CAPITULO XVI
 
O Templo do Rei Salomão

1. Com o tempo, a Irmandade dos Filhos de Israel, na forma como Moisés a organizara, foi perdendo a característica de Confraria e se tornou uma nação como as outras. 1 Essa foi razão pela qual o Grande Arquiteto do Universo mandou que Salomão, filho de Davi, que o sucedera no trono, a reconstituísse com outro formato.2 Porque a sabedoria sagrada e a noção de Confraria, sob a qual a nação israelita havia sido fundada, precisava ser preservada.
2. Dessa forma, teve início a segunda fase da Fraternidade dos Obreiros da Arte Real, da qual Salomão foi o primeiro Grão – Mestre. 1 Essa fase teve inicio no ano de 1005 antes do Nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo o Grande Templo de Jerusalém como Loja base.[1]
3. Essa Loja, que agora congregava apenas uma parte escolhida dos Filhos de Israel, foi fundada nos canteiros de obras do Templo que Salomão construiu em Jerusalém para honrar o Grande Arquiteto do Universo. [2]
4. Em outras cidades de Israel, como Gezer, Megiddo e Hazor, Salomão construiu outros Templos menores, para sediar as Lojas do Oriente de Israel, mas nenhum foi tão grande e majestoso quanto  a o grande Templo de Jerusalém.
. 5. E desta segunda fase da Fraternidade de Israel, todos os Irmãos têm conhecimento, porquanto é dela que se originam a maioria das tradições que são cultivadas hoje na Arte Real.
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A sabedoria de Salomão

6. Assim que Salomão se firmou como rei de Israel ele orou ao Grande Arquiteto do Universo pedindo-lhe, que mais do que riquezas e poder, Ele lhe concedesse um coração justo e uma mente sábia para que ele pudesse reinar com Sabedoria e julgar com Justiça.

7. O Grande Arquiteto do Universo atendeu ao seu pedido e ele foi o mais sábio e justo dos homens, até então, nascido sobre a terra. 1 Essa sabedoria ele mostrou julgando o difícil caso das duas mulheres que disputavam uma criança recém nascida. 2 Porque ambas deram a luz às suas crianças, na mesma hora e local, e uma delas nasceu morta. 3 A mãe que teve a criança morta quis disputar com a outra a criança que sobrevivera. 4 E não se sabendo quem era a verdadeira mãe da criança que sobrevivera, Salomão mandou que se cortasse ao meio o recém nascido e se desse metade dele a cada uma das mães. 5 A falsa mãe concordou com a sentença dizendo que se ela não podia ter a criança viva para ela, era melhor que esta morresse. 6 Mas a verdadeira mãe preferiu renunciar a ela a vê-la morta. 7 E assim Salomão soube, pela demonstração do amor materno, quem era a verdadeira mãe.[3]
8. Essa foi uma demonstração da sua grande sabedoria, que depois foi comprovada pelos livros que ele escreveu.[4]
9. E ele a mostrou também na estrutura que deu ao reino de Israel, organizando-o em doze províncias, nas quais colocou doze governadores de sua confiança.1 Estes eram, respectivamente; Ben-Hur, Ben-Decar, Ben-Hesed, Benamidab-Bana, Ben-Gaber, Aminadab, Aquimaas, Baana, Josafat, Semei, Gaber, os quais ministravam o culto e forneciam ao rei e à sua corte todo o necessário para o seu sustento. 2 E assim Israel foi reorganizado politicamente, mas, na verdade, funcionava como se fosse uma grande Fraternidade, da qual Salomão era o Grão-Mestre e seus governadores, Veneráveis em suas respectivas Lojas.[5]
 
A construção do Templo


10. Depois Salomão escreveu ao rei Hiram, da Fenícia, uma carta nestes termos: 1“Sabe Vossa Majestade que meu pai prometeu erigir um templo ao Grande Arquiteto do Universo. 2 Mas as guerras em que ele se envolveu não o permitiram. 3 Mas eu tive o privilégio de reinar em paz, e portanto tenho condições de cumprir essa tarefa que o Grande Arquiteto do Universo me confiou.4 Então eu solicito a Vossa Majestade que me envie trabalhadores ao Monte Líbano para cortar toda a madeira necessária para essa construção, pela qual pagarei o preço que for combinado.”
11.O rei da Fenícia respondeu a Salomão nestes termos:“ 1Graças ao Grande Arquiteto do Universo que o vosso pai tenha deixado o trono para Vossa Majestade, que é sábio e virtuoso. 1Eu estou à vossa disposição e o servirei em tudo que necessitais para essa tarefa.2 Eu vos mandarei toda a madeira de cedro e cipreste que me pedistes. 3Eu as mandarei de barco para o lugar que indicastes para que possais transportá-las para Jerusalém. 4Em troca delas mandai-nos grãos e azeite suficientes para alimentar meu povo, pois nossa terra é pobre nesse mister e a vossa extremamente rica.”[6]
12. Então Salomão convocou trinta mil trabalhadores para cortar e acarretar as madeiras desde o Monte Líbano até Jerusalém, fazendo-os trabalhar em grupos de dez mil. 1E depois de cortadas as madeiras, ajuntou outros milhares de trabalhadores para aparelhar, transportar e dispô-las para a construção.
13. Depois mandou tirar pedras nas pedreiras, lavrando-as, desbastando-as e facejando-as, fazendo a umas pedras de alicerce, a outras pedras de canto e parede, a outras de acabamento, de sorte que todo material ficasse pronto para a grande obra do Templo.

14. Esses trabalhadores foram dispostos em três níveis porque eram ao todo cento e cinquenta mil, sendo uns os cortadores de madeira, os cabouqueiros, os aguadeiros e os serventes de todos os tipos; outros os cortadores e aparelhadores, que lavravam as pedras e as madeiras, sendo que muitos deles eram estrangeiros, vindos da Fenícia e do país dos gíblios, que eram famosos pelo trabalho na pedra: e outros, em número de três mil e trezentos, eram os que davam as ordens e supervisionavam os trabalhadores.[7]
15, E foi essa divisão do povo para construir o Templo de Salomão, uma das inspirações para a que a Arte Real adotasse a tradição de dividir a Loja Simbólica em Aprendizes, Companheiros e Mestres.[8]
16. Esse majestoso edifício foi construído no Monte Moriá, uma colina próxima ao Monte Sion.1 Esse terreno o rei David comprara de Ornan, o jebuzeu, quatrocentos e oitenta anos depois da saída dos hebreus do Egito, isto é, no ano de 1012 antes do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo.2 E sua construção durou sete anos, sendo o Templo consagrado no ano de 1005 da antiga era.[9]
17. O Templo tinha sessenta côvados de comprido, vinte de largura, trinta de altura e era todo feito de pedras lavradas, perfeitas em todas as faces, para que fossem assentadas sem argamassa e não se ouvisse, no interior do Templo, o barulho de instrumentos de ferro.[10]
18. Finas madeiras de lei, trabalhadas pelos carpinteiros, e artefatos de ouro puríssimo, trabalhados pelos ourives, também foram utilizados em profusão para compor cada detalhe do magnífico edifício, mostrando o quanto os Filhos de Israel haviam evoluído na nobre Arte Real em sua forma operativa.
19. Mas a face especulativa da Arte Real, continuava a ser estudada e desenvolvida em paralelo, e ela estava toda representada nos detalhes que ornavam o Templo e nas fórmulas geométricas que transpareciam em toda a construção.
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O Surgimento do Mestre Hiram

20. De Tiro veio um maçom, arquiteto-fundidor de obras de bronze, muito famoso, chamado Hiram.1 Ele era israelita por parte de sua mãe, que pertencia à tribo de Naftali e seu pai, já falecido, vinha da tribo de Dã. 2 Era muito hábil em arquitetura, mas sua principal habilidade era a metalurgia, pois ele sabia produzir com precisão as mais finas peças de bronze, prata e ouro.
3 Combinando essas duas ciências sagradas, Hiram produziu a mais perfeita obra de arquitetura que já havia sido feita na Terra, pois apesar dela ser inferior em proporções aos templos que os egípcios erguiam para os seus deuses, a perfeição estrutural, a beleza e a qualidade da obra, superava em muito as obras arquitetônicas produzidas pelo povo do Nilo e por outros povos da época.
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As Colunas do Templo

21. Hiram fundiu duas colunas de dezoito côvados de altura, ornadas por belíssimos capitéis, entalhados no alto delas. 22. E ornou essas colunas com medalhas, folhas de palma e remates de romãs (tudo feito em bronze).
23. Essas duas colunas foram postas no pórtico do Templo. 1A primeira coluna chamou-a Jakin e a segunda Booz.
2 Jakin é o que estabelece. Booz, o que fortalece. 3 Isso é, estabilidade e força, com isso querendo dizer que o Templo tinha estabilidade e era muito sólido.3 Significava também que a nação de Israel seria forte e estável como aquele Templo, bem como a monarquia de Salomão.

24. Os Irmãos operativos da Idade Média fizeram dessas duas colunas o seu ícone. 1 Todas as igrejas medievais eram ornamentadas com colunas semelhantes.[13]
25. Depois, Mestre Hiram fundiu um grande mar de bronze, sustentado por doze bois, também de bronze, distribuídos geograficamente, olhando para os quatro cantos da terra.
26. E nas bases que sustentavam esse mar de bronze entalhou figuras de anjos, leões, bois, querubins e palmas, (representando uma figura humana, pois era proibido pela lei mosaica a confecção de esculturas do corpo humano.
27. Fundiu também bacias de bronze, na quantidade de dez, que foram postas, cinco á direita, cinco à esquerda, e o mar de bronze, no lado, entre o oriente e o meio dia.
28. Além disso, foram fundidos igualmente os diversos utensílios de ouro e latão, tais como vasos, bacias, caldeirões, candelabros, panelas, o altar, as lâmpadas as pias para a água da ablução e todas as demais obras necessárias para o serviço do Templo.[14]
29. Todas essas esculturas e trabalhos em bronze e ouro, bem como a disposição deles dentro e fora do Templo só podem ser explicados com base na doutrina secreta a que Salomão teve acesso.
30. Pois os israelitas estavam proibidos de fazer qualquer tipo de escultura.1 Assim, não poderiam, justo no Templo consagrado ao Grande Arquiteto do Universo, violar esse preceito sagrado.
31. Porque, na verdade, o “mar de bronze”, os querubins, bem como as demais esculturas que ornavam o Templo, nada mais eram que uma representação do Cosmo na visão que Salomão Mestre Hiram receberam do Grande Arquiteto do Universo.
32. Refletia a crença de que o mundo havia emergido de um “mar primordial” e que o universo era planejado com uma estrutura pensada pelo Grande Arquiteto do Universo, e construído por uma Fraternidade de Obreiros, os chamados “Demiurgos”. [15]
33. A fórmula estrutural desse edifício e seus adereços buscavam recompor esse simbolismo. E esse simbolismo é o que fundamenta o desenvolvimento da Arte Real na sua concepção espiritualista. [16]
 
[1] Ou seja, o Novo Grande Oriente de Israel, com suas doze Lojas.
[2] Uma parte “escolhida” do povo, que era composta pelos sacerdotes e pessoas de importância no reino, que podiam participar do Conselho Real e do culto secreto, do qual o povo em geral era excluído. O povo passou a ser instruído nas sinagogas, ficando o culto no Santo dos Santos
exclusivo para esses “iniciados”.
[3] Reis, 3: 16 a 28. Episódio aproveitado no Ritual da Loja Capitular para simbolizar a prática da Justiça, que deve ser uma das virtudes do maçom.
[4]Atribui-se a Salomão o Livro de Eclesiastes e os poemas dos Cânticos dos Cânticos e alguns salmos.
[5]Reis 7: 19  Nas Lojas de Perfeição e Capitulares, alguns desses nomes aparecem nas lendas dos graus superiores, conectados com a punição dos assassinos de Hiram.
[6]Os textos aqui reproduzidos não são encontrados na Bíblia, mas são citados nas Crônicas de Flávio Josefo. Eles foram compilados no seu trabalho “Antiguidades dos Judeus”- Livro I.
[7]Cabouqueiros eram trabalhadores sem qualificação, que abriam valetas, ou trabalhavam em minas e pedreiras. Gíblios, tribo de mineiros e cortadores de pedras que viviam na Fenícia, sob o reino de Hirão I.
[8 Ou )seja, serventes e outros trabalhadores sem qualificação como aprendizes, artesãos como companheiros e supervisores como mestres.
[9]Reis, 6: 1 a 37. As datas aqui informadas são as que constam do calendário judeu.
[10]A proibição da utilização de ferramentas de ferro na construção do Templo de Salomão tem duas interpretações: uma histórica e outra esotérica. A histórica se refere ao período em os israelitas estiveram sujeitos á dominação dos filisteus. Estes proibiram os israelitas de executarem qualquer trabalho de forja, para evitar que eles fabricassem armas. A interpretação esotérica se refere á tradição ligada à Tubal Cain, filho do amaldiçoado filho de Adão, Cain, que foi o pai de todos os trabalhadores metalúrgicos. A metalurgia, dessa forma, para os antigos hebreus, seria uma arte de origem demoníaca.
[11] Essa arte, que se referia ao conhecimento sagrado, ou seja, a sabedoria arcana, é aquela que mais tarde foi desenvolvida pela grande tradição da Cabala.
[12] A arquitetura e a metalurgia, eram ensinadas no Egito como ciências sagradas, trazidas a terra pelo Deus Thot, ou Hermes, segundo os gregos. A tradição informa que Mestre Hiram aprendeu sua arte com os hierofantes egípcios.
[13]A representação dessas colunas são obrigatórias em todos os Templos maçônicos e o simbolismo que elas sugerem são muitos profundos para serem listados aqui. Os Irmãos que se interessarem pelo significado que elas representam podem consultar os vários trabalhos já publicados á respeito. Indicamos a obra “ O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica”, de Alex Horne- Ed. Cultrix, 1986.
[14]Reis: 8; 1 a 10
[15] Ou “anjos”, na tradição da Cabala, sendo eles os “mestres” inspiradores e os homens os seus operários construtores.
[16] Essa idéia é desenvolvida pelo Dr. Anderson em suas Constituições, mas já consta de vários manuscritos dos maçons operativos, entre o Manuscrito Dunfries e o Manuscrito Cooke. Por isso a Arquitetura é a arte que simboliza a prática da maçonaria em  seus ideias, já que ela visa a construção de um mundo de perfeito equilíbrio entre todas as suas partes.

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do livro O TESTAMENTO DO MAÇOM- NO PRELO