Acabei de ler "As Crônicas de Nárnia"
Levei sete semanas para ler "As Crônicas de Nárnia". As sete histórias escritas por Clive Staples Lewis, ou simplesmente C.S. Lewis, na década de 1950, que o fez famoso e um dos maiores escritores infantis em se tratando de fantasia. As li na ordem cronológica da história, não na ordem de publicação dos livros. Pra quem não sabe as duas ordens são diferentes.
Posso dizer que é difícil escrever sobre alguma coisa que te toca tão profundamente. E Nárnia fez isso comigo. Não só Nárnia em si, mas a forma como Clive conduz as histórias, sempre dando valor às passagens de tempo, dando valor às coisas que impressionam o leitor na história. Dando valor às crianças, que são essenciais neste mundo, e mostrando pra nós que Nárnia pode existir sim, dentro de cada um de nós, e que nós poderemos visitá-la sim um dia.
Em "O Sobrinho do Mago", somos apresentados à Aslam - como eu queria ao menos cinco minutos com ele! - e à Feiticeira Branca por Digory e Polly, duas crianças que moram em Londres, que acabam descobrindo que Digory é descendente de magos, que vivem na Inglaterra. Seu tio confecciona aneis verdes e amarelos que levam as crianças ao Bosque Entre Mundos. Nesse bosque há pequenos lagos, que levam a mundos diferentes. Um desses lagos é o de Nárnia, a princípio um lugar escuro, um nada, que ganha vida graças a Aslam, o Grande Leão, filho do Imperador de Além-Mar!
Em "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", cerca de sessenta anos se passam, Digory já é um idoso, professor renomado na Inglaterra, e se vê na obrigação de ajudar um casal de amigos, que está sofrendo com a Segunda Guerra Mundial. Ele abriga os quatro filhos desse casal: Suzana e Pedro, os mais velhos, Lúcia e Edmundo, os mais novos. Com a ajuda de um guarda-roupa construído com a madeira de uma macieira de Nárnia, os quatro chegam ao mundo fantástico e lá são coroados os quatro Grandes Reis de Nárnia, além de destruir a Feiticeira Branca, que havia instaurado um inverno que já durava cem anos.
Em "O Cavalo e Seu Menino", Shasta, um menino de Nárnia, encontra um cavalo falante e foge de seu tutor, que só o explorava. No caminho para Nárnia, encontra os quatro reis de Nárnia, em pleno reinado, numa viagem diplomata a Calormânia, um país inimigo de Nárnia. No final da história, Shasta descobre que é filho do rei da Arquelândia, país amigo e vizinho de Nárnia.
Em "Príncipe Caspian", Suzana, Pedro, Edmundo e Lúcia percebem que havia se passado 1300 anos desde a última vez que estiveram em Nárnia. Eles ajudam o príncipe Caspian X a assumir seu trono, tomado pelo rei Miraz, tio ambicioso de Caspian.
Em "A Viagem do Peregrino da Alvorada", três anos se passam em Nárnia. Suzana e Pedro são levados para a casa dos pais, já que a Guerra havia acabado. Edmundo e Lúcia são levados para a casa de seus tios e lá se encontram com o odiado primo Eustáquio. Através de um quadro, os três são levados para o mar de Nárnia e são salvos pelo navio Peregrino da Alvorada. Neste navio encontram Caspian e visitam as Ilhas Solitárias, com várias aventuras em cada uma delas. Ao fim, o leitor conhece o Fim do Mundo, onde o mar se encontra com o ceu, onde é a fronteira de Nárnia com o País de Aslam, o lugar imortal, que não tem fim.
Em "A Cadeira de Prata", Eustáquio e Jill, uma amiga de escola, são levados até Nárnia para salvar o príncipe Rilian, filho de Caspian, de um encantamento que já o possuía há dez anos. Os dois presenciam a morte de Caspian e a ida dele para o País de Aslam.
Em "A Última Batalha", o rei Tirian, bisneto do bisneto de Rilian, vê Nárnia ruindo diante de seus olhos por uma mentira contada por um macaco. Chega a hora de Nárnia ter um fim, e Aslam ajuda todos a chegarem à verdadeira Nárnia.
Tudo que eu contei acima é um grande resumo. Percebam que, para saber realmente como são as histórias, deve lê-las. Achei impressionante como Nárnia se constroi praticamente à sua frente cada vez que o autor a descreve. A beleza de cada momento importante, o humor presente em alguns momentos. As emoções que se conseguem passar são vividas a cada palavra. E o que é Aslam? Quem é Aslam? Que poder tem a presença dele, as palavras dele? "Pela juba do leão", essa personagem me fez gostar mais ainda de leões. De verdade, tive vontade de estar em Nárnia, de presenciar aquilo tudo, estar com todos eles.
Por outro lado, vale notar as referências bíblicas que Clive usou. O uso da maçã, o fruto proibido de Eva. "Filhos de Adão" e "Filhas de Eva", expressões usadas pelos narnianos para denominar os humanos. A comparação que Aslam chega a ter com Jesus. Referências ao Gênesis, ao Apocalipse, ao Dilúvio, enfim. Uma verdadeira Bíblia da fantasia, para quem deseja escrever para crianças uma das histórias mais atemporais de que se tem notícia.
Ramon Odriguez