Questão de ética e sobrevivência
No romance Midwich Cuckoos, de John Whyndham, que deu origem a duas filmagens, em 1960 e 1995, com o título de Village of the Damned (A Cidade dos Amaldiçoados), são lançadas importantes questões: quando a nossa sobrevivência está correndo riscos, os valores éticos ainda são válidos ou devem ser deixados de lado? Até que ponto somos capazes de manter nossos princípios?
A história se passa em Midwich, pacata cidade do interior da Inglaterra. Em um dia aparentemente normal, os habitantes da cidade adormecem repentinamente,o que chama a atenção, mobilizando o Exército. Ao se aproximarem da cidade, percebem que quem entra adormece de forma instantânea.
Porém, os habitantes da cidade logo acordam, sem lembrar do que ocorreu. As únicas evidências do estranho incidente são sinais de que algo pesado esteve pousado na terra. Aos poucos, tudo parece estar voltando à normalidade quando algo estranho é observado: todas as mulheres de Midwich em idade fértil estão grávidas e, pouco tempo depois, dão à luz bebês aparentemente normais, mas dotados de características singulares: todos são muito parecidos entre si, com os mesmos olhos dourados.
Tal fato causa perplexidade em Midwich e Gordon Zellaby, um respeitado senhor da comunidade cuja filha, Ferrelyn, teve um desses bebês,compara-os ao cuco, um pássaro que põe seus ovos nos ninhos de outros, lembrando que os jovens cucos são capazes de tudo, até de matar para que sua espécie prevaleça. Neste ponto, Zellaby lembra que, em casos assim, a única solução possível é matar os jovens cucos.
Zellaby também argumenta que, se alguém quer destruir os habitantes de um lugar para se apoderar dele, tem duas opções: iniciar uma guerra ou introduzir pessoas de seu grupo entre os moradores do lugar almejado, o que facilitaria o processo de dizimação. Ele suspeita que o nascimento das crianças está ligado a alguma experiência.
Algum povo estranho a Midwich ou mesmo à espécie humana pode estar causando o nascimento das crianças com o objetivo de fazer sua espécie sobreviver.
Com o tempo, vai sendo observado que os bebês conseguem forçar as mães a fazer o que eles querem e que, quando um menino adquire um conhecimento, todos os outros meninos também o adquirem. Tal fenômeno também é visto entre as meninas e Zellaby diz que todos os meninos são Adão e as meninas, Eva. Assim como Deus criou Adão e Eva para dominar a Terra, as crianças teriam nascido com esse mesmo propósito.
À medida que vão crescendo, elas se revelam dotadas de estranhos poderes e de desejo de supremacia. Se alguém as contraria, elas forçam alguém a fazer algo contra sua vontade, usando o poder de suas mentes. Dessa forma, levam um rapaz a bater o carro contra um muro e outro a atirar contra si mesmo. As pessoas da cidade veem que as crianças são desprovidas de compaixão e entram em pânico.
Depois, descobre-se que o mesmo fenômeno havia acontecido em outros lugares e que as crianças tinham sido rejeitadas ou mortas.
Diante do medo, Zellaby toma uma decisão: sabendo que as crianças confiam nele, vai à escola onde elas são mantidas a pretexto de mostrar fotografias. Depois, ouve-se um estrondo. Angela, esposa de Zellaby, lê uma carta na qual ele diz que tinha pouco tempo de vida e que a lei da natureza era matar ou ser morto e que eles tinham vivido muito tempo num jardim pacífico mas que, se quisessem sobreviver, tinham que seguir as implacáveis leis da natureza.
Ao falar em jardim, Zellaby nos lembra do jardim do Éden, onde, antes de serem expulsos, Adão e Eva viviam em harmonia com os animais, sem ter que se preocupar com a sobrevivência. Fora do jardim, eles precisaram lutar contra as outras espécies para se manter vivos.
Sacrificando sua vida, Zellaby exerce um papel similar ao de Cristo: salvar a humanidade. Mas, enquanto Jesus salvou para a Vida Eterna, Zellaby se sacrifica para que a espécie humana continue vivendo e povoando a Terra.