Pelos caminhos da Vida e da Alma
Há um limiar muito sutil,quase a esgarçar-se na delicadeza de imagens,entre a prosa e a poesia de Vânia Diniz.
Isto,comprovo mais uma vez ao ler os dois volumes,editados pela Ottoni Editora:Pelos caminhos d vida(crônicas e contos) e Pelos caminhos da alma(poesias).
Vânia Moreira Diniz é sempre a sentinela do tempo,de seu próprio e do tempo alheio.A cada estimulação psicossocial,põe-se a campo.Sobretudo,defende minorias e fala de belezas.Transita,pois,numa trajetória riquíssima,nos campos do Senhor e nas rotas terrenas,registra tudo que encontra pela frente,a palavra é seu instrumento maior,associada à própria personalidade:um modo pleno de enxergar a via e muito pessoal.
No livro em prosa,fala no prólogo,que escrever-o que faz desde os sete anos-é uma necessidade absoluta:”intensa e intransponível”,sintetiza,”mais que um desejo.
Há escritores assim:escolhidos pelo dedo de Deus,não podem se furtar a essa missão...
Suas relações com a família são mui lindas..Sempre que leio algum texto em que fala do pai,do avô,dos manos colhidos cedo,deslumbro-me e já falei a ela da semelhança com meus próprios pensares e achares.Sou quase suspeita para falar dessa escritora,de tanto que dela gosto,sem conhecer pessoalmente sua figura,encantadoramente mostrada nas fotos que sorriem na Internet.
Há pouco,perdi o marido e ela ligou-me,de Brasília,para umas palavras de consolo.A voz tem uma textura de seda e veludo.Como a densidade do que escreve.
Em Pelos Caminhos da Vida,Vânia mantém a linha poética,mas densa:quando fala do nascer,afirma,com precisão:”a vida já começa com com a despedida”,para lembrar que deixamos a matriz para conhecer esse mundo velho...Tudo nele ,a fascina:””tudo me parece tão efêmero na vida que faz com que meu coração pulse pelas coisas mínimas e mais pueris,como um gesto,uma flor a desabrochar,um carinho,aquele especial beijo de ternura,o abraço que me faz vibrar a alma”...E é assim que ela nos fala de meses,como a nostalgia de janeiro e de da alegria de outubro,no qual nasceu,de autores,como Lobato,Artur da Távola...De Bezerra da Silva,de cidades,como Brasília e Rio de janeiro...Suas crônicas são pulsáteis qual a própria escritora...
Os contos,de tal forma consistentes,demonstram que ela mistura,sabiamente,realidade e ficção,a vida dos ouros à sua...Com maestria,prende o interesse o leitor...
Sábia mulher,num leque de características :poetisa,humanista,carinhosa,altruísta.Forte e doce...
Em Pelos caminhos da Alma,rasga-se em tirinhas preciosas para fazer a colcha de retalhos poética.
Para não roubar ao leitor a doçura das descobertas,transcrevo aqui,de "Quando me olhas Assim",os últimos versos:
(...)questiono a razão d Morte na Vida que vibra,
e admiro ,surpreendo-me e aprecio a simbiose espertacular que nos faz
seres sensíveis,humanos e materiais
quando me olhas assim..."
No prefácio de pelos caminhos da Vida,o português que mora na França(e com ela assina o Jornal Ecos),a chama magitralmente, de "Mulher orquestra".Isso diz tudo,sobre essa mulher estrelada e enganjada em si mesma e nos outros...
Belo Horizonte,12/09/2005