumo - que não se confunde com o outsider: porque este recusa-se a participar desta sociedade de consumo pois a despreza.

Embora ambos sejam tratados como o mesmo personagem, fracassados no seu desejo de inserção plena na sociedade. A origem deste mal-estar ou insatisfação podendo ser distinta: decorrente so looser não usufruir da sociedade de consumo, pois possui baixa capacidade de consumo, ou também por ter sofrido alguma estigmatização social. Insatisfação do outsider que decorre do fato dele deplorar os valores da sociedade de consumo, por achar seus frutos penosos.

Romances como o Nadador, de John Cheever - que trata da acomodação, decadência e valores fáceis de ruir, da classe média americana nos anos 50 - e A Noite dos Desesperados, de Raymond Caver (anos 30 onde surgem espetáculos que faturam em cima da desqualificação do ser humano, por força da lógica perversa do mercado de entretenimento) - aprofundam este estudo.

O desgosto de si mesmo, e o fugir de si mesmo, sendo denominador comum na definição que Wilson faz do que seja o Outsider. Mas fuga que se tornará inútil quando tudo que antes te fascinava agora te cerceia, para te colocar em xeque, embora prevaleça a inutilidade ou a irrealidade da fuga, pois a cidade não se deixa abandonar.

Por isso uma obsessão ou necessidade constante do outsider é a de estabelecer limites entre si e o outro. Eles os herdeiros históricos da chamada viagem " sem destino", realizada pela geração beat:

Saga dos sujeitos que optaram por uma desconfiança dos valores da sociedade de consumo americana, e empreenderam a fuga dos modos de vida estritamente produtivo e funcional, movidos pelo lucro e pelo prazer. O tema aqui sendo o do desequilíbrio entre o sujeito e o espaço:

quanto mais gigantesco e ameaçador lhe parecer o local onde este sujeito esta inserido, e os objetos que lhe rodeiam, mais ele estará entrincheirado e necessitado de forças internas para afastar este cerceamento e paralisação.

Por isso, segundo Colin Wilson, o Outsider é aquele que despertou para o caos que carrega consigo segundo uma consciência duplicada do estado das coisas. E um olhar crítico e sensível, mas amaldiçoado pelo excesso de clarividência. O que faz com que seu drama seja o da desesperança e da descrença.

( O que define o Outsider)

-> O Outsider exerce profunda observação sobre o espaço que o cerceia, o excluí, e por ele é excluído. Constata o jogo de falsidade, interesses velados e superficialidade pelo qual transcorre grande parte das relações sociais.

-> Observa seu conflito interno e o mal-estar gerado pelo sentimento de inadequação. Não teme o contato com suas feridas, ao contrário, ousa remexe-las.

-> Um de seus maiores medos é o de se deparar com a morte sem que seu problema existencial tenha sido devidamente resolvido. Sem dificuldades ou hesitação, ele abre mão das aparências, em busca da essência de tudo que é. Para isso sente a necessidade de se manter alheio aos pensamentos, costumes e opiniões do mundo burguês, uma vez que eles valorizam as coisas com as quais o Outsider não se vê atraído.

-> O Outsider é um profeta mascarado cuja salvação está em descobrir o seu propósito mais profundo e a ele se entregar. Ele não possui nenhuma inclinação para a doutrina do ajustamento e do engajamento.

Cine Astor
Enviado por Cine Astor em 30/09/2014
Reeditado em 04/04/2019
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