"A identidade cultural na pós-modernidade” Hall,Stuart

RESENHA: "A identidade cultural na pós-modernidade”

“A identidade cultural na pós-modernidade”

HALL, Stuart. 11a ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.

Título original: "The question of cultural identity"

Stuart Hall em poucas linhas:

Nascido em Kingston (Jamaica) Stuart Hall desenvolveu seus trabalhos, se situando precisamente nos estudos das identidades, e do multiculturalismo. Durante sua vida realizou estudos voltados, para a desconstrução de estigmas criados no colonialismo, que ainda hoje se mantém presentes. Em seus estudos sobre identidade,ele nos mostra que as identidade- antes tidas como solidas e inflexíveis- tornam-se plurais com a globalização,e com a modernidade da sociedade. Em seus trabalhos sobre mídia, ele chegou à conclusão, de que a mídia possui um grande papel na veiculação de imagens, idéias, tendo o poder de marginalizar, derrubar, ou levantar estereótipos. A mídia se torna um espaço propicio para a disputa de espaço político(não mais uma disputa necessariamente bélica,mas sim,discursiva)Neste presente trabalho,o autor se mostra disposto a explicar passo a passo,essa desfragmentação das identidades,e como a globalização e o efeito da modernidade,pode atuar dentro dessa desfragmentação.

A identidade cultural da pós-modernidade

No começo desse livro, o autor trata de relatar a constante mudança das identidades humanas. O que antes era tido como hermético(identidade de gênero,raça,nacionalidade)agora se torna algo flexível e aberto.Stuart nos traz três respectivas concepções de identidades,apresentados aqui em três possíveis “representações” de sujeito:Sujeito iluminista,sociológico,pós moderno.

O sujeito iluminista se mostra como um sujeito centrado, que não se encontra em uma completa simbiose com seu meio social. é um sujeito centro em si mesmo,podendo ser classificado como “individualista”.

O sujeito sociológico se mostra um ser caminhante com a complexidade de sua sociedade. Se mantendo em contato com o “resto da sociedade”,ele se forma a partir da sua relação com pessoas e elementos,que possam a vir a ser julgados importantes para ele.Podemos dizer que esse sujeito,aparece em conjunto as constantes evoluções técnico e cientificas nascentes com a Revolução Industrial,entre os séculos XVIII e XIX.Com o advento da industrialização,as zonas urbanas se expandem,e muitas se tornam “ponto de encontro” de muitas culturas,etnias,liturgias,e etc.

O sujeito pós moderno para Stuart Hall,se mostra como uma “mistura” de varias influencias,tendo assim varias identidades.Essa múltipla identidade,podem vir a convergir uma com as outras,e ate mesmo divergir uma com as outras.Stuart alega,que não poderíamos ter uma identidade única,desde o nosso nascimento,ate a nossa morte.Por sermos bombardeados constantemente ,por varias influencias,e varia identidades cambiantes,sempre seria possível encontrar uma identidade que nos apeteça(seja essa identificação de modo perene ou temporário).

Hall define que, as sociedades atuais, são sociedades de mudanças constantes, ao contrario das sociedades tradicionais, onde os costumes e símbolos são valorizados e preservados, e as mudanças pouco perceptíveis. Essas alterações continuadas,são conseqüência da globolalização,que estreita múltiplas e diferentes áreas globais.Muitas vezes esse estreitamento,pode trazer um certo dano para culturas tradicionais de um certo local.A nível de exemplo,poderíamos ter um grande numero de línguas indígenas e africanas,que foram suprimidas por línguas estrangeiras,que foram impostas durante o processo de colonização e imperialismo.

No capitulo 5,Stuart Hall aborda uma suposta homogeneização das identidades nacionais,como forma de resistência a inteferencias exógenas.Para ele,”a homogeneização é o grito angustiado daqueles que acreditam que a globalização,veio para solapar as identidades e unidades nacionais”(Hall,Stuart).Essa busca incessante,por um ideal de “pureza”,é um dos principais combustíveis para a formação de políticas xenofobicas,sendo contrarias ao grande fluxo migratório.

Qual poderia ser o motivo dessa grande “onda”de imigrantes?Países que antes foram colonizados pelas potencias européias,sofreram com o constante sucateamento da política imperialista,e assim sendo,tiveram que sair de seu país de origem, com intuito de obter uma melhor condição de vida.Em resposta a instalação desses imigrantes,grupos étnicos ditos “superiores”,apresentam series de movimentações e medidas,que venham barrar a entrada e a permanência dessa dita “minoria”.O curioso é que,muitas dessas identidades nacionais “puras”,são fruto de uma imaginação,como bem diz Stuart Hall.Não existe uma única identidade,como um objeto inato,stricto sensu .Pela visão de Hall,é mais certo dizer que existem varias identidades que são aglutinadoras e convergentes.

Stuart Hall no terceiro capitulo do livro,traz a visão do uso das identidades,com um grande combustível político.Ele nos conta a historia de Bush,que ao estar com a intenção de restaurar uma maioria conservadora,dentro da Suprema corte americana,ele encaminha um nome de um juiz negro chamado Clarence Thomas,portador de idéias conservadoras.Fazendo isso,Bush faz um “jogo” com as identidades em questão,já que negros apoiaram candidatura de Thomas(por ele ser negro).Brancos(conservadores)também o apoiaram,pois ele tinha idéias contrarias as idéias auto afirmativas.O ator ao nos contar essa pequena historia,nos mostra o quanto essas identidades eram contraditórias,e que elas se movimentavam de maneira mutua,mostrando que a natureza política se mantém fragmentada- indo alem da consciência de classe estabelecida pela lógica marxista.As identidades se mostram plurais,e a briga política não se da apenas em questão ao capital monetário.

Este livro de Stuart Hall,pode ser definido como uma bussola.Ainda nos encontramos em constantes debates sobre raça e racismo.Somos ainda,acometidos pelo racismo e por movimentos de intolerância sexual,religiosa,cultural.É importante levarmos o debate sobre as multiculturas existentes em nosso espaço.Não se pode negar,uma necessidade de estabelecimento de uma convergência cultural e social,entre diferentes atores de nossa sociedade.Porem,é necessário perceber que essa convergência,não se traduz em suprimir ou aniquilar umas as outras.

Raphael MUKUMBI Lisboa
Enviado por Raphael MUKUMBI Lisboa em 04/07/2014
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