BARBA ENSOPADA DE SANGUE

SÉRIE: DESCONSTRUINDO A CRÍTICA DE ALUGUEL

LIVRO: BARBA ENSOPADA DE SANGUE

AUROR: DANIEL GALERA

EDITORA: CIA DAS LETRAS / 2012

Visitar a Livraria Saraiva, seja onde for, é como entrar numa Blockbuster literária. São livros de autores celebridades como Pedro Bial, Lobão, Fernanda Torres, etc. Além deles, encontramos uma fartura de biografias e edições sobre dragões, ficções com ares medievais, história de vampiros, narrativas de psicopatas caricatos, livros de amor e toda a quinquilharia produzida para um “novo público”. Os melhores livros da Saraiva não ficam nos balcões de destaque, mas empilhados no chão como indigentes das letras.

Obrigo-me a superar qualquer preconceito intelectual que ainda habite o meu universo e compro o título de um desses decantados jovens autores, alardeados como finalistas e vencedores dos mais significativos prêmios literários (nem sempre um marketing sincero, é preciso filtrar). Saio da Saraiva carregando “Barba ensopada de Sangue”, o romance do enaltecido Daniel Galera.

Um protagonista sem nome, cujo estopim da história nasce no suicídio anunciado do pai. Ao mesmo tempo que informa a decisão de se matar, o pai faz o filho prometer que sacrificará a cadela de estimação assim que ele consumar seu intento. O filho promete, mas não cumpre. Ao contrário, adota a cadela e parte com ela para Garopaba com o objetivo de desvendar o mistério ancestral que envolve o assassinato do avô naquele litoral catarinense. Um elemento interessante acompanha o protagonista, ele sofre de uma doença que o faz esquecer o rosto das pessoas e impede que as reconheça mesmo depois de manter contato.

Somados os ingredientes, talvez pudesse se descortinar uma bela trama. Infelizmente, não é o que acontece. Escrito em terceira pessoa, entremeado por diálogos abundantes, o livro não chega a lugar nenhum e parece se perder até do eixo principal, buscando um recurso bobo e pouco criativo para a conclusão do enredo. Durante o decorrer do calhamaço de 422 páginas, somos conduzidos pela rotina vazia do principal personagem, confirmamos o complexo de corno causado por ter perdido uma namorada para o irmão, testemunhamos a readaptação da cadela ao novo dono e passeamos pelas praias invernais de Garopaba através de descrições intermináveis. Um detalhe intrigante nesta nova geração artificial de jovens autores é que a confecção do romance para eles aparenta ser mais um ato de descrever do que o de contar.

Ao término da leitura de “Barba ensopada de Sangue” fica a nítida impressão de que não lemos um romance, mas corremos os olhos por um folder turístico.

Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 17/05/2014
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